VII

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Um pensamento insistente perseguia o padre Sérgio havia algumas semanas: era certo submeter-se àquela situação na qual se encontrava, não tanto por mérito próprio, mas por obra do arquimandrita e de seu superior? Tudo começou após a recuperação do garoto de quatorze anos; daquela época em diante, a cada mês, a cada semana, a cada dia, Sérgio sentia sua vida interior aniquilada e substituída pela vida exterior. Era como se o tivessem virado às avessas.

Sérgio percebia que era um instrumento para atrair visitantes e donativos ao monastério, e essa era a razão pela qual seus superiores o cercavam de condições que favoreciam ao máximo sua atividade. Por exemplo, já não lhe davam a mínima chance de executar qualquer tipo de trabalho. Abasteciam-no de tudo o que poderia ser necessário e dele exigiam apenas que não privasse os visitantes da bênção. Para sua comodidade, estipularam os dias nos quais receberia visitantes. Montaram um recinto para os homens e um espaço cercado por uma balaustrada para que as mulheres não se atirassem sobre ele e o derrubassem, um espaço no qual pudesse dar a bênção aos que chegavam. Se lhe dissessem que era necessário às pessoas, que para cumprir a lei do amor cristão não poderia negar-se aos pedidos de vê-lo, que afastar de si as pessoas seria um ato cruel, ele não poderia deixar de concordar; mas, à medida que se entregava a esse tipo de vida, sentia que o interior tornava-se exterior, que nele se esgotava a fonte de água límpida, que seus atos estavam voltados cada vez mais aos homens e não a Deus.

Admoestando as pessoas ou simplesmente as abençoando, orando pelos doentes ou dando conselhos sobre o sentido da vida, aceitando os agradecimentos daqueles a quem ajudara com a cura — como lhe asseguravam — ou com ensinamentos, ele não podia deixar de se alegrar e de imaginar os efeitos de sua atividade, a influência que exercia sobre as pessoas. Imaginava a si próprio como um facho de luz ardente e, quanto mais pensava nisso, mais sentia o enfraquecimento, a extinção da luz da verdade divina que nele ardia. "O que faço por Deus e o que faço pelas pessoas?" — essa era a pergunta que o atormentava constantemente e para a qual nunca tinha resposta, não porque não pudesse, mas porque não se resolvia a respondê-la. No fundo da alma, sentia que o diabo substituíra toda a sua atividade voltada a Deus pela atividade voltada aos homens. Sentia que, se antes era difícil apartar-se da solidão, agora era a solidão que se tornava um peso. Os visitantes incomodavam-no, cansavam-no, mas no fundo da alma alegrava-se com eles, alegravam-lhe os elogios com os quais o cercavam.

Houve uma época na qual decidira ir embora, esconder-se. Havia até mesmo planejado como faria. Separou uma camisa de mujique, calças, um cafetã, um gorro. Explicou-se dizendo que precisava das roupas para doar aos pedintes. Mas guardou-as para si, arquitetando um meio de vesti-las, cortar os cabelos e partir. Primeiro, pegaria o trem, andaria trezentas verstas, desceria e seguiria pelas aldeias. Indagara de um velho soldado o melhor caminho, como seria recebido, como o hospedariam. O soldado disse-lhe como e onde seria melhor recebido e hospedado, e era assim mesmo que o padre Sérgio queria fazer. Certa noite, chegou até a se vestir com a intenção de partir, mas não sabia o que era melhor: ficar ou fugir. De início ficou indeciso, depois a indecisão passou e se adaptou, submeteu-se ao diabo, e só as roupas de mujique lembravam-no daquela ideia.

A cada dia que passava, mais e mais pessoas afluíam e cada vez menos tempo sobrava para as orações e o fortalecimento da alma. Às vezes, em instantes de lucidez, imaginava-se como um lugar onde antes houvera uma fonte. "Havia uma débil fonte de água límpida que corria silenciosa dentro de mim, através de mim. Aquela era a verdadeira vida, no tempo em que ela" — sempre recordava extasiado aquela noite e aquela que se tornara a madre Ágnia — "me seduziu. Ela provou daquela água pura. Mas desde então não houve tempo para acumular água, com tantos sedentos que se achegam, apertam, empurram uns aos outros. E a tudo vão derrubando aos trambolhões, reduzindo tudo a lama." Assim pensava nos raros instantes de lucidez; mas seu estado habitual era de fadiga e de comoção diante da própria fadiga.

Padre Sérgio (1898)Onde histórias criam vida. Descubra agora