Capítulo II

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Allegra Delgado:

Respirei fundo e sentei-me na frente do grandioso espelho que tinha no quarto e comecei a fazer a minha maquiagem, marquei os meus olhos, contornei o rosto e iluminei, deixei minha pele perfeita e finalizei com um batom carmim, destacando os meus lábios. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto deixando o meu rosto em evidência, todos sempre falavam que os meus olhos eram marcantes, eles que chamavam a atenção dos homens, então eu sempre usei isso ao meu favor.
Tirei o vestido de dentro da sacola e o vesti e sorri ao ver o meu reflexo no espelho, eu estava bonita e sensual, nenhum homem conseguiria resistir ao meu charme. Calcei as minhas sandálias e saí pegando a bolsa.
Hector estava parado na sacada com um copo de whisky nas mãos e eu suspirei, parecia que ele não conseguia entender que as probabilidades de ele fazer uma merda bêbado poderia nos levar para a cadeia. Pigarreei fazendo com que ele se voltasse para mim e sorrisse, colocando o copo sobre a mesinha e vindo na minha direção.
— Você está esplendida, cariño. – Elogiou-me aproximando-se e puxando a minha cintura e eu espalmei as minhas mãos no seu peito sentindo o cheiro do álcool penetrar as minhas narinas. — Bela como um anjo, aquele desgraçado irá ficar encantado com a sua beleza e eu irei me remoer de ciúmes por toda a noite.
— Hector! – Exclamei e ele soltou uma risada irônica antes de se afastar. — Nós deveríamos ir ou iremos acabar nos atrasando e deixando o seu sócio a nossa espera.
— Tenho um presente para você. – Avisou ele colocando as suas mãos no bolso interno do paletó e eu engoli a seco. — Algo que irá realçar ainda mais a sua beleza está noite.
Hector retirou um colar de rubis daqui e eu arregalei os meus olhos, eu nunca tinha chegado perto de algo tão precioso, ele postou-se atrás de mim e colocou-o no meu pescoço e eu deslizei os meus dedos pelas pedras carmesim que pesavam no meu colo.
— Eu tinha certeza de que ele iria combinar perfeitamente com você, deveria ter comprado o conjunto inteiro para encher você de rubis. – Resmungou ele beijando o meu pescoço.  — Por mim você viveria enfeitada dessa maneira, rubis combinam com você, a pedra perfeita para a mulher perfeita.
— Obrigado. – Agradeci virando-me para ele e passando os meus braços pelo seu pescoço, era comum que ele me desse presentes caros, Hector gostava de esbanjar a fortuna dos Esteban, mas aquela peça parecia ter sido pensada especialmente para mim, ele estava afagando o meu ego. — É maravilhoso.
— Combina com você. – Afirmou ele beijando a minha testa carinhosamente e eu fechei os meus olhos. — Rubis para enfeitar a minha gema mais preciosa.
Eu sorri e me afastei falando que iriamos nos atrasar se não saíssemos, mas o seu celular me interrompei e eu suspirei pegando algumas coisas e colocando dentro dela enquanto Hector bradava com alguém e eu estava com pena daquela pessoa quando ela se encontrasse pessoalmente com ele, pois conhecendo o seu temperamento ele iria fazer picadinho dela.
— Incompetentes. – Rosnou ele aproximando-se e segurando a minha cintura puxando-me para perto de si. — Vamos cariño, irei resolver essa situação quando voltarmos para Culiacán.
Anuí e deixei com que ele me conduzisse até a limusine que estava nos esperando na frente do hotel, é claro que Hector iria ostentar, se ele queria conquistar esse sócio ele seria capaz de viver como um estadunidense apenas para agradar ao homem e fazer com que ele investisse o seu dinheiro nos seus produtos ilegais.
O restaurante era o mais caro da cidade, com uma vista exclusiva da baía e com atendimento exclusivo e privacidade para os clientes. Me assustei quando vi um homem da idade de Hector sentado à mesa, eu estava esperando por um velho catequético que seria mais fácil de enganar, mas eu quebrei a minha cara. O homem tinha feições duras, cabelos bem aparados e loiros, a barba era bem-feita e os seus olhos eram hipnotizantes de um cinza tão profundo que parecia que ele estava lendo a minha alma. Se eu fosse uma mulher normal me apaixonaria por aquele homem à primeira vista, não era difícil de entender os olhares de cobiça para a mesa onde estávamos.
