Jake Shim é um cara muito, muito chato

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Jake Shim é um pé no saco. Não é como se eu quisesse começar a história assim, mas é verdade, o que posso fazer?

Convivo com ele desde os sete anos porque meu irmão e Jake são "brothers", como costumam mencionar a amizade alicerçada somente no objetivo de me atazanar. Parece drama, eu sei, mas não é. Heeseung é um péssimo irmão mais velho e Jake é chato pra dedéu, o que resulta numa mistura azucrinante e desvantajosa para euzinha aqui. Aliás, meu nome é Eunji.

Sabe, quando éramos menores as discussões com os dois eram aquela coisa de criança: eu não podia brincar com eles porque era "pequena" demais e, se brincava, não fazia bosta nenhuma além de ser a tal do "café com leite".

Se brincavam de esconde-esconde, só eu tinha que procurar. Uma vez passei a tarde inteira os caçando pela casa e pela noite os vi voltar da rua com a maior cara de pau, porque haviam saído às escondidas e a pamonha aqui caiu no conto deles. E eu sei que foi ideia do Jake. Sempre é ideia daquele irritante.

Quando fiz 14, Jake tinha 15 e Heeseung faria 16 em outubro. E eu adoraria dizer que, uau, os garotos amadureceram e já me tratavam como a jovenzinha incrível que eu havia me tornado, mas seria bom demais para ser verdade. Melhor ainda seria se Jake não tivesse crescido e, quem diria, estava se tornando um garoto insuportavelmente bonito, dono de um cabelo sedoso e rostinho de quem com certeza ferraria com a minha vida.

Foi um chilique e tanto quando mamãe deu a ideia de Jake ser meu par para a festa de 15 anos que eu nem havia dito que queria. Jake adorou, é claro, porque ter a chance de pisar no meu pé enquanto fingia saber dançar valsa seria o ápice da diversão para ele. Por sorte não se importaram em cancelar a tal festa por eu afirmar que, obrigada, mamãe, mas um bolinho e alguns refrigerantes já é o bastante.

Assim que entrei no ensino médio, Jake e meu irmão faziam o segundão e se sentiam as últimas bolachas do pacote naquele colégio. Heeseung entrou como vocalista principal numa banda com uns carinhas aleatórios, e Jake, para a minha surpresa, tocava violino na orquestra que a professora de música havia montado.

Heeseung me deixava almoçar com ele e os colegas de banda nos primeiros dias, até eu me adaptar no colégio e encontrar um grupo só meu. Tinha um cara naquela banda — Jay, nunca esqueço o nome daquele pedaço de mau caminho — que provocou o primeiro pânico no meu coração.

Ele era lindo, mas não só "lindo", sabe? Era lindo, linnndo. Do tipo que só de olhar pra mim por dois segundos já me deixava travada e fazia a minha voz sumir. E ele era tão gentil! Se Heeseung me envergonhava pra se pagar de bonzão, Jay sempre o repreendia e ainda mencionava alguma coisa que Heeseung não gostava só para ele sentir o gostinho da humilhação. E em poucos dias lá estava eu gamada naquele guitarrista com cara de marrento, mas que de marra não tinha nada.

Foi a primeira vez que paquerei um garoto. Nem sei se aquilo poderia ser considerada uma paquera, mas eu adorava quando alguém falava alguma asneira e eu olhava pra ele só para ver se ele estava rindo. Jay olhava pra mim também, e aí a gente ria junto. Mas para a minha infelicidade, os dias de glória e Jay Gatinho trocando sorrisos e piscadinhas comigo acabaram logo. De repente, Jake quis inovar e passar o almoço na nossa mesa também.

Ele e Heeseung haviam se afastado um pouco por conta da banda, orquestra e os estudos de montão. Eu não via problema algum em ele querer se aproximar de novo do meu irmão, mas tinha que sentar bem no meio do Jay e eu?! Havia espaço no outro banco, mas nãoooo, o intrometido tinha que atrapalhar a vista deliciosa do até então amor da minha vida!

A partir dali, se eu queria ter um momento pacífico com Jay Gatinho, precisava esperá-lo quando o último sinal batia para termos, sei lá, dois minutos de conversa até Heeseung e Jake chegarem, botarem a mão no meu ombro e falarem:

— Criança não pode ficar até tarde na rua, vamos pra casa.

— Ainda não é nem meio-dia! — Eu me desvencilhava deles, e aí tinha que encarar Jay como se aqueles dois patetas não estivessem atrás de mim, rindo à beça. Por sorte meu irmão já havia sumido atrás de qualquer mercadinho aberto para comprar refrigerante de latinha. Aliviada por isso, dei um sorrisinho ao guitarrista à minha frente. — Até amanhã, Jay-ah.

— Até amanhã, Jiji.

Ele sempre bagunçava o meu cabelo antes de o pai buzinar com o carro, mas nunca havia me chamado de outra coisa além de o meu próprio nome ou de "irmãzinha do Heeseung". E agora meu nome recebeu um apelido direto daquela boquinha linda que eu sonhava todo dia em beijar, mas mal pude ficar feliz e o trapalhão atrás de mim cascou o bico.

— Não vi graça nenhuma.

— "Até amanhã... JIJI!" — Jake fez uma voz infantil, caçoando de Jay. — Cuidado pra não acabar se iludindo, hein? — Ainda estava vermelho de rir conforme dizia isso. Ele envolveu o braço nos meus ombros e deu uma batidinha no meu nariz com o indicador como se eu fosse um bebezinho. — Ouvi dizer que o Jay é legal com todo mundo.

Empurrei o braço dele e segui o caminho, deixando-o para trás depois de dizer: — Você deveria aprender com ele, então.






Notinhas da Autora:

☄ Oi, pessoas! No começo era pra essa história ser uma oneshot, mas gostei tanto de escrevê-la que acabei dividindo em seis pequenas partes e transformei numa shortfic 🥺 Espero que gostem dela tanto quanto eu gosto e possam ter uma boa leitura também <3

(Também postei essa história no site vizinho.)

Jake Shim é um cara muito, muito irritanteWhere stories live. Discover now