𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟲

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— Certo. Esse é o caminho que você escolheu. - a vovó se levantou e andou elegantemente até a porta. - Misaki!

Meus ombros tremeram. Esse nome acelerou o meu coração. Misaki era a governanta da mansão, ou seja, a empregada mais diligente, a mais próxima da vovó.

Alguns segundos se passaram para que ela chegasse. Eu estava de costas para a porta, então só a escutei, não conseguia vê-la.

— Senhora.

Misaki tinha uma voz suave, falava no tom certo e submisso. Apesar de ser jovem, ela obteve melhor cargo dentro da mansão, possivelmente pela sua personalidade. Nunca questiona nenhuma ordem, é silenciosa e obediente, tudo aquilo que Enokida Tsuki aprecia. Além disso, tem uma boa aparência, o cabelo loiro que brilhava como ouro, embora preso em um coque. Olhos rosas bem escuros e misteriosos nos fazia se perguntar o que ela escondia. Estando sempre vestida com o seu uniforme preto.

— Pegue a menina e a prenda no sótão. Somente será tirada de lá se eu permitir.

Me virei assustada. O meu maior pesadelo estava se tornando real. Misaki não disse nada hesitando em se aproximar de mim. Vovô a olhou em reprovação esperando ela se mover, mas não aconteceu.

- Sei que não devo me meter, mas a senhorita é muito jovem e de saúde fragil. Como vai aguentar ficar tanto tempo presa num quarto imundo e fechado. Se a senhorita adoecer trará mais problemas para nós. - Misaki suplicou usando disfarçadamente um truque de palavras que passou despercebido pelos ouvidos da outra.

— Se ela tem coragem para me enfrentar, também tem força para aguentar um quarto sujo!

Os olhos vermelhos fuzilaram Misaki. Eles brilharam como se fossem uma joia, Misaki virou o rosto para direção da porta evitando olhar para vovó.

Vovô me encarou com ódio, apesar de estar geralmente seria e irritada eu nunca a vi desta forma. Eu queria sair daquela sala, queria fugir de sua visão.

— Se você não fizer, tem quem faça.

— Eu... Eu tenho certeza que existem soluções melhores.

Misaki tremia a cada frase de vovó, ela expressava medo, me deixando ainda mais assustada.

— É o suficiente. Obedeça sem dar palpite, Misaki.

Vovó mostrou autoridade exigindo que fosse obedecida o quanto antes. Misaki entendendo que não existiam argumentos para fazê-la mudar de ideia, deslizou a mão pelo meu braço até encontrar a minha e me puxou para sair do escritório.

Nós andamos pelos corredores sem dizer nada. Então paramos há alguns passos de uma porta, era uma parte da mansão que eu costumava me esconder de Misaki quando brincávamos, o sótão. Eu a chamei, mas ela apenas suspirou. Ela afastou os fios bagunçados de cabelo do meu rosto, vi lágrimas surgirem em seus olhos rosas. Desde do escritório suas ações foram estranhas. Franzi as sobrancelhas, analisando a completamente.

Por que essa mudança repentina de comportamento? Ela sempre foi indiferente a minha situação, entrava no meu quarto algumas vezes ao dia apenas para me dar remédios ou verificar o trabalho das outras empregadas. Nunca trocamos palavras

Sem entender perguntei:

— Misaki, o que houve? Você não deveria me levar para o sótão, como ela mandou, por que parou?

Ela não respondeu.

— Me diz. Por que está chorando? - Disse calmamente, sorrindo para confortá-la - Se não formos agora, você também vai sofrer.

Nada. Os únicos sons que saiam de sua boca eram pelo choro. Coloquei minha mão sobre a sua desistindo de tentar. Ela não diria o que estava acontecendo de maneira alguma.

Continuamos ali encarando uma à outra, mas então alguém apareceu. Ume, mais uma das empregadas da mansão. Ume é bastante resistente aos meus lamentos, é insensível, porém se diverte me insultando, eu não gosto dela. Observando sua constante insatisfação estava óbvio que ela gostaria de ter a posição de Misaki.

— Misaki. A senhora Enokida pediu que eu viesse conferir que você comprisse com seu trabalho. - Ela cruzou os braços e deu mais alguns passos à frente também confusa com a situação. - Termine logo isso. Quanto mais rápido colocá-la lá dentro, melhor será.

Pensei em implorar para elas que não deixassem sozinha lá dentro, que me levassem a algum quarto vazio na mansão, mas isso acabaria colocando inocentes em problemas.

Misaki secou o rosto e se manteve calada, eu senti a sua raiva crescendo. O medo fez meu coração acelerar. Ume pediu para que Misaki se apressasse pois tinham que trabalhar, ela engoliu seco e me apertou, a outra já estava impaciente. Abruptamente ela agarrou meu braço com força e me empurrou para dentro do sótão.

Mal havia luz por dentro, apenas as luzes do corredor iluminavam. O chão, as paredes, tudo estava empoeirado e mofado. A cama encostada no canto tinha lençóis finos que aparentavam ter sido brancos quando foram colocados. Havia uma prateleira com livros do lado oposto ao da cama, aos pés dela algumas caixas abertas.

Pouco a pouco a ficha foi caindo junto comigo. Eu ficaria sim naquele cubículo, sozinha, com possíveis coisas horríveis que eu não gostaria de maneira alguma. Ninguém se importava realmente com o que aconteceria com uma garota mimada e fragilizada. Seus próprios pescoços eram importantes, não eu.

— Me perdoe, querida.

A voz chorosa e falha da governanta ecoou em meus ouvidos junto do ranger da porta se fechando atrás de mim. Antes que eu me virasse, a porta foi trancada acabando com a luz que restava dentro do cômodo.

Rapidamente girei a maçaneta, estava trancada, estava realmente trancada. Desesperada bati na porta feito louca, não aguentaria ficar naquele lugar escuro e sujo.

— Misaki! Misaki! Você não vai me prender aqui não é mesmo. Misaki! - Gritei alto, ninguém respondeu. - Por favor, abra! Por favor!

Os pensamentos negativos rodavam na minha cabeça, a angústia tomava o controle. Tinha medo de ficar sozinha ali para sempre, sozinha por dias, semanas. Comecei a chorar e gritar mais, a palma de minhas mãos ficaram vermelhas, mesmo assim eu não parava.

— Eu estou com medo, não me deixe aqui. Eu sei que errei...

Eu chorava, soluçava, dava socos na porta, embora soubesse que nada mudaria. Eu caí no chão cansada, a garganta doía, era desconfortável.

Pela última vez lamentei em sussurro chamando por minha avó:

— Vovó... Por favor... Abra... Eu não gosto daqui...

Após desistir, me permiti desabar como nunca fiz antes. Se chorar era uma fraqueza eu poderia chorar o quanto quisesse já que decidi ceder a minhas vontades erradas. Eu estava sozinha lá dentro, ninguém veria somente escutariam, se quisessem.

Há algum tempo uma pergunta sem resposta rondava minha mente, e naquele dia depois de tudo que presenciei foi impossível ignorar.

Qual era a razão das suas más atitudes comigo? Ainda era pelo meu bem ou para seu próprio bem?

Eu queria a resposta. Eu precisava de uma resposta.

𝐀 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐎𝐍𝐄𝐓𝐄˖ ࣪, BnhaWhere stories live. Discover now