A Ordem da Funda

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Apavorada e confusa, Estrela andou de ré até a parede. Encolheu-se de medo, enquanto Suvenir instigava as crianças de inverno contra ela. As refugiadas, em menor número, não sabiam o que fazer. Tudo aconteceu tão rápido!

De repente, a mão de Suvenir, que apontava para Estrela, foi atingida com violência por um projétil. A garota gritou, agarrou o braço inerte e saiu correndo. Aturdidos, todos olharam ao redor e se depararam com Franco, de pé sobre uma das mesas do refeitório. Ele tinha na mão uma funda. Girou-a no ar fazendo vrummm vrummm.

- Alguém mais?

As crianças se afastaram de Estrela. Franco voltou-se para Mildred e seu sorriso perpétuo.

-Fora! - Ele bradou.

- LP 18... Não pode fazer nada contra mim. Sou apenas um holograma. Querendo você ou não, vou ficar aqui vigiando os seus passos.

-Ah, é?

Franco olhou ao redor e encontrou o que procurava: a caixa de energia. Toda morada tinha uma, oculta entre o alçapão (por onde as naves desciam para capturar as crianças), e a claraboia (por onde as falsas mães apareciam para seus filhos). A única diferença era que na morada de inverno, havia um lustre proeminente a encobri-la.

Ele escalou o toldo branco como um malabarista e saltou sobre o lustre. As crianças gritaram quando este balançou perigosamente sobre suas cabeças. Elas debandaram para se proteger e assistiram, boquiabertas, enquanto ele pulava daqui para lá e de lá para cá, até alcançar o nível da caixa. Com uma mão, Franco se firmou contra o nicho da parede. Com a outra, girou a funda, mirou e atirou o projétil -estilhaçando a tampa de vidro fino e atingindo suas entranhas.

Todo o complexo mergulhou na escuridão.

Imediatamente após, o lustre despencou com um medonho estilhaçar de vidros...

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-Mas isto é inadmissível! - Miro andava furioso de um lado a outro da sala de comando dos CG's. - Um único item disruptor causou todo esse estrago!

Ele logo se recuperou, ao perceber que o supervisor estava se deleitando com a sua alteração. Aprumou os ombros e anunciou:

- Vamos logo organizar a caçada.

Narrativa... Construindo a narrativa!

Debruçaram-se, ele e o supervisor, sobre a tela que recobria toda a mesa. O tampo se transformou em um grande monitor, o qual refletia um mapa e modelo em três D do Horto 34. Eles analisaram todos os acessos à morada de inverno. De repente, Miro lembrou-se de algumas coisas importantes e levantou o olhar da tela.

- Estagiários, os byrons já foram notificados?

Elores e Adoniran sabiam muito bem que a pergunta era para os dois, e não para os demais estagiários que assistiam ao corre-corre, com certa indolência.

Resignada, Elores apanhou a prancheta e se adiantou.

-Tivemos a notificação de cinco entre dez.

O olhar de Miro varreu Adoniran, visivelmente exausto.

-Os outros cinco não acusaram recebimento ainda - completou Adoniran, para se fazer útil.

A sobrancelha de Miro ergueu-se. - Sim, estagiário. Sua colega acabou de dizer a mesma coisa. Faça contato com os que ainda não responderam, e insista até obter uma resposta, ou um motivo para não responderem.

- Ora, Vossa Providência não espera que os byrons prestem contas ao senhor - debochou o representante terceirizado.

Os dois estagiários prudentemente se afastaram, para cumprir as ordens.

A Morada de Inverno | AMAZON COMPLETOWhere stories live. Discover now