O jantar transcorreu normalmente e eu apenas me fingi de burra para que eles não percebessem que eu estava prestação atenção na conversa paralela e foquei na comida. Que estava deliciosa, precisaria de um pouco mais de pimenta para estar perfeita, mas isso era apenas um pequeno detalhe perto das barbaridades que eu ouvi durante as suas horas que o jantar transcorreu. Eu tinha informações para colocar aqueles dois na cadeia e ainda sair como a heroína da história.
— Irei ao toalete. – Anunciei quando Hector apertou discretamente a minha coxa. — Com licença senhores.
Eu sorri e pisquei discretamente para o homem antes de me afastar lentamente e resvalar o meu corpo propositalmente na sua cadeira e pedir desculpas. Passei um tempo considerável no banheiro para que eles pudessem conversar sem a minha presença.
— Você é sortuda, garota! – Exclamou uma mulher parando ao meu lado no banheiro e eu apenas dei de ombros. — Acompanhada por dois homens lindíssimos, os malditos dessa cidade mal querem pagar pelo programa, quiçá nos trazer para jantar em restaurantes chiques como esse.
— Eu tenho as minhas exigências. – Afirmei guardando o meu batom na bolsa. — A exclusividade custa caro e eu não aceito nada menos do que isso.
Eu sorri e saí do banheiro antes que aquela maluca estragasse todos os meus planos e voltei para a mesa sorrindo e cruzando as minhas pernas, vendo os olhos do homem sobre ela e sorri maliciosamente, ele tinha fisgado a isca, eu só precisava continuar com os flertes discretos que até o final da noite ele estaria comendo na palma da minha mão.
— Cariño! – Exclamou Hector sorrindo, parecia que tudo tinha ocorrido da maneira que ele esperava ou teríamos um massacre naquele restaurante. — Otto me disse que queria estender a noite, mas eu estou exausto. O que acha de o acompanhar até o cassino.
— Se você não estiver cansada, senhorita Delgado. – Completou ele me encarando e eu sorri concordei. — Obrigado por me acompanhar senhorita, eu realmente queria estender um pouco mais essa noite, acho que depois de fechar um acordo como esse precisamos comemorar. E eu ouvi boatos que homens acompanhados de belas mulheres podem conseguir fortunas em um cassino.
Eu gargalhei colocando a minha mão no seu ombro e deslizei-a delicadamente enquanto o encarava, Hector pigarreou chamando a nossa atenção.
— Thompson você não sabe a joia que tem nas mãos, Allegra é um talismã. – Afirmou Hector passando por mim e colocando algo dentro da minha bolsa discretamente. — Irei acompanhar vocês até o cassino e depois voltarei para o hotel. Otto lhe acompanhará no final da noite, cariño.
Eu sorri e concordei, deixando-me ser conduzida pelo senhor Thompson pelo hall do restaurante, o cassino ficava no último andar do hotel e aquele lugar encheu os meus olhos, eu já tinha estado em cassinos, mas aquilo parecia como nos filmes que eu tinha visto na minha infância. Hector despediu-se falando que nós deveríamos nos divertir naquela noite e me encarou fixamente enquanto saia do lugar e eu me voltei para o senhor Thompson sorrindo.
— Me dei ao luxo de compras algumas fixas antecipadamente. – Contou-me ele colocando uma delas na minhas mãos. — Por onde acha que nós deveríamos começar, senhorita Delgado?
— Por favor, me chame apenas de Allegra. – Pedi. — Acho que podemos deixar as formalidades de lado, já que iremos nos divertir essa noite e depois de duas bebidas eu não irei lhe chamar de senhor Thompson.
— Você pode me chamar do que desejar. – Sussurrou ele deslizando as suas mãos pela minha cintura e um arrepio percorreu o meu corpo. — Então por onde nós devemos começar, Allegra?
— Pelas roletas.  – Respondi vendo várias mesas de apostas que estavam espalhadas pelo salão e era onde tinha o maior fluxo de pessoa, mais fácil de conseguir controlar a situação.
— Vamos ver se você é uma mulher de sorte! – Exclamou ele puxando-me apara uma das roletas e pediu um whisky para um dos garçons. — Vermelho 8.
