Príncipe

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Arthur acordava assustado, havia tido mais um pesadelo. Já fazia quase um mês do ocorrido e, apesar dos pesadelos já acompanhá-lo à muito tempo, estavam cada vez piores.

- Aí!

O rapaz sentiu uma dor latejante no braço ao tentar se levantar. Ainda conseguia sentir o coração pulsando acelerado em seu peito e a leve pressão em sua garganta que, a essa altura, já lhe era familiar. Levou instintivamente sua mão direita ao local e pôde sentir algo molhado e quente, levantou-se e acendeu a luz do quarto para poder inspecionar a causa da dor.

Seu coração acelerou ainda mais ao ver, em seu antebraço esquerdo, marcas que ele logo reconheceu, de presas, fundas o suficiente para que tivesse sangrado em sua cama e agora pingasse no chão. Seu primeiro instinto foi de olhar em volta em busca de algo que pudesse ter causado aquele ferimento, mesmo que no fundo já estivesse certo que não iria encontrar nada.

Foi em direção ao banheiro do quarto de sua mãe, tinha a lembrança de haver um kit de emergência embaixo da pia. Entretanto, ao entrar no quarto reparou a cama vazia e sentiu-se imensamente triste. Seguiu adiante, limpou e cobriu a ferida com ataduras, por um momento se questionou se deveria ir ao médico, a ideia de explicar que foi mordido por um cachorro em seus sonhos seria engraçada, se não fosse verdade. No fim, não encontrou motivação dentro de si para tal e desistiu da ideia.

Voltou para o quarto de sua mãe, ainda não tinha conseguido arrumar e ele estava exatamente igual, pequeno e bagunçado, continha diversas peças de mobiliário de diferentes cores, deixando-o brega, porém vivo, ou pelo menos costumava ser, agora havia poeira por toda parte e uma caneca que um dia teve algo bebível, mas agora contia um bolor verde.

Na parte superior da parede que ficava oposta a cama, era possível observar um relógio com pinturas de dois pássaros, um branco e um preto segurando o mesmo ramo de oliveira, marcava às 03:35, nada surpreendente para o jovem, visto que sempre despertava de seus pesadelos por volta desse horário.

Arthur foi até a sala, não conseguiria dormir e não se sentia bem em voltar para seu quarto, teve de ter cuidado para desviar de toda a tralha que sua mãe costumava usar para decorar a casa. Apesar que essas coisas não eram exatamente peças de artes, mas sim, livros antigos, pequenas estátuas de figuras religiosas e outras de figuras desconhecidas, alguns quadros com pinturas de símbolos estranhos, a maioria nem estava pendurada na parede, apenas apoiadas nos cantos para que ficassem em pé. Toda aquela bagunça lhe incomodava muito no passado, mas agora apenas lhe causava saudades.

Lembrava melancólico de como era difícil levar tudo aquilo em suas múltiplas mudanças, não sabia o que odiava mais, a tralha ou às mudanças. Mas sempre acatou, sabia como era importante para sua mãe, mesmo que não entendesse seus motivos para nenhum dos dois.

Sentou-se no velho sofá da sala e olhou para o grande espelho que ficava na parede, diretamente oposto ao sofá, no local onde uma pessoa "comum" habitualmente colocaria uma televisão. Observou seu próprio reflexo e levou a mão até os cabelos, como odiava aquele tom preto.

Permaneceu ali pensativo, apesar de ter os pesadelos desde que pode se recordar, nunca havia se machucado durante um deles. Mesmo com toda sua reflexão, não conseguia encontrar nenhuma forma plausível para o surgimento do machucado em seu braço e, conforme pensava sobre, mais agitado ficava.

Levantou-se e foi para a rua, essa não era uma decisão particularmente sábia, visto que morava em um bairro perigoso, mas o rapaz se encontrava tão imerso em seus próprios pensamentos que nem mesmo ligou para os riscos, sinceramente não saberia dizer se algo como ser assaltado lhe importaria.

A Ordem e o Príncipe do InfernoWhere stories live. Discover now