Deixo minha mochila num canto da sala e me aproximo para acordar o garoto. Confesso que estava com dó, mas eu precisava lhe entregar a lista que eu terminei e ontem não consegui fazer isso. Eu teria mandado uma mensagem mas não tenho seu número então estava fora de questão.

— Vinnie. — murmuro baixinho ao tirar alguns cachos que caiam por sua testa. — Vinnie, você precisa levantar. — ele se remexe ainda com os olhos fechados.

— Só mais um pouquinho. — a rouquidão de sua voz me fez tremer na base. Merda de garoto dos sonhos.

— Vinnie por favor, precisamos estudar.

— Não quero levantar mamãe. — arqueio minhas sobrancelhas.

— Não é sua mãe.

De repente ele abre os olhos e os arregala imediatamente, soltando um grito e caindo para o lado oposto da cama de onde eu estava. Até eu me assustei com o estrondo que o impacto causou, por isso me levantei para ajudá-lo.

— Aurora!? Porra, o que você tá fazendo aqui? — ele pergunta se levantando sozinho, coçando os olhos pelo fato de ainda estar acordando.

— Eu, hm, eu vim aqui para estudarmos juntos. Terminei a sua lista de exercícios e...

— E não podia ter esperado qualquer outro dia ao invés de vir atrapalhar meu sono em pleno sábado a tarde!? — ele estava zangado. Muito zangado. — Por que você simplesmente não consegue me deixar em paz, garota? — veste rapidamente uma calça de moletom cinza e se afasta para o outro lado do quarto.

Engulo meu choro e firmo minha voz antes de ajeitar minha postura e chegar mais perto do loiro com fogo nos olhos.

— Não fala assim comigo! Eu não sou saco de pancadas. Sinto muito se vim até aqui em pleno sábado porque quero ver você tendo sucesso acadêmico e nós temos uma prova semana que vem de física, que, dizem ser uma das mais difíceis que nós já tivemos em todos os nossos anos escolares! — grito no mesmo tom que ele. — Eu sei que te fiz sofrer e já falei que sinto muito por isso e sei que mesmo você falando que me perdoou não é verdade porque você precisa ver em ações, mas porra, eu tô dando tudo de mim por você e você continua não valorizando isso como um babaca!

Nunca havia gritado com o garoto na minha frente, mas eu não aguentava mais ser desrespeitada dessa maneira. Não é justo! Eu tento me aproximar e ele me afasta sempre. Já entendi que vou ter que receber o troco por todo o bullying e estou tentando aceitar os julgamentos porque sei que mereço, mas é tudo tão... ah, é tudo tão torturante. Não acredito que ainda continuo me colocando nessa posição.

Será que Vinnie realmente valia pena?

A resposta sempre foi perfeitamente clara na minha cabeça, mas agora... dúvidas começaram a surgir. Tenho coisas demais para cuidar já com toda essa história de popularidade e admito que não achei que Hacker fosse me dar tanto trabalho. Fui tola em acreditar que ele iria me perdoar em um segundo? Fui e admito sem orgulho. Mas será que custa tanto assim me deixar ao menos... tentar?

O suspiro alto do loiro me tira dos pensamentos, fazendo eu notar que uma lágrima havia escorrido pela minha bochecha esquerda. Antes que eu a limpe com a manga do casaco que estava usando, entretanto, uma mão grande passa por ali, executando o trabalho por mim.

Olho meio confusa para o cacheado, que agora mantinha seu rosto perigosamente perto do meu. Engulo um seco quando sua mão não se afasta dali. Ao invés disso, passa a fazer um carinho gostoso com o polegar.

Seu olhar dá uma boa analisada no meu rosto todo — que provavelmente está vermelho devido ao choro — e de repente desce para uma parte específica: minha boca.

𝗵𝗶𝗴𝗵 𝘀𝗰𝗵𝗼𝗼𝗹 𝘀𝘄𝗲𝗲𝘁𝗵𝗲𝗮𝗿𝘁𝘀 ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora