Ritual

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Não havia respostas de Marie sobre a nossa viagem. Ela ignorava todas as vezes que eu perguntava o motivo do "passeio" repentino e continuava dizendo que era apenas uma tradição na tentativa de me afastar do real motivo.

Havia algo que ela não queria me dizer, eu podia dizer pelos seus olhos.

Ela estava sentada no sofá da sala com um livro entre as mãos, seus olhos acompanhavam cada letra de cada página como se essa fosse a coisa mais preciosa que ela tinha. Eu a observava da escada, seus olhos pareciam brilhar por alguns instantes.

Com um movimento ela fechou o livro me encarando.

— Por que está me observando de longe?

— Você sabe o porquê. — Eu falo indo me sentar do seu lado. — Eu não vou mais te perguntar se você realmente não puder responder.

— Hum. — Ela abaixou a cabeça abrindo na mesma página de volta. — As coisas não são da forma que você pensa que são, Eva.

— Quando você vai decidir falar as coisas diretamente e não apenas jogar algumas palavras como se elas fizessem sentido, Marie?

— Quando você estiver pronta para lidar com a realidade. — Marie levantou pegando o livro e o colocando debaixo do braço. Seus lábios estavam cerrados e eu notei que não havia mais a indiferença em seu olhar, essa fora substituída por ódio.

Ela subiu as escadas sem trocar mais nenhuma palavra comigo.

Eu tentava de todas as formas decifrar o que Marie tentou dizer, mas nada fazia sentido. Talvez, ela realmente apenas esteja me fazendo ficar confusa de propósito, para me tirar do país sem que eu faça perguntas.

Faltavam apenas algumas horas para deixarmos a França. Marie estava ainda mais distante nos últimos dias, se esquivava de minhas perguntas e me evitava até mesmo quando dividíamos a nossa cama.

Seus olhos vazios olhavam diretamente para a mala, sem empolgação, como se isso fosse um jeito de certa forma me manter calada também. Ela não parecia estar feliz em visitar a família, ela sequer me falava sobre eles, nem sobre como eles eram, nem mesmo como eu deveria agir. Eu não sabia sobre nada da família de Marie, todas aquelas coisas eram novas para mim, ela era algo novo para mim. Minha mente vagava por diversos lugares enquanto eu estava ali parada, era possível perceber. Enquanto isso, Marie, parecia a mesma mulher fria que perguntou meu nome na noite em que nos conhecemos.

— Eu tenho um irmão. — Ela disse de repente e por alguns segundos eu pude ver algo que se parecia com um sorriso vindo dela.

— Um irmão...?

— Sim.

— Como ele se parece? Ele é mais velho que você?

— Você faz perguntas demais. — Ela disse e seu rosto voltou a ser inexpressivo, isso quase me fez rir. Mas naquele momento, ela decidiu compartilhar algo sobre ela que mesmo que pequeno, parecia ser significativo. Agora eu sabia algo, sabia de algo que ela gostava.

Era madrugada quando finalmente embarcamos. O som do sino da igreja tinha acabado de nos avisar que já se passava da uma da manhã quando o trem começou a partir. Apesar de parecer com o que os humanos geralmente usavam, não era um trem convencional. Todos que estavam dentro eram vampiros, a única exceção era motorista que apesar de estar vivo, parecia tão morto quanto nós.

Tudo parecia perfeitamente planejado. As janelas estavam todas devidamente cobertas evitando que a luz solar causasse um genocídio. As bolsas de sangue que Marie trouxe para a viagem eram mais que suficientes para o trem inteiro e eu não estou exagerando. As pessoas em volta de nós estavam caladas trazendo a sensação de que estávamos à caminho de um enterro. Todas as vezes que eu tentava ter uma conversa com Marie, ela virava o rosto como se quisesse me evitar o máximo que pudesse, e conseguiu.

The Bloody House (Romance sáfico +18)Where stories live. Discover now