Eu sorri e me apoiei no seu corpo, deixando clara as minhas intenções para aquela noite enquanto os outros jogadores faziam as suas apostas. E eu me surpreendi com a quantidade de vezes que ele conseguiu ganhar naquele jogo, o homem era sortudo ou estava trapaceando.
— Acho que nós deveremos parar por essa noite, Otto. – Avisei quando ele cambaleou. — Acho que já ganhamos o suficiente por uma noite, não devemos perder essa pequena fortuna que está nas nossas mãos.
— Você é uma mulher inteligente. – Afirmou ele rindo. — Vamos embora senhorita Allegra, o meu quarto fica no 43º andar, acho que a senhorita irá conseguir o encontrar com facilidade.
Concordei e tirei o cartão das suas mãos e peguei as fichas que ele tinha ganho e as troquei jogando a quantia dentro da minha bolsa e o segurança me encarou com a sobrancelha arqueada quando eu me aproximei do homem.
— Precisa de ajuda, senhorita? – Perguntou ele aproximando-se de nós. — Eu posso os acompanhar até a suíte, acho que o seu acompanhante está sem condições de chegar até a recepção.
— Não se preocupe, nós estamos hospedados nesse hotel. – Menti, eu estaria dando o fora na manhã seguinte e esperava nunca mais ter que ver aquele homem. — Eu darei conta de o levar até o nosso quarto.
Ele anuiu e se afastou quando um dos funcionários o chamou falando que havia uma confusão nas mesas de poker e eu suspirei apertando o botão do elevador diversas vezes para ver se as portas se abririam com mais rapidez e eu pudesse sair daquele lugar antes de chamar atenção desnecessária.
Ele balbuciou algo jogando o seu peso sobre os meus ombros e eu quase me desequilibrei nos levando até o chão. Passei os meus braços pelo seu abdômen tentando nos manter estável e agradeci quando as portas do elevador se abriram e eu entrei e apertei o botão do seu andar.
— Você é mais pesado do que parece. – Resmunguei sentindo o peso do seu corpo contra o meu. — Não sei como as pessoas conseguem carregar mortos para os desovar, corpos parecem pesar o dobro do seu peso.
Cambaleei para fora do elevador e me arrastei até o corredor procurando pelo quarto e suspirei agradecida quando encontrei a suíte. Joguei o seu corpo sobre a cama e respirei fundo me alongando, minha testa estava suando por conta de tanto esforço.
— Se eu soubesse que você iria me dar tanto trabalho eu teria mandando Hector contratar uma acompanhante de luxo. – Resmunguei jogando o dinheiro sobre a mesa de cabeceira. — Vamos lá Allegra, faça o seu trabalho bem-feito e depois dê o fora.
Estalei o meu pescoço e caminhei na direção da cama, e consegui tirar o seu paletó e suspirei, aquele homem parecia que estava morto, se não fosse pela sua respiração eu iria começar a me desesperar pensando que o que Hector tinha me dado tinha matado o homem.
— Está se divertindo, senhorita Delgado? – Perguntou ele abrindo os seus olhos e eu gritei tentando me afastar, mas ele segurou o seu pulso com força puxando-me na sua direção e fazendo com que eu tombasse contra o seu peito. — Está tentando abusar de um homem inconsciente, isso é um crime federal no meu país.
— Eu estava apenas tentando fazer com que o senhor dormisse confortavelmente. – Menti puxando os meus pulsos e me afastei dele assustada. — Mas, acho que o senhor não está precisando da minha ajuda. Irei me retirar, o dinheiro que ganhou está sobre o criado mudo. Obrigado pela noite maravilhosa, senhor Thompson.
Dei-lhe as costas ouvindo a sua risada irônica e peguei a minha bolsa rapidamente, Hector iria me matar quando soubesse que eu não tinha conseguido cumprir com o esperado, mas eu estava com medo daquele homem.
— Drogar um cidadão americano sem o seu consentimento é crime. – Avisou ele e eu travei apertando a minha bolsa com força e ouvi os seus passos atrás de mim. — Assim como o porte de drogas é um crime inafiançável, senhorita Delgado.
— Eu não sei do que o senhor está falando. – Sussurrei engolindo a seco. — Por favor me deixe ir, eu não irei falar nada do que aconteceu com Hector.
