4. Dia do brinquedo 🧸

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Cássia Reis e as amiguinhas começaram a receber cartinhas de admiradores e a falar de "namoradinhos", tornando insuportável o que já era ruim porque a Bruna era a crush dos meninos, logo, quando encontrei um bilhetinho para mim em cima da carteira, fiquei lisonjeada: Erick do Carmo havia escrito que eu era a mais linda.

Não demorou muito para que Cássia Reis e as amiguinhas se aproximassem de mim para saber mais sobre o tal bilhetinho e eu, ingênua, contei-lhes tudo.

— Por que você não manda um bilhetinho para o Erick também? — propôs Bruna.

— Nem sei o que escrever para ele!

— A gente te ajuda! — Cássia deu o assunto por encerrado.

As cartinhas prosseguiram por mais alguns dias, quando experimentei uma trégua do quarteto. Tudo ia bem até Elza e Eliza me chamarem para uma conversinha.

— Acorda para a vida, Tita! — Elza aconselhou-me. — Essas minas não gostam de você, estão é tirando com a sua cara!

— Elas são amigas do Erick.

— Essas minas odeiam você e o Erick nem sabe de nada! — desabafou Eliza.

— Ele não sabe?

— Ele é namorado da Camila.

— Que brincadeira mais sem graça, viu? — murmurei.

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Uma curiosidade me inquietava: o motivo de Elza e Eliza viverem no educandário. Faltava-me coragem para perguntar, no entanto, a ocasião perfeita chegou e eu não a desperdicei. A primogênita explicou-me:

— Nossa mãe morreu um pouco depois que a Eliza nasceu.

— E o pai de vocês? Vocês têm um pai, não têm? — Perguntei, dividindo minhas bolachas de maisena com elas. Como eu levava dez, dava cinco para cada uma. Elas deviam sentir muito mais fome do que eu.

— A gente não tem pai; por isso, mora lá no educandário.

— De qualquer jeito, vocês têm um pai, não têm? Ele nunca procurou por vocês?

— A gente não tem família. — Concluiu Eliza.

— Nem pai, nem vô, nem vó, algum tio, ninguém?

— Ninguém! — Elza olhou para baixo, meio pensativa, meio distante.

— Minha família é a Elza e, se alguém quiser me adotar, vai ter que adotar a Elza também ou eu não vou. Sem a Elza, eu não fico.

— Ela ainda sonha que vai ser adotada. — Desabafou Elza, mais realista, bastante consciente para uma garotinha de dez anos.

— Quem vem adotar quer bebezinho loiro de olho azul. Criança grande, não. No máximo uns 5 ou 6 anos, depois já está velha!

— Isso é muito cruel!

— A Eliza ainda sonha que vai aparecer algum casal querendo duas meninas que nem a gente.

— Mas acho que ela faz o certo, Elza. Ela tem que sonhar e acreditar. Vocês têm que acreditar que tem alguém que gostaria muito de cuidar de vocês.

— Acho difícil... — suspirou Elza.

— Numa dessas, de tanto ela rezar, Jesus mande pessoas boas que queiram cuidar de vocês. Tudo que você pedir para Jesus com o coração aberto, acontece. Eu não sei quando nem como, mas acontece...

— Depois que a gente diz que ela é um anjo, ela não acredita!

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Quando passei alguns dias de atestado em razão de uma virose, vovó me presenteou com um conjunto de plástico do qual vinham um espelhinho quadrado de mão, três escovas de cabelo, um pente e alguns elásticos coloridos.
Para uma garotinha de 7 anos, era ostentação brincar de cabeleireira com as amiguinhas no Dia do Brinquedo, toda sexta-feira, depois do recreio.

Simplesmente TitaWhere stories live. Discover now