ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟝: Por Astíanax.

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 Mas isso não acontece. Mesmo após uns minutos, quando a maioria voltou a curtir, um ou outro nobre vai até ela, sem falar dos primos e das meninas, que não desgrudam.

 Um dos servos passa com uma bandeja com bebidas, pego uma taça de vinho e a viro lentamente encarando a moça, como se o pessoal ao redor fosse sumir intimidado por esse olhar, mas nenhum deles me nota. Nem a cacheada, aliás.

 - Eu aposto o meu novo navio como você está pensando na mocinha ali.

 Ulisses surge ao meu lado, também se servindo de vinho e seguindo o meu olhar até ela.

 - Nem precisa apostar, você está completamente cheio de razão - ele dá uma gargalhada e completo: - Como sempre.

 O mais velho pousa a mão em meu ombro e vamos andando pelo lugar, rodeando alguns convidados até, finalmente, conseguirmos achar um lugar mais reservado, longe de ouvidos curiosos.

 Às vezes, Ulisses parece adivinhar o que quero e penso, acho que por isso é o único grego com quem me simpatizei desde o armistício.

 - Vai, garoto, me conta o que está acontecendo - ele bebe um gole de sua taça.

 Repito o gesto. Me viro rapidamente para a cacheada, que agora desliza pelo local ainda pegada ao braço do loiro, logo volto a encará-lo.

 - A gente mal conversou - desabafo. - Além do fato de ninguém deixar ela em paz. E eu tenho certeza - estreito os olhos - que ela vai ter que dançar com o perfeitinho ali - faço careta.

 Ao reparar o tom colérico de minha voz e o deboche em meus atos, noto como estou sendo infantil, esquecendo-me de tudo o que meu pai dissera: aquela outra história de que ciúmes não é realmente necessário quando se ama, pois há a confiança, e esta tem de ser plena.

 O mais velho sorri por trás da barba castanha bem aparada, ele parece ver algum tom de graça no assunto. Porém, assim que vê a seriedade e desespero estampados em meu rosto, conforta-me:

 - Você sabe como o dia de hoje foi corrido, tudo foi preparado cuidadosamente do jeito que ela gosta para a recebermos bem - ele faz uma pausa para prosseguir. - O povo sempre teve grande afinidade com ela, e a saudade só aumenta esse sentimento. E, por favor, Asti, - o tom de advertência em sua voz - ele é o primo dela, eles não se viam a anos.

 Reviro os olhos mas acabo concordando. Realmente ele é a melhor pessoa para conversar quando se está para baixo ou precisa de conselho.

 Voltamos a encarar a moça que anda graciosamente por aí, o sorriso maravilhoso parece refletir por todo o grande salão.

 Finalmente, após um tempo, ela aparece onde estamos. Seu perfume adentra meu nariz ao tempo que sua beleza encanta meus olhos, deixando um brilho bobo nos mesmos.

 Não faço reverência, sei que me repreenderá por isso, apenas tomo sua mão e a beijo delicadamente, desviando de anéis e pulseiras. O mais velho repete o gesto cochichando algo em seu ouvido que a faz rir.

 Pátroclo logo para ao lado dele, admiro isso pois, pela primeira vez, teve o bom senso de ceder um pouco de espaço e atenção para mim.

 - Você está magnífica, como sempre - a elogio.

 Diferentemente de antes, ela já não cora com isso, ou remexe as mãos em sinal de nervosismo, apenas sorri agradecida.

 - Obrigada, Asti, mas eu nem preciso falar de você - me analisa. - O príncipe que sempre foi.

 Agora sou eu quem coro. Pode parecer algo bobo e pequeno, mas não foram as palavras que fizeram isso, mas sim a firmeza de seu olhar, a convicção em sua voz e a segurança em seus atos. Ela mudou, e para melhor. Cresceu, amadureceu, como eu ainda não fizera.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora