Cinco

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            O quarto estaava bonito, arrumado e iluminado por velas como o restante da casa.
Uma clara referência ao quarto que tiveram sua primeira vez juntos. Na casa que Michel ainda dividia com a mãe, na época.

As mãos de Michel eram lentas, ele não parecia ter a mínima pressa, queria aproveitar cada segundo do que poderia ser uma reconciliação.
O tempo que Ravi esteve na França, longe dele e de seus filhos —Com Eric.—, foi  curto, mas para ele uma eternidade sem o tailandês. Sentia que estava perdendo Ravi, sabia, na verdade. 
E ele nunca abriria mão de tê-lo.

Michel não se importava con o quão tóxico isso podia ser. Mas não suportava a ideia de perder o marido, de que Ravi podia há qualquer momento se cansar dele.  Odiava a possibilidade de ter outro homem tocando seu amado, desejando-o e pior... recebendo o amor de Ravi.

Egoísta.

Ele sabe que é um puta egoísta, possessivo e obcecado. Conhece todos seus defeitos, mas ele quer, ele precisa melhorar. Do contrário perderá Ravi. E deixa-lo escapar pelos dedos como areia estava fora de cogitação. 

— Amor... Ravi? Dormiu, baby?—Michel pergunta acariciando as costas nuas do marido, que está deitado de bruços ao seu lado.

Quando Michel começou a despi-lo, beijar, acariciar, ele até achou que Ravi não o queria.
Houve uma pausa, ele encarou o marido, segurando seu rosto e esperando a rejeição ou confirmação de que podia continuar. E ter Ravi beijando-o de volta, foi sua resposta.
Somente ai ele se deixou levar pelo momento.
É o mínimo.
Priorizar o desejo ou falta dele, no parceiro é bem o mínimo mesmo e ele sabe.  Em nenhuma hipótese ou realidade remota, ele forçaria o marido a ter relações com ele.
Não conscientemente, embora, para ver o óbvio, bastava ser mais atencioso, convenhamos.

—Não. Não dormi.—A voz dele sai baixa, está com o rosto virado para a direção contrária ao marido.

—Você está bem?—Michel fala e aproxima o rosto do dele, tentando ver se suas suspeitas estão corretas.—Meu amor, está chorando?

Ele se desespera, o medo de ter machucado o marido tomando conta de si. Ele tenta virar Ravi, mas só consegue, pois o mesmo deixa.

Ravi odiava ser tão sentimental, emotivo, tão o oposto de Michel.

—Tudo bem, eu só ... estou com saudades das crianças.— Uma meia verdade. Ele enxuga o rosto e se aconchega no peito de Michel. Que também está nu, porém o que esperava naquele abraço era aconchego e acalento, mas só conseguiu sentir ... nada. 

Talvez já não tivesse nada deles ali.

— Podemos buscá-las.—Ele fala e sorri quando quase no mesmo momento Ravi se afasta para se levantar da cama.— Ei, espera. Vamos depois. Antes ... podemos conversar? Ou você está muito cansado?

O asiático estreita os olhos e foca nele. Parece mesmo cansado e não quer um sermão relacionado a ciúmes ou algo do gênero.

— Sobre o que?

— Sobre nós. —Ele se senta e espera Ravi fazer o mesmo. Cobrindo seus corpos da cintura para baixo com um cobertor.— Bom, eu sei que tenho sido um pouco difícil nos últimos tempos. Ciumento, desligado e distante. Você até mesmo desistiu de mim uma vez, mas eu amo vocês. Eu quero melhorar.

—Você prometeu isso há alguns dias e já descumpriu. Como eu vou simplesmente acreditar que tudo vai melhorar? Que vamos voltar a ser o que éramos?

Ele está claramente fazendo um esforço grande para não chorar.  Não é tão forte como queria ser e sabe que devia ser.

Sua infância e adolescência—Antes de seu pai descobrir sua relação com Michel e ser expulso de casa.—foi repleta de falas duras de seu pai. Seja o chamando de fraco, molenga, mulherzinha ou coisas desse tipo. Ou as surras quando Ravi não ia bem na escola ou não demonstrava um comportamento tão " másculo" como o de Reizel, seu irmão mais velho.

O Que Restou De Nós? | Livro 1Where stories live. Discover now