sobre o dia em que eu tentei te esquecer:

8 0 0
                                    

confesso que tentei esquecer de você, de novo. 

agora são 6h34 do dia 8 de janeiro, acabei de acordar, juro que não levanto tão cedo assim, mas algo me incomodou, eu sonhei com você, de novo. mas eu estava decidido, acredite, eu queria te desarraigar da minha alma, mas parece que é impossível, você chegou e ficou.

eu não lembro muito bem pra onde eu estava indo, mas eu fui, era um ônibus, ao passar na rotatória, fui caminhando para o fundo, procurando um lugar para sentar, eu vi você, estava linda, usava uma blusinha de alças finas, preta, o batom marrom escuro, tinha tinta no cabelo (como sempre), relutei comigo mesmo pra não sentar ao seu lado, mas você me viu, olhou no fundo dos meus olhos e sorriu, impossível, é impossível! mesmo contra meu querer, você me enfeitiça com seu olhar, isso é bizarro, você sempre me atrai, independente do dia, momento ou do meu temperamento. com um olhar sacana, você mirou o banco e olhou para mim. sorriu, não resisti, tirei a mochila das costas e sentei. nessa parte eu meio que me perdi, conversamos por muito tempo e foi um espelho do dia em que nos encontramos na praça. eu só lembro de ter respirado bem forte durante uns 15 segundos e ter fingido que ia espreguiçar. coloquei meu braço em volta do seu pescoço. você olhou no fundo dos meus olhos, senti como se você estivesse em mim, que lia e relia minha alma e decifrava passo a passo, cada pedaço. eu sorri pra você. você chegou bem perto do meu rosto. a nossa intenção era a mesma, suspirei bem fraquinho no seu rosto, eu podia sentir tua respiração quente nas minhas bochechas. eu via teus olhos castanhos cor de infinito, pelos quais eu sempre fui apaixonado, perguntei:

- você tem certeza disso?

então você respondeu:

- a única certeza é que eu quero você.

olha, eu não sei você, mas, essa foi a única e melhor resposta, mexeu comigo, me fez tremer da cabeça aos pés.

sem voracidade alguma, fechei meus olhos, você os seus, naquele curto espaço de tempo, parei e pensei: valeu a pena te esperar. sorri.

aquele foi o melhor beijo da minha vida, se bem que eu sabia que aquilo era só um sonho, eu nunca fui tão santo assim, tive meu lado ruim, mas naquele dia, tudo se perdeu. sua boca era exatamente como eu imaginava, carnuda e a cada mordida eu sentia um arrepio na espinha. sua respiração descompassada, irregular. eu puxei meu