— Eu posso revistar você e se encontrar algo ligar para a polícia. – Avisou ele colocando a sua mão sobre o meu ombro. — Eles irão adorar colocar as suas mãos em uma das mulas do cartel de Sinaloa, principalmente da joia dos olhos de Hector Esteban. Mas, eu tenho outros planos para você, senhorita Delgado. Você tinha um plano perfeito, e é uma atriz maravilhosa, seu rosto nem ao menos tremeu quando tentou me drogar a noite inteira. O que ele mandou com que você fizesse comigo? Iria me matar?
— Eu não sei do que você está falando. – Neguei dissimuladamente, ele já tinha me ameaçado da polícia duas vezes, ele não iria me entregar, ele queria algo a mais. — Se irá me entregar eu recomendo que ligue para a polícia, senhor Thompson ou eu estou indo embora.
— Se eu fosse você não daria um passo. – Mandou-o. — Eu sou a única pessoa que pode lhe ajudar nesse momento Allegra Delgado. Você pode sair desse hotel com as suas próprias pernas ou irá sair algemada direto para uma penitenciária de segurança máxima e você não duraria duas horas em um lugar como aquele.
— Você não me conhece para supor isso, senhor Thompson. Quem é você? – Perguntei virando-me para ele e dando dois passos para trás. — Quem é você e o que quer comigo?
Ele sorriu maliciosamente e afastou-se pegando algo dentro do cofre e eu estava começando a sentir a catinga da encrenca. Ele jogou pastas sobre a cama e colocou um distintivo no seu peito e eu engoli a seco.
— Eu sou Otto Thompson, agente especial do narcóticos e crimes violentos. – Apresentou-se e eu apenas sorri. — Eu sou o responsável por investigar os crimes do Cartel de Sinaloa e você é a peça-chave do meu quebra-cabeça senhorita Delgado.
Eu o encarei e apenas sorri maliciosamente, aquele homem só podia estar muito louco se achava que eu iria contribuir com o seu caso, eu preferiria ir para a cadeia do que trair o cartel, pelo menos lá eu conseguia proteção e ele não iria conseguir me proteger da fúria de Hector.
— Eu não tenho nada para lhe contar, agente Thompson. – Avisei cruzando os meus braços quando ele começou a distribuir fotografias sobre a cama e eu fechei os meus olhos sentindo-me enjoada. — Irá chamar a polícia?
— Todos esses assassinatos cruéis foram cometido pelo cartel de Sinaloa nos últimos dois anos e nunca foram resolvidos pelos departamentos americanos ou mexicanos. – Comentou ele e eu apenas dei de ombros. — Esses filhos da puta são impossíveis de serem localizados por conta do cartel, eles matam crianças, mulheres e idosos, todos que se colocam no seu caminho ou interferem nos planos do cartel. Eles são assassinos frios e calculistas e que precisam pagar pelos seus crimes, senhorita Delgado.
— Estou sendo acusada de algo, agente Thompson? – Perguntei e ele rosnou socando a parede. — Eu quero a presença de um advogado e tenho direito a uma ligação. Irá continuar a me pressionar em um quarto de hotel? Pois, isso pode ser considerado abuso de poder e você não tem provas nenhuma sobre a minha ligação com o cartel de Sinaloa, as minhas mãos estão limpas, eu não cometi nenhum crime além de sair com um homem que estava se apresentado de outra maneira. Prostitutas fazem isso, é como nós ganhamos o dinheiro para pagar as costas no final do mês.
— Nós dois sabemos que você não é apenas uma prostituta, senhorita Delgado. – Balbuciou ele postando-se nas minhas costas e segurando o meu rosto forçando-me a encarar a foto que estava nas suas mãos. — Essas são Maria e Anna, elas tinham 7 e 10 anos quando foram brutalmente assassinadas, elas foram violentadas antes de serem esquartejadas e os seus restos mortais dado aos ratos. O filho da puta que fez isso nunca foi preso por ser um membro do cartel, ele foi protegido e tratado como um herói quando voltou ao México. Acha que isso é certo? Qual a paz que a alma dessas crianças irá ter sabendo que o seu assassino está a solta, curtindo a vida como se ele não devesse nada a sociedade.
