Heloise 

Eu estava sem chão, lembranças de minha mãe comigo se passava por toda minha cabeça. O único sentimento que eu conseguia sentir era apenas um, MEDO. Tinha medo de perder a minha maior vontade de viver, minha mãe. Eu suporto ter perdido um lar para morar, mas já mais suportaria a dor de perder o meu bem mais precioso.  Ela iria ser operada amanhã pela a tarde, e hoje já não poderia receber mais visitas, o que me deixava ainda mais angustiada, não poder ver minha mãe antes dela tentar lutar pela a sua vida, mas infelizmente tive que aceitar, afinal aceitando ou não iria ser desse jeito.

Tudo estava dando errado essa semana para mim, parecia que todos os meus pecados estava sendo pagos em apenas um dia, primeiro veio a ordem de despejo, depois a briga com aquele ogro e agora minha mãe precisa fazer uma cirurgia onde ele pode sair ou não com vida, e que por ironia do destino, quem fará a operação será o mesmo cara estupido que mais cedo. Mas tenha calma depois da tempestade o sol sempre volta a brilhar 

— Tia Helô? - ouço um sussurro próximo a mim. 

Estava com meus cotovelos apoiados em meu joelho e meu rosto afundado em minhas mãos, já havia esquecido que estava sentada em uma das poltronas que ficava na recepção daquele hospital. 

Olho para frente e vejo os olhinhos brilhantes do Arthur me encarando. 

— Oi meu amor - o envolvo em um abraço apertado, era tudo isso que eu estava precisando no momento. — Onde está a dona Vera? - pergunto olhando para os lados procurando-a 

— Ela teve que voltar para casa, perguntou se eu queria ir com ela, mas eu não quis, então ela me deixou aqui de frente - responde

Dona Vera que chegou até mim desesperada falando que mamãe havia sido transferida para esse hospital. Eu tinha acabado de chegar na catedral do Rio de janeiro, onde temos maior pico de venda com as flores e que por sorte ficava na esquina do hospital. Eu não entendida e não entendo como colocaram ela para um hospital particular sem ao menos saber se tínhamos condições de pagar uma cirurgia ou até mesmo um tratamento, porém aquele doutor disse que tudo ia ser custeado  pelo o governo e eu não pensei duas vezes em negar, mesmo que um deles tenha sido um idiota comigo, não posso nem sequer negar, aliás é a vida da minha mãe que está em jogo.

— O que houve? Porque entramos no prédio que aquele zé mané entrou? - Arthur pergunta confuso e me tirando dos meus pensamentos. 

— Arthur - o repreendo. Não que ele esteja falando alguma mentira, porém esse não é o palavreado que uma criança tem que ter. — A mamãe está internada aqui agora, e o "zé ruela" - faço aspas - é o médico dela a partir de hoje. 

Arthur arregala os olhos e logo uma expressão de assustado domina seu rosto. 

— A vovó está bem? O que houve? - pergunta nervoso

—'Ela está bem - puxo ele para o meu colo e aliso seus cabelos. — Apenas teve que mudar de hospital - Minto 

— Podemos ver ela agora - pergunta e nego com a cabeça

— A vovó está dormindo, porque precisa se preparar para um grande tratamento amanhã - continua alisando seus fios de cabelos.

— Mas você disse que ela esta bem - cruza os braços fazendo bico 

— E ela está meu amor, só precisa fazer um tratamento um pouco mais pesado do que os outros - digo tentando acalmá-lo. 

Não tive coragem de dizer o que realmente está acontecendo com a mamãe, não tive coragem de contar ainda que estamos sem teto, Arthur já sofreu demais e eu meio que estou adiando ele de sofrer mais um pouco. 

— Você promete? - pergunta me olhando com os olhos tristonhos.

Apenas concordo com a cabeça engolindo o choro. 

Não podia demonstrar fraqueza, tenho que ser forte não por mim, mas por eles.

— Podemos ir para casa agora? - diz dengoso

Engulo seco e um aperto no peito toma conta. Olho para uma das janelas daquele prédio e vejo o sol ainda começando a se por. 

— Mas já? ainda está cedo - digo franzindo as sobrancelhas.

— Estou tão cansado tia Helô - responde fazendo voz de drama e eu sorri com sua tentativa. 

— Esse drama não convence mocinho - Vamos pegar a carroça e da um giro aqui no centro, dai voltamos para a casa. - tiro ele do meu colo. 

— Ah não - retruca 

— Vamos logo mocinho - digo rindo

como disse ainda não tive coragem de contar que temos menos de uma semana para achar outro canto para morar, ainda não tive cabeça de pensar onde íamos conseguir, pensei em continuar na comunidade onde nasci e me criei, mas ao mesmo tempo queria fugir dos tiros e invasões que acontecia quase sempre.

Pego em sua mão e caminho até a recepcionista do hospital com Arthur, iria deixar o número de dona Vera com ela para caso qualquer coisa ela ligasse para ela, afinal era o único método de comunicação que tínhamos, já que eu não possuo nenhum tipo de eletrônico.

— Olá boa tarde - a moça do balcão sorri assim que me ver — em que posso ajudar? 

— Oi boa tarde - retribuo o sorriso eu queria 

— Acho melhor educar esse garoto direito - sou interrompida por uma voz grossa atrás de mim.

Me viro reconhecendo o dono daquela voz, era o mesmo babaca que discuti, vulgo o médico que vai operar minha mãe. Sua voz era impossível de não ser reconhecida, nunca ouvi um tom mais grave como aquele.

Olho para o Arthur que o olhava com cara de criança traquina que tinha acabado de aprontar.

— O que foi que você fez - sussurro no ouvido do Arthur.

— Não fiz nada tia Helô, esse cara que é problemático - diz bravo

— Esse moleque estava me mostrando a língua ainda agora - revira os olhos 

— O nome dele é Arthur, não moleque - retruco brava 

— Tanto faz - da de ombros — preciso falar com você - diz me olhando

— Comigo? - pergunto confusa 

— Já disse que é com você - repete ríspido.

Reviro os olhos com sua grosseria e apenas suspiro fundo 

— Me espera sentado na poltrona ta bom?  - Digo a Arthur o mesmo assente e fuzila o doutor com o olhar e faz um "to de olho em você" 

Acompanho Arthur com o olhar até ele se sentar em uma das poltronas, me viro para o poço de estresse e cruzo os braços.

— O que quer comigo? é algo relacionado a minha mãe? - pergunto o encarando. 

A menina das flores.Where stories live. Discover now