Quando Eu Estiver Distante/ Em Praga

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Quando eu estiver distante,
em Praga,
você se lembrará de mim?
Se recordará dos cachos dos meus cabelos - entremeados do azul desbotado da pressa,
ou da cor dos meus olhos - base do sol poente?
Quando eu recolher minha mala
em uma cidade cinza, sem fiação visível
você se lembrará das nossas cartas?
Do amor que incessantemente tentei
fazer caber em um envelope pálido,
puído, infantil?
Quando eu vender as passagens da volta
em frente ao Rio Sena
e renegar minha genética de pé-vermelho por uma cidade artificial,
você se lembrará da doçura da minha voz
às três da manhã, te consolando?
Das noites em que perdi você,
chorando?
Da vez que te abracei como se fosse a última
ou da cor das minhas bochechas - fúcsia - ao me debruçar sobre seu sorriso em um abraço?
Das canções que te compus de aniversário?
Quando eu estiver distante,
sobrevoando o Atlântico de volta ao plano piloto
você se lembrará de mim, ainda?
Seremos nós,
ou qual será, por certo,
nosso pronome?
Como te chamarei quando sonhar
contigo, no calar da noite?
Quando eu estiver distante,
em Praga,
onde estará você?

23/02/2023.

Caderno.Where stories live. Discover now