— Irei lhe contar algo sobre o cartel que você parece não saber senhor Thompson. – Avisei virando-me para ele. — Eles fazem pior com os traidores, isso não é nada perto do que acontece com as pessoas que traem o cartel de Sinaloa. Você está focado no seu caso e eu na minha vida, eu sou apenas uma garota de programa, uma acompanhante de luxo. O que acha que irá acontecer comigo se eles descobrirem que eu abri a minha boca? Entenda uma coisa agente, entre a alma dessas crianças e a minha vida eu prefiro continuar viva e inteira. Se me der licença eu estou de saída, nós não temos mais o que conversar.
— Allegra Delgado, filha de Camillo e Julieta Delgado, nascida na Cidade do México, em 13 de maio de 1995, você é a filha mais velha de três filhas. Seus pais se mudaram para Culiacán quando você tinha 14 anos, eles estavam passando por uma situação difícil e viram nessa mudança uma forma de mudar de vida. – Pronunciou-se ele e eu apertei a minha bolsa trincando os meus dentes. — Você foi vendida pelo seu aos 16 anos e dada de presente para Pacco Escobar, o antigo chefe do cartel de Sinaloa. Você foi forçada a servir a ele até ele adoecer a três anos atrás, ele morreu pouco mais de dois anos depois do seu diagnóstico e Hector o seu único filho assumiu o poder e você foi libertada da escravidão sexual que vivia. Eu quero pegar os assassinos que mataram essas pessoas e eu sei que você é a pessoa mais próxima de Hector Esteban, até mais do que a sua esposa, você é a joia dos olhos daquele homem.
— Você não sabe nada sobre a minha vida. – Avisei o encarando. — Acha que irá despejar tudo isso sobre mim e me convencer de ajudar você está muito enganado agente Thompson. Eu nunca irei trair Hector, então você pode me liberar ou me denunciar, pois eu não irei continuar perdendo o meu tempo com você.
— Você é realmente fiel a um assassino? – Perguntou ele segurando o meu braço. — Irá conseguir colocar a sua cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, sabendo que a pessoa que está dormindo ao seu lado é um assassino cruel que está encobrindo todos esses assassinatos?
— Eu não durmo ao seu lado. – Respondi. — Mas, sim eu sou fiel a Hector, não irei o trair.
— Irei deixar com que você pense durante essa noite. – Avisou ele passando por mim e pegando o cartão do quarto. — Aproveite e dê uma olhada nas fotos quem sabe isso não amoleça o seu coração e você resolva me ajudar nessa investigação.
Ele saiu trancando a porta e eu gritei jogando as fotos longe e passei as minhas mãos pelos cabelos e enterrei o meu rosto nas mãos e suspirei longamente. Eu seria morta apenas por ter conversado com aquele homem, mesmo sem eu ter a intenção de o delatar.
Não tinha como sair daquele quarto, se eu voltasse para o hotel antes do amanhecer Hector iria saber que o seu plano não tinha dado certo e iria ficar furioso. E agora eu tinha um agente da narcóticos na minha cola querendo a minha ajuda para prender Hector.
Foi uma das noites mais difíceis da minha vida, eu passei a noite inteira acordada encarando a noite ir embora e o sol começar a nascer, sentada em uma das poltronas e tentando raciocinar uma maneira de sair daquela situação sem ser presa. Se fosse Pacco eu não pensaria duas vezes antes de o delatar para o agente Thompson, tudo que eu queria era que aquele maldito fosse morto, mas ele já estava podre abaixo da terra e por mais que eu tivesse ciência de todas as coisas ruins que Hector fazia eu não tinha coragem de o delatar, pois ele tinha sido a única pessoa que ficou ao meu lado no momento mais difícil da minha vida, foi ele quem me consolou e enxugou todas as minhas lágrimas e não deixou com que a minha vida fosse um inferno dentro da mansão Esteban e eu era imensamente grata por isso.
A porta foi aberta, fazendo com que eu levantasse os meus olhos e visse ele retornar com um sorriso malicioso nos seus lábios, como se fosse conseguir me convencer de trair as minhas convicções.
— Você teve uma boa noite, senhorita Delgado? – Debochou ele e eu levantei-me. — Espero que tenha tido muito tempo para refletir sobre tudo que conservamos essa madrugada e escolha o lado certo para apoiar.
