-"Tens de manter o foco."- Thomas aproximou as suas caras.- "Se sentir que a tua cabeça não está onde devia estar, nada disto vai para a frente."

-"Não te admito!"- Helena tentou afastar o Shelby que só refirmou as mãos à volta da sua cara. O aperto era forte e constante.

-"Eu fiz da tua vingança a minha vingança, love. Mas não penses por um segundo que te vou deixar entrar naquele edifício dessa forma."-Helena tentou mais uma vez soltar-se em vão.- "Não sou homem para te ver caminhar em direcção à tua morte, juro-te que a terra vira o inferno antes disso acontecer!"- Thomas tinha o tom de voz ligeiramente elevado e as pupilas dilatadas. Helena notava o seu peito subir e descer com mais rapidez, sabia que ele iria até ao fim deste mundo e do próximo por si.

-"Esta vingança é um direito meu por nascença e nem tu nem ninguém me vão tirar isso!"- Helena gritou na cara de Thomas.

-"Então faz dela a tua prioridade!"- Thomas gritou de volta esquecendo-se onde estava, no momento a seguir todo o corredor parou olhando para os dois que se levavam sempre ao extremo. Ouviram ao longe o 'shhh!' de uma enfermeira que os tirou do transe e chamou de volta à realidade. Thomas arranjou o sobretudo e passou a mão na boina prendo-a bem na cabeça. -"Pega nas tuas coisas, vim aqui para te levar de volta."

-"Eu não vou a lado nenhum."- Helena endireitou a postura e abanou fervorosamente a cabeça.

-"Sabes que dia é hoje, love?"- Tommy mostrava frustração e desilusão na sua postura corporal. A pergunta fez a morena tirar alguns segundos para depois fechar os olhos com força.-"Perdeste mesmo a noção da porra do tempo."- Thomas deixou transparecer um sorriso triste enquanto sentia as entranhas revirarem.-"Vamos ter de começar sem ti?"

Thomas esperou largos segundos por uma resposta que nunca saiu da boca de Helena. Por muito que a amasse não ia esperar mais. Olhou uma última vez para ela ressentido com toda a situação porque se via naquela posição novamente. Antes de partir chegou perto dela e disse apenas num tom audível para Helena.

-"Se fosse eu naquela cama, farias o mesmo por mim?"- Thomas arrancou antes mesmo de Helena fazer alguma coisa, deixou-a chocada e com o peito ainda mais apertado. Aquelas palavras tinham sido como facadas no seu coração. Lentamente abriu a porta do quarto e voltou a ver a figura de Alfie inanimado e dependente do ventilador. E como se sentia culpada por o deixar mas tinha de ir. Thomas tinha razão, a sua cabeça, o seu coração não estavam focados na maior e mais importante provação da sua vida. Mas o facto de deixar Alfie e algo acontecer prendia-lhe os pés ao chão. Via-se novamente dividida e viajava nos pensamentos. Que merda de vida, pensou ela. Aproximou-se da cama voltando a pegar na sua mão que beijou demoradamente e deteve-se um momento.

-"Espera por mim."- Acariciou a sua cara ao de leve, engoliu o choro e saiu por fim do quarto. Ao descer as escadas e chegar à entrada do hospital deteve-se novamente por breves instantes. Uma repentina correria de enfermeiras escada acima chamou a sua atenção mas sabia que se voltasse a subir não ia descer e guiou-se pelo caminho anterior.

Sentia que estava a trair Alfie mas não tinha escolha. Thomas tinha chegado a Portugal com a intenção de acabar o que tinha começado e para isso acontecer precisava da ajuda do homem mais perigoso do país. Joaquim, que a tinha criado como uma filha. No seu interior o desejo de vingança pelos seus pais nunca tinha desaparecido e o destino favorecia-a em todos os sentidos. No amor e na vendetta.

No pub as movimentações eram notórias, conseguia perceber a presença de alguns homens de Alfie e dos homens habituais do seu tio que se mostravam ligeiramente agitados. Faltava apenas um dia para o comício. Caia-lhe a realidade de que muito em breve, seria o tudo ou nada. Aproximou-se da porta e pode ouvir o que se passava do lado de dentro. O ambiente era pesado, o silêncio audível e Helena esperou.

My Golden Gangster.Where stories live. Discover now