Machado de Assis ouve Bruno e Marrone

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Só percebi que estava pensativa quando Zelena encostou sua mão no meu punho por um segundo e me fez olhar pra ela. Seu rosto ainda carregava um sorriso irritante e debochado, mas seus olhos brilhavam de um jeito que quase lembrava a pessoa que um dia foi minha melhor amiga.

— Afinal, como foi? Eu enfrentei um trânsito desgraçado pra chegar aqui porque sua voz parecia a de alguém que tinha acabado de quase morrer - ou matar. Acho que tenho direito de saber os detalhes. Gold te apresentou como Regina Mills e aí? Você vai me contar, né?!

— Bem, foi você que faltou o primeiro dia pra não ter que ouvir o mesmo papo de todo ano.

— Não seja uma vadia, Regina. Vai, me alimente com todos os detalhes dessa manhã, já que até hoje não sei os detalhes sórdidos daquela noite. - Suspirei, rendida. Alguém ia acabar contando pra Zelena, então que fosse eu.

*

Mais cedo, na faculdade

Foi um silêncio quase mórbido por milésimos de segundos. Eu estava tentando não tremer de nervoso por ter derrubado meu café junto com as várias xerox em cima do meu sapato ao mesmo tempo em que tentava decidir qual seria a minha postura.

Estar de frente para uma Emma Swan com o sorriso curto no rosto me deu a sensação de estar num matadouro. Eu quase achei que ela tinha vacilado, mas não, eu não podia sequer entender o que eu vi já que eu poderia gastar meu réu primário. Não estava pensando ou vendo claramente.

— "Nunca mais" tem outro significado de onde eu vim, Castillo. Ou seria Mills? - Estremeci com o comentário daquela loira marrenta e rezei para que o Gold não falasse nada, mas é claro que eu não teria tanta sorte.

— Oh, vocês já se conhecem? Que coincidência, não é mesmo?!

Assim que a palavra saiu da boca dele, eu me lembrei de longos cabelos ruivos e olhos verdes. Desgraçada.

— Muita coincidência, principalmente considerando que não consegui ir na festa de confraternização do ano passado, mesmo já tendo sido chamada para tomar posse no concurso. Mas respondendo a sua pergunta, não nos conhecemos, só ouvi falar. - Emma respondeu e ela quase parecia simpática. Até abrir a boca de novo, é claro — Porém, confesso que seria curioso conhecê-la em um ambiente de festa ou mais íntimo, não acha?

— Vai se foder - Mexi a boca para que ela entendesse, mas meu coordenador não ouvisse.

Antes que eu pudesse me mexer, percebi o David juntando as minhas coisas no chão, tentando salvar tudo o que não foi molhado pelo café. Há quanto tempo ele estava ali? Eu não podia perder tanto tempo encarando aqueles olhos como se fosse uma adolescente.

— Existe a hora certa para tudo - Gold finalmente respondeu e a Mary Margareth coçou a garganta. Se ela estava pensando em David ou na minha situação eu jamais poderia saber — Inclusive, a hora da reunião para o início de um novo semestre. Como vocês descobriram de maneira bem diferente, temos uma nova professora no nosso quadro. Emma Swan veio de Embu das Artes e tem muita experiência escolar, tendo sido diretora de uma escola adventista antes de vir pra cá. Ela vai focar principalmente em teoria e crítica literária para alunos da licenciatura e bacharelado. Esqueci alguma coisa?

— Não. É isso mesmo por enquanto. Muito prazer, sou Emma Swan - A loira esticou a mão na minha direção, mas eu não retribuí. Eu não podia sequer conferir se estava tremendo.

— Não tenho certeza se posso dizer a mesma coisa, Emma Swan.

— Isso será interessante - Ouvi o David comentar ao meu lado, mas nem me movi. Eu estava com raiva, muito, muito irritada e decidida a ouvir apenas o que meu coordenador tinha a dizer. Eu sou muito boa no que eu faço e nada ou ninguém poderia abalar isso.

ponto sem nóWhere stories live. Discover now