20. Quero abrir minhas asas e experimentar o tutano doce da liberdade

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Troquei olhares com Jeongguk e ele se mostrou tão confuso quanto eu. Porém, deu de ombros e, num gesto com a cabeça, me incentivou a entrar na pequena casa. Havia organização e limpeza e, embora os móveis e a decoração fossem simples, era tudo muito acolhedor e cheirava a bolo recém assado.

"Por favor, fiquem à vontade. Vou apenas preparar um chá e trazer pedaços de bolo. Não demoro!"

"Não precisas se incomodar..."

Entretanto, ela já havia saído da sala. Ficamos apenas eu e Jeongguk no cômodo, em completo silêncio, observando tudo ao redor. Com sutileza, ele segurou a minha mão e passou a deixar um carinho ali. Foi o que me acalmou, pois meu coração estava em pressa. Era como se ele já soubesse o que estava por vir e o quão difícil seria absorver todas as informações.

A jovem voltou com uma bandeja com xícaras de chá e três pedaços de bolo.

"Sintam-se à vontade", falou enquanto colocava as xícaras próximas de nós. "Comas o bolo, Taehyung oppa. Sei que vais gostar, tua mãe quem me ensinara a receita."

"Juras? Que coincidência fazeres logo hoje."

"Não acredito em coincidências", disse conforme mantinha contato visual comigo. Limpei a garganta, constrangido.

"Desculpe-me, mas como se chamas?", finalmente perguntei, coçando a nuca.

"Jung Aerum", sorriu. "De fato não se lembras de mim, mas não o julgo. Muita coisa deve ter te acontecido desde que tua mãe se fora."

"Certamente...", respondi cabisbaixo. "Desculpe-me não me lembrar de ti. O que és da Jung Nabi?"

"Sobrinha. Devo pedir perdão pela forma como os recepcionei na porta. Normalmente, quem vem atrás da titia são sempre pessoas mal intencionadas, por isso agi na defensiva."

"Mal intencionadas?"

"É, com boatos absurdos sobre a morte dela."

"M-Morte?", estremeci. Meu peito apertou. Era uma das notícias que eu não esperava receber.

O rosto dela se metamorfoseou de novo. Dessa vez, observava-me com pesar. Ao enfim concluir que eu não sabia de muitas coisas, Aerum decidiu me contar toda a história.

Jung Nabi, tia dela e o amor de mamãe, era uma simples costureira. As duas se conheceram num baile que teve aqui em Mansan, o qual os meus avós foram convidados e por isso mamãe foi. Desde então, uma amizade floriu entre as duas. Depois, elas descobriram, juntas, qual era o sabor do pecado sob os lábios uma da outra. Consigo imaginar o que ambas sentiram, ninguém melhor do que eu para saber como algo tão certo pode parecer tão errado.

Desde então, mamãe passou a visitá-la com frequência em Mansan. Nabi dividia a casa com a irmã mais velha, mãe de Aerum, a qual sempre se mostrou acolhedora sobre o envolvimento das duas, então nunca foi um problema receber a mamãe lá. Porém, alguns vizinhos começaram a desconfiar das duas.

Nesse momento da narração dela, fitei Jeongguk, pois o pai dele veio imediatamente na minha cabeça. Ele, por teu turno, não quis levantar o olhar.

Os boatos alcançaram os ouvidos da vovó e do vovô, que logo providenciaram o casamento dos meus pais, 3 anos depois que as duas se conheceram. Por um lado, os boatos cessariam. Por outro, era a alma das duas que choraria.

Jung Nabi pediu para fugir, mas a mamãe negou. O motivo? Nem mesmo Aerum sabe. Noto, agora, que se ela tivesse fugido, eu não teria vindo ao mundo. Dentre as circunstâncias atuais, não sei definir se isto é vantajoso ou não.

O amor das duas sobreviveu durante 20 longos anos. Com toda a narrativa de Aerum que ouvi naquele dia, no decorrer dessa semana consegui acessar alguns fragmentos de memória. Lembro de passear no jardim público com mamãe e de ter uma outra moça conosco. Também lembro de observá-las juntas no banco da colina enquanto eu pegava florzinhas no campo. Recordo, também, da carícia que mamãe deixava na mão dela, tão ingênuo que era quase imperceptível.

Em uma outra vida, eu serei o teu garoto | taekook [🕊️]Where stories live. Discover now