Que frustrante!

    A dor no meu peito apenas aumentava e as lágrimas não paravam de cair de meus olhos. O pior era aquele homem presenciando aquele momento.

— O que foi? Pensei que ia dizer algo.

— Por que? — Ele pareceu não ouvir. — Me atormentando com algo tão-

— Bem, você quem começou. Vamos fazer assim: a tua mãe vai estar aqui daqui a nada, e acho que não queremos explicar porque estás aí de joelhos no chão chorando, não é? — Disse, enquanto encarava seu relógio de pulso, e depois a mim. — Bem, podemos sempre dizer que você se converteu, finalmente e tá aí orando. Imagina? Ela ficaria tão feliz.

    Sentia tanta raiva que a minha cabeça começou a doer. Antes que eu fizesse alguma besteira, levantei-me e comecei a caminhar lentamente para as escadas que levavam ao único lugar onde eu podia verdadeiramente desmoronar, sozinho, como sempre fui. Sem olhos pra ver, sem bocas para julgar.

— Ah, confio em você para guardar meu segredinho. Prometo não te atormentar mais com o caso da pequena Bea.

    Não parava de subir as escadas enquanto ele falava, fazendo perceber que para mim já não importava. Ele podia fazer o que ele quisesse, já não importava. Antes que pudesse fechar a porta do meu quarto, ouvi a voz da minha mãe. Era como se uma pequena luz surgira no meio da escuridão que meus olhos viam. Quis correr para seus braços, chorar como uma criança, contar-lhe tudo que me matava por dentro, mas perdi toda a força, quando ouvi um gritinho de alegria ao ser recebida por seu marido.

— Talvez seja mesmo melhor se ela não souber o tipo de pessoa que você é. — Suspirei e fechei a porta sem fazer muito barulho.

    Eu nunca tinha deixado de me sentir culpado pela morte da Sky, mesmo minha mãe dizendo que eu não era, ou qualquer outra pessoa, mas eu era, não era? Eu magoei ela e nem tive tempo de contar que estava mentindo... éramos apenas crianças com muitos sonhos e com uma mente tão cheia de imaginação e inocência. Nunca poderia ser apagado da minha memória seu sorriso dissipando quando disse aquelas palavras estúpidas, tudo porque eu estava envergonhado.

    A minha cama convidava-me a ir ter com ela e sair daquele chão frio. Não recusei. A minha mente estava uma confusão. Encostei o meu corpo lentamente no colchão e as lágrimas ainda insistiam em tomar conta do meu rosto. Molhei a almofada com elas quando afundei o meu rosto nela. Queria esconder a minha vergonha, meu medo, minha raiva, tudo. A imagem daquele corpo caído, a chuva forte que molhava as nossas roupas estava destruindo o meu espírito. Consegui acabar com a vida de todos com poucas palavras, em um único dia.

    Já passavam das onze. Eu ainda estava acordado olhando para o teto e sendo arrasado por memórias dolorosas que ainda habitavam em minha consciência, e pela culpa. Poucas horas antes, Paula bateu à minha porta. Esqueci de a trancar, então fingi estar a dormir. Ela entrou em silêncio e ouvi passos delicados até a minha cama. Seu toque amoroso pelos meus cabelos era a única coisa boa que acontecera naquele dia.

— Como vou fazer a prova amanhã? — Sussurrei para o ar. Apanhei o celular, mas não tinha nada que eu pudesse fazer ou alguém com quem falar. — A Olívia! Ela- ah, não dá...

    Era tão ridículo e incapaz de tentar resolver as coisas com ela. Esperava apenas que a Olívia agisse, e enquanto isso não acontecer, continuaria a fugir, como um covarde. Por mais que tenha falado mal da coitada, eu não podia negar que a forma como a via estava mudando ou que eu queria poder despejar aquele amontoado de carga que a minha alma carregava. Era errado eu querer alguém para dividir as minhas dores e fardos? Talvez, a pergunta correta seria porque a Olívia era a primeira pessoa que me vinha à mente.

