Primeiro amor na casa ao lado (degustação)

Primeiro beijo da discórdia

Assim, ele naturalmente se tornou um jovem introvertido que encontrava conforto em jogos de videogame e na música. Foi por volta dos doze anos que começou a acompanhar bandas de rock e teve interesse em aprender a tocar guitarra, então seus pais o matricularam em aulas particulares. Ele também fez dois amigos na escola, os únicos de toda a sua vida escolar: Jesse Avelino, o filho dos donos de um mercadinho perto da escola, e Kevin Nolasco, que era filho de mãe solteira e fazia bicos lavando cachorros em um pet shop para pagar o aluguel do velho apartamento onde viviam. Jonathan era o único "bem de vida" dentre os três, por isso os ajudou a comprar instrumentos, e juntos montaram uma banda de garagem que fazia covers de seus artistas favoritos. Até faziam algum dinheiro tocando aqui e ali em festinhas da escola, mas toda a renda ia para cigarros e bebidas. Eles eram definitivamente os alunos problemáticos da escola. Os pais de Jonathan diziam que isso era apenas uma fase e torciam para que ele se tornasse responsável "como Vicente" um dia. Não havia nada que ele odiasse mais do que essas comparações.

Vicente era, de fato, muito responsável. Além de ser o presidente da turma, suas notas eram sempre acima da média e ele não fazia coisas erradas como fumar ou beber. Ele também não dava qualquer problema no que dizia respeito a namoros; seus pais estavam sempre aliviados porque ele andava com um grupinho de meninas educadas e responsáveis, e todas eram suas melhores amigas — no fundo, seus pais sonhavam que ele fosse namorar uma delas. Sendo assim, na adolescência, as diferenças entre os dois vizinhos cresceram ainda mais.

Não era como se eles se odiassem; na verdade, era como se ignorassem a existência um do outro. Ou pelo menos era isso que diziam...

Vicente tinha saído do banho naquela noite e usava seu roupão da Chanel e rolos coloridos nos cabelos loiros. Toda noite ele colocava "Like a Virgin" da Madonna para tocar no rádio com CD e usava sua escova de cabelos para performar diante do espelho. Ele estava muito empolgado enquanto admirava seu visual e fazia caras e bocas, então não percebeu que seu vizinho estava sentado na janela fumando. A janela do quarto de Jonathan era lado a lado com a dele, ambas no segundo andar das casas. Como não ficavam muito distantes, os dois conseguiam ver dentro do quarto um do outro relativamente bem. Assim, Jonathan estava observando seu show particular enquanto fumava descansadamente. Ele não disse uma palavra sequer, mas havia um sorrisinho no canto de seus lábios. Só não se sabia se era de deboche ou outra coisa.

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Vicente estava fechando o portão de sua casa quando olhou para o lado e viu Jonathan fazendo a mesma coisa. Ele ficou um tanto confuso e então deu uma olhada no relógio em seu pulso para verificar o horário, mas realmente eram sete da manhã. Aquilo só podia ser uma miragem; aquele garoto chegava na aula depois das nove todos os dias...

— O que você está olhando? — Jonathan perguntou, ao ver o outro com os olhos arregalados.

— Você está passando bem? Nunca te vi acordar cedo antes.

Jonathan pendurou a mochila no ombro, olhou para ele como se não fosse responder e apenas saiu caminhando na direção da escola. Ainda em choque, Vicente o acompanhou um pouco mais atrás. Enquanto o observava, não conseguia deixar de pensar que ele tinha um porte bom: era alto e magro, com a pele pálida e os cabelos bem escuros. Tinha um visual que oscilava entre "doente" e "misterioso", e por algum motivo as meninas de sua sala o achavam atraente. No entanto, usava o uniforme de forma desleixada, os tênis sempre encardidos e rabiscados, e as unhas pintadas de preto com o esmalte descascado na maioria delas.