CAPÍTULO 36

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Lauren Jauregui Point Of View

A casa do pai de Camila não é a mansão que eu esperava, mas uma casinha geminada de arenito vermelho, em Beacon Hill, o que imagino ser o equivalente a uma mansão quando se trata de Boston. O bairro, no entanto, é lindo. Já estive em Boston várias vezes, mas nunca nesta área chique, e não posso deixar de admirar a fileira de casas belíssimas do século XIX, as calçadas de tijolos e os antigos postes de lampião a gás ladeando as ruas estreitas.

Camila mal fala uma palavra durante o trajeto de duas horas até a cidade. A tensão emana de seu corpo sob a roupa social em ondas constantes e palpáveis, o que só me faz ficar mais nervosa. E sim, digo sob a roupa social, porque ela está de calça social preta, uma camisa de botão impecável, blazer feminino preto e uma pequena abertura na camisa que deixa um lindo decote. O tecido caro envolve seu corpo como algo saído de um sonho, e nem a cara feia constante é capaz de reduzir sua sensualidade.

Aparentemente, seu pai exigiu que usasse algo assim. E quando Alejandro Cabello descobriu que a filha iria acompanhada, também pediu que me vestisse formalmente, daí o meu vestido azul de festa, que usei no festival de primavera. O tecido sedoso vai até o joelho, e combinei com sapatos prateados de salto dez que fizeram Camila sorrir quando apareceu à minha porta, pois segundo ela agora talvez fosse capaz de me beijar sem ter que dobrar o pescoço.

Somos recebidas à porta não pelo pai de Camila, mas por uma loura bonita num longo vermelho. Também está com um casaquinho de renda preto de manga comprida, o que me parece estranho, já que a temperatura dentro de casa está a um milhão de graus. Juro, está muito quente aqui, então faço questão de tirar rapidamente meu sobretudo na antessala elegante.

"Camila" Cumprimenta a mulher, calorosamente. "Que bom conhecer você. Finalmente. "

Aparenta estar na casa dos trinta, mas é difícil julgar, porque tem o que costumo chamar de "olhos velhos". Aquele olhar profundo e experiente que revela que uma pessoa que tem a experiência de diversas gerações. Não sei por que acho isso. Nada em sua roupa elegante ou no sorriso perfeito sugere que tenha passado por alguma situação difícil, mas a sobrevivente em mim logo sente uma conexão com ela.

Camila responde com um brusco, mas educado: "Bom conhecer você também...? ".

Ela deixa a frase no ar, e os pálidos olhos azuis da mulher tremulam de infelicidade, ao perceber que o pai de Camila não tinha dito a filha o nome da namorada.

Seu sorriso vacila por um instante, antes de reaparecer. "Cindy" Ela completa a frase. "E você deve ser a namorada de Camila. "

"Lauren" Apresento-me, apertando sua mão.

"Muito prazer. Seu pai está na sala de visitas" Anuncia ela a Camila. "Está muito ansioso para ver você. "

A bufada de sarcasmo que vem da direção de Camila não passa despercebida nem para Cindy nem para mim. Aperto a mão da minha namorada num aviso silencioso para ser gentil, perguntando-me o tempo todo o que ela quis dizer com "sala de visitas". Sempre achei que a sala de visitas fosse onde as pessoas ricas se reuniam para beber xerez ou conhaque antes de passarem ao salão de jantar de trinta lugares.

Mas o interior da casa é muito maior do que parece pelo lado de fora. Passamos por duas salas — uma de estar e outra também de estar — antes de chegarmos à sala de visitas. Que parece... outra sala de estar. Penso na casa apertada dos meus pais em Ransom e em como aqueles míseros três cômodos quase os faliram, e sinto uma onda de tristeza. Não me parece justo que um homem como Alejandro tenha todas estas salas e o dinheiro para mobiliá-las, enquanto pessoas boas como os meus pais têm que trabalhar tão duro para manter um teto sobre a cabeça.

O ACORDO - CAMREN (G!P)Where stories live. Discover now