    Antes que percebesse, já passavam das quatro. Queria que tudo acabasse. Por que não acaba? Por que eu ainda tinha de sofrer? Meus olhos já não aguentavam. O peso do cansaço e da dor mental me obrigaram a fechá-los, com a esperança de poder dormir, e quem sabe, não voltar a acordar.

— Gabriel. — Não pude reconhecer a voz, pois ainda estava sonolento; via apenas um clarão que me obrigava a manter os olhos semiabertos. — Filho. Vamos, por que ainda não levantaste? Vais chegar atrasado para a prova. Ficaste a estudar até tarde?

— Não... vou... — Bocejei e voltei a acomodar-me da cama, dando costas para ela.

— Como assim não vou? — Ela soou impaciente. — Levanta-te! Tens trinta minutos para estares pronto. Vou esperar-te para irmos juntos.

    Ela saiu do quarto e eu, bem fiquei assustado e levantei-me no mesmo segundo. A mamãe raramente se estressava, ou se irritava, ainda menos quando eu era o assunto. Estava tão atordoado com as ordens dela, que por breves minutos, não me lembrava do motivo por ter perdido o meu sono na noite passada. Faltando sete minutos, dos trinta que ela me tinha dado, eu já estava pronto e, tive de comer às pressas, porque era inadmissível eu sair de casa sem me alimentar.

    Deixamos a casa e entremos o carro. Podia ir a pé, mas ela insistiu em levar-me para não me atrasar ainda mais. O caminho até o colégio foi silencioso. Não podia negar, estava soando frio. Sentia como se ela estivesse desapontada comigo, e aquele silêncio, de alguma forma, confirmava aquilo.

— Gabriel.

— Sim? — Ela encarou-me por ter respondido tão rápido e prontamente.

— O que aconteceu contigo? Ontem não ti vi o dia inteiro. O teu pai disse que estavas a estudar e não querias ser incomodado, por isso não o fiz. Mas, claramente não estás bem.

— Não é nada, mãe. — Ela soltou um longo suspiro e continuou.

— Gabriel, não carregues tudo sozinho. Sabes que podes sempre conversar comigo, não sabes? — Assenti. — Seja o que for que te incomoda, eu não quero que interfira na tua saúde e na tua vida, então, se for muito complicado para você, vamos resolver juntos, sim?

— Sim. Desculpa. — Ela estacionou no portão da escola.

— Boa sorte. — Paula aproximou-se de mim e abraçou-me. — Eu te amo.

— Também te amo.

    Retribuí o abraço, e saí correndo. Estava com poucos minutos de atraso, mas sendo o período mais importante do ano, não podia perder um segundo se quer. Passei por algumas salas e as provas já estavam sendo distribuídas. Finalmente cheguei na minha, que por algum motivo era uma das últimas salas. Ordem alfabética, né?

— Bom dia. — Disse ofegante. — Desculpe pelo atraso.

— Bom dia, Gabriel, entre. — Fiquei feliz em saber que a professora responsável pela minha turma era a senhorita Tesfaye e que ela se lembrava de mim.

    Sentei-me na frente, o que não era algo comum, mas o único lugar livre era ali, então não havia muito que eu pudesse fazer. A professora colocou a prova em minha mesa e inclinou-se discretamente em minha direção.

— Está tudo bem? — Assenti, ainda recuperando o ar. — Entendo. Boa sorte, Gabriel. — Sussurrei um obrigado, e então ela permitiu que começássemos a trabalhar.

Quero bater no pai do Gabriel, e abraçar meu neném 🥲Espero que tenham gostado!

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Quero bater no pai do Gabriel, e abraçar meu neném 🥲
Espero que tenham gostado!

Beijos e abraços quentinhos! (⸝⸝ᵕᴗᵕ⸝⸝)

Meu OceanoWhere stories live. Discover now