— Onde estão os policiais? – Retruquei colocando as minhas mãos para frente. — Acho que o senhor deveria me prender, pois eu não irei falar uma única palavra que possa incriminar Hector.
— Garota burra. – Rosnou ele segurando os meus ombros com força e forçando-me a encará-lo. — Ele irá a descartar quando você não tiver mais utilidade.
— Isso é um problema entre mim e ele. – Afirmei sorrindo. — Onde estão as algemas? Você não irá me prender, está apenas blefando, sabe que se fizer qualquer coisa contra mim Hector ficará sabendo da sua verdadeira identidade e irá perder o caso no qual se empenhou tanto para consolidar. Você me pressionou psicologicamente para que eu aceitasse o ajudar com medo das suas ameaças, mas eu irei lhe contar algo que você não sabe sobre mim, senhor Thompson. Eu fui jogada aos porcos quando ainda era uma criança e aprendi muito com eles. Se me der licença eu irei sair e cuidado o cartel não costuma ser piedoso com agentes americanos.
Peguei a minha bolsa e saí do quarto sem que ele me interrompesse, pedi para que a recepcionista me conseguisse um táxi e suspirei ao ver que o meu celular estava sem bateria, Hector deveria estar maluco com a minha falta de notícias e já deveria estar colocando o quarto abaixo e mandando com que os seus capangas saíssem a minha procura.
Entrei no quarto exausta, tudo que eu queria era um banho e conseguir dormir por algumas horas, mas me assustei ao ver que ele estava com uma cara de poucos amigos me esperando.
— Madre de dio! – Exclamei colocando a minha mão no coração. — Você quer me matar do coração? Cariño!
— Por que você demorou tanto? – Perguntou Hector levantando-se e colocando o copo com força sobre a mesa. — Estava aproveitando o seu momento com Thompson. O que ele lhe prometeu?
— Não seja paranoico Hector. – Bradei passando por ele e jogando a bolsa sobre a poltrona. — Você me disse que eu precisava fazer parecer que nós tivemos uma noite maravilhosa, queria que eu saísse do quarto como uma fugitiva?
— E quais são as suas convicções sobre o senhor Thompson? – Perguntou ele beijando o meu ombro e eu engoli a seco. — Ele é alguém em quem eu devo investir?
— Acho que eu não deveria me meter nos seus assuntos. – Respondi sorrindo e virando-me para ele. — Você não iria me confiar em alguém que não tem confiança, apenas não baixe a guarde, americanos podem ser esguios depois que conseguem aquilo que quer.
— Não se preocupe comigo, cariño. – Sussurrou ele acariciando o meu rosto delicadamente. — Eu sei como me virar sozinho, mas eu fico feliz em saber que se preocupa comigo.
Eu apenas sorri e deslizei os meus dedos pelo seu rosto antes de avisar que eu iria tomar um banho e queria descansar um pouco, pois tinha passado a noite acordada e ele concordou avisando que teria que fazer algumas coisas naquela manhã, mas que iria passar a tarde comigo.
Eu fiquei receosa em lhe contar sobre o agente Thompson, eu não sabia se Hector iria confiar em mim e era melhor que eu deixasse aquele assunto de lado e focasse na minha vida.
Dormir durante toda a manhã e acordei com Hector me chamando e avisando que iriamos sair para visitar a cidade naquela tarde e isso me deixou um pouco desconfiada, já que ele nunca me acompanhava nos meus passeios pela cidade.
— Quando iremos embora? – Perguntei entrelaçando o meu braço no dele enquanto caminhávamos pelo calçadão.
— Pensei que estivesse gostando da viagem, cariño. – Alfinetou-me ele e eu dei uma risada. — A minha companhia não está agradável?
— Sua companhia estará sempre agradável. – Respondi beijando o seu rosto carinhosamente. — É apenas diferente você me acompanhar em um passeio pela cidade.
— Eu quero agradar mi cariño. – Falou ele. — Acho que estávamos precisando de um tempo apenas nosso. Não se preocupe, iremos voltar para Culiacán em alguns dias, então aproveite Miami.
Eu concordei e o puxei para dentro de um dos quiosques que tinha na orla, eu iria fazer o que ele mandou e me divertir e esquecer tudo o que tinha acontecido naquela maldita noite.

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