21 - Recomeço

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Dois dias.

Foi o tempo que eu e Rick ficámos ali. Não saímos, apenas ficámos dentro daquele edifício comprido, passando nossos dias falando sobre nós, nossas vidas passadas, nosso caminho até ali.

Rick ficou, de certa forma, incomodado quando eu contei sobre a morte da minha filha. Falou que não poderia nem imaginar a dor de perder um filho, além de ter pensado que Judith havia morrido na prisão onde eles estiveram antes.

Além de conversarmos, todas as noites passadas ali, Rick me amava, no sentido físico da palavra. Já que estávamos sozinhos, e não havia ninguém para atrapalhar, aproveitávamos para juntar os nossos corpos como se fossem um só.

E eu estava irremediavelmente apaixonada por ele. Não dava para negar.

Foi bom, de certo modo relaxante, pode passar dois dias ali, longe de tudo e todos. Longe da ameaça chamada Negan, que pairava sobre nossas cabeças. Mas quando eu pensava sobre isso, um aperto surgia no meu peito. As crianças, e o grupo, estavam em Alexandria e a gente não sabia se, no entretanto, Negan decidira das as caras.

Então, assim, dois dias depois, ajudei Rick a distrair os zumbis, a carregar a comida na van e regressámos a casa.

Pelo caminho Rick me olhou e sorriu.

- Terei de dizer para o Carl.

Olhei ele e respirei fundo. - Isso parece assustador.

Ele riu. - Não, acho que não. Ele já gosta de você, então será algo fácil.

Soltei um riso nervoso. - Acha? Já vi acontecimentos assim, quando trabalhava no hospital, e não era fácil.

- Carl vai aceitar, confia em mim.

Rick esticou a mão livre na minha direção e segurou a minha mão, sobre a minha coxa.

Respirei fundo, olhando em frente.  Carl era um bom menino, talvez Rick estivesse certo.

E isso se verificou, realmente, nessa tarde, depois de tirarmos toda a comida da van e de ajudarmos a arrumar tudo, Rick me chamou para ir com ele na sua casa. Iríamos dar a novidade para o Carl.

Primeiro, Carl ficou nos olhando, em silêncio.

Eu me senti como se estivesse travando a respiração, antes de pular para um mergulho na piscina.

Depois ele sorriu torto, como se fosse o dono do mundo e deu de ombros. - Eu sabia que isso ia acontecer. - Ele se aproximou de mim e me abraçou. - Fico feliz que seja você.

Eu ri e quando ele se afastou, toquei no seu rosto. - Obrigada, Carl.

- Mas e aí? Vai se mudar para cá?

Olhei Rick, na verdade eu não sabia o que responder.

Rick me olhou ternamente. - A casa é sua se quiser.

Assenti. - Seria muito bom viver aqui, mas posso manter a minha casa?

Carl riu e eu olhei ele, sem entender.

- Já está prevendo fugir quando brigar com o meu pai. - E riu novamente.

Rick revirou os olhos e esticou a mão, derrubando o chapéu do menino.

Passei o resto do dia trocando as minhas coisas para a casa do Rick. E, quando coloquei a caixa de livros no chão da sala, já que eu iria ocupar a estante vazia que existia ali, Carl ergueu uma sobrancelha.

Ele e Judith estava sentados no tapete.

Olhei ele, interrogativamente.

- Livros? Como tem tantos assim?

Sorri. - Eu amo ler, então fui colecionando aqueles que chamavam minha atenção por cada lugar que eu passava. - Suspirei, jogando alguns fios de cabelo para trás, que haviam se soltado da minha trança. - Eu tinha muitos mais, no Santuário, mas deixei todos para trás. - Dei de ombros. - Agora não posso regressar para pegar.

Carl assentiu. - Um dia talvez consiga.

Neguei, sorrindo fraco. - Duvido que algum dia vá regressar naquele lugar. Não por vontade própria, pelo menos.

Quando anoiteceu, preparei uma refeição para os quatro, andando entre a cadeirinha da Judith, onde ela estava sentada, me vendo cozinhar, e o fogão.

Rick e Carl tinham saído, para ver algo nas plantações, e eu aproveitara para começar a cozinhar, que era algo que eu gostava de fazer. Me transmitia um pouco de normalidade.

Judith me sorriu quando eu entreguei um pedaço de maçã para ela, pegando e mordendo de imediato.

- Nossa, Ezekiel vai ficar feliz de saber que você adora elas.

Quando os meninos regressaram, mandei tomarem um banho antes de jantar, e Carl riu, batendo no ombro do pai.

- Pronto, já está virando um general.

Rick riu e os dois subiram as escadas, rindo e dizendo besteira entre eles.

Sorri. Era bom sentir que pertencia a algum lugar, normalmente isso nunca acontecia.

- Mel! - Gritou Rick do cimo das escadas.

- O que foi?

- Convidei o Daryl para jantar com a gente. - A campainha da porta tocou nesse momento.

Revirei os olhos. - Podia ter avisado mais cedo.

Limpei as mãos e me aproximei da porta, e foi aí que percebi que minhas mãos estavam suadas e tremendo.

Limpei as palmas nos jeans e abri, vendo Daryl me encarando.

Ele indicou o interior da casa com a mão. - O Rick me chamou.

Assenti e deu passagem a ele. - Claro, entra.

Daryl assentiu e passou por mim, entrando na casa e se aproximou da menina, que esticou a mão para ele bater.

Vi que ele estava sorrindo.

- Ela gosta de você. - Indiquei a Judith.

Daryl me olhou, sentando do lado dela.

- É... - Deu de ombros. - Também gosta de você.

Assenti e senti um silêncio constrangedor se instalando entre nós.

- Daryl.

Ele me olhou, ainda brincando com a menina.

Suspirei. - Eu sei que nunca será suficiente, mas... Eu lamento.

Daryl mordeu o lábio e assentiu, devagar.

- Tá. Tá tudo bem.

- Eu não... Eu não sabia que eu iria acabar aqui. Mas eu nunca concordei com os métodos do Negan.

Daryl deu de ombros. - Uma pessoa faz o necessário para sobreviver.

Assenti, olhando o chão.

- Eu não te perdoou. - Falou, me fazendo olhá-lo. - Mas você parece ter mudado e, claramente, não é como os outros então... Posso aceitar você.

Sorri fraco, assentindo. Eu me sentia minúscula do lado dele. Sua presença forte, ameaçadora, selvagem, me fazia sentir pequena e indefesa.

- Além disso. - Ele disse. - Rick escolheu você, então...

Eu ri da sua escolha de palavras.

- Obrigado, Daryl.

Ele me olhou, seu olhar muito menos ameaçador, e assentiu.

- Tudo bem.

Forgiveness - Rick GrimesUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum