Talvez fossem as roupas, algo que Louis não estava acostumado a ver em seu Harry. A jaqueta de couro preta lhe caia bem, uma grande estrela do rock provavelmente aprovaria o visual do mais novo.

Mas Louis ainda não tinha certeza se era aquela a pequena diferença.

Talvez fossem seus cachos cor de chocolate que estavam bem moldados e caiam suave em seu rosto, tão grande que quase encostavam no ombro de Harry. Ele não se lembrava de ver o cabelo do mais novo tão grande. Nem faziam muitos dias desde que eles se viram pela última vez.

É.

Talvez fossem os cachos.

_ Bom dia, Anjo. Mas acho que "capitão" já não é tão apropriado. - respondeu finalmente, com a voz rouca pelo pouco uso, tirando os fones.

Atrás de Harry, surgiram Niall, Liam, Zayn e Eleanor.

O que foi uma surpresa, mas ele não iria comentar.

_ O título não vai ficar tão longe de você, Louis. - Niall disse se acomodando em seu lugar.

_ Ele tem razão. - Eleanor proferiu. Seu rosto bem cuidado e gentil de sempre deu a Louis alguma sensação de conforto. Mesmo que não admitisse, sentiu falta de ter a amizade de Calder. - Ouvi pelas meninas que ninguém está suportando Clifford como capitão.

Louis responderia que sequer tinha condições de voltar a jogar, muito menos de comandar um time inteiro. Mas a voz irritantemente fina daquela alma velha que habitava o corpo de uma professora estremeceu até as células do garoto.

Sentia vontade de colocar seus fones novamente.

Alguns minutos mais tarde, se esforçando para não dormir sobre o livro de literatura, um Harry cuidadoso cutucou seu ombro.

_ Eu acho que você devia tentar voltar para o time. - comentou quase inaudível. - Capitão combina com você.

Louis sentiu suas batidas se acelerando e o rubor em suas bochechas se agravando como um pequeno farol.

Poderia desmaiar ali mesmo.

-∆-

"Eu, vivendo dentro do meu próprio coração, e viciado, de corpo e alma, nas mais intensas e dolorosas reflexões; ela, vagando despreocupadamente pela vida, sem pensar sobre as sombras em seu caminho ou no voo silencioso das horas negras. Berenice! Chamo seu nome. Berenice!..."

Louis lia Berenice, com o mesmo fascínio de quando lera pela primeira vez. Aquela poderia ser a centésima vez que ele mergulhava naquelas palavras, naquela angústia.

Fazia frio.

Eroda parecia ter um alvo sobre si onde as nuvens mais pesadas derramavam seus pesares.

Os olhos azuis de Louis ora percorria as páginas velhas e já rabiscadas de seu livro, ora admirava a chuva que batia forte contra a janela de seu quarto.

"E, das ruínas cinzentas da memória, mil lembranças tumultuosas assustam-se com o som! Ah, sua imagem está vividamente à minha frente,neste momento, como na época em que era tranquila e alegre!" 

Um pequeno flash de luz iluminou por completo o quarto cinza, sendo seguido por um pequeno estrondo do trovão.

Algo dentro de Louis se mexia inquieto. Não sabia se era fome ou o incomodo que a pequena solidão lhe causava. Poderia muito bem ser os dois.

Talvez fosse.

A chuva despencava lá fora, mas não impediu que Louis sem nem pensar se levantasse e calçasse seu all star esfarrapado, dirigindo-se até sua BMW com o livro de contos aberto em Berenice.

Eroda - Como Se Fosse A Última VezΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα