Lee Eunji é uma garota muito, muito tapada

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Jake Shim é um filho da mãe sortudo. Ele e Heeseung estavam doidinhos para que Jake dormisse lá em casa, mas quando mamãe ligou para perguntar aos pais dele se Jake podia, ambos negaram.

Felizmente para ele — e apesar de estarmos numa boa, infelizmente pra mim —, uma chuva intensa resolveu cair e dava ares de que demoraria uma eternidade para ir embora. Então, como já era tarde, os pais de Jake chegaram num acordo e o deixaram dormir aqui.

Nem preciso dizer que meu irmão ficou louco de tudo. Tiveram sorte de ser sábado e não precisarem acordar cedo no outro dia, porque passaram a noite inteirinha jogando videogame e se enchendo de besteira. Até eu saí um pouco do quarto e dei uma passadinha na sala para comer os docinhos que os malandrinhos roubaram da geladeira.

O problema foi na hora em que mamãe apareceu e deu o maior xingão na gente.

— Acho que já se divertiram o bastante. Pra cama, todos vocês.

— Eu vou dormir na sala mesmo, tá, tia? — Jake falou enquanto eu e meu irmão descolávamos a bunda do sofá, enchendo o tapete de farelos.

— Nem pensar! — disse mamãe. Ela lançou um olhar de indignação para Heeseung. — Hee, você não ofereceu sua cama pro Jake? Meu Deus, ele é convidado!

— Mas eu ofereci, mãe, ele que não aceitou!

— É — Jake confirmou. — Não precisa se preocupar, tia, eu durmo aqui sem problema algum.

Gastou saliva à toa, afinal, quando mamãe fala, está falado. Heeseung e ele trocaram um abraço meio desajeitado — devido a diferença de altura, Jake precisou ficar nas pontas dos pés — e lá se foi o coitado para o quarto bagunçado do meu irmão.

Incrível como é normal que eu deite e já pegue no sono, mas naquele sábado era impossível dormir. Liguei o celular e marcava duas e tantas da manhã. Calcei os chinelos e fui dar uma andada na cozinha pra ver se às vezes não era fome ou algo assim, mas aí eu ouvi um barulho estranho vindo do corredor.

Não era o ronco do Heeseung. Dessa vez vinha do quarto onde Jake dormia. Botei o ouvido na porta e jurei escutar uns lamentos. Pensei que ele estivesse orando, mas aí a chuva engrossou, um clarão estrondoso surgiu lá fora e ouvi claramente Jake gritar.

Foi de súbito abrir a porta. Ao que acendi a luz, foi estranho vê-lo todo encolhido, chorando de medo.

— Perdão por entrar assim — falei. Ambos estávamos sem graça pela situação. Não era sempre que eu via Jake chorar. A última vez que o vi nesse estado foi quando ele contou para meu irmão e eu que seu gatinho Leonard Shim havia morrido. — É que eu ouvi uns barulhos e...

— Tudo bem. — Ele se ajeitou entre as cobertas, os dedos limparam o rosto molhado. — Acho que entrou poeira no meu olho. — Aí o lampejo voltou e Jake não conseguiu disfarçar o pânico dessa vez. Pude ver o rosto dele ficando vermelho. — Desculpa...

— Relaxa. — Dei um sorrisinho e me encostei na porta enquanto tentava não mostrar que aquela era a cena mais adorável que eu já havia presenciado na vida. Jake Shim, o garoto que vivia me pregando peças, se assustando com um barulhinho de nada? — Logo essa chuva acalma. Vai até ser mais fácil dormir depois disso. Eu adoro dormir quando está chovendo. O barulhinho é gostoso.

— É, deve ser mesmo... — Mordeu o lábio e balançou a cabeça, desviando o olhar para as mãos agarradas ao cobertor.

Decidi sair.

— Acho que é melhor deixar você descansar em paz. Vou apagar a luz pra você e...-

NÃO! — A repreensão dele me assustou. Jake deu um riso sem jeito, tentou se explicar enquanto mexia as mãos num gesto sem-sentido e gaguejou. — P-pode deixar que eu mesmo apago depois!

Jake Shim é um cara muito, muito irritanteWhere stories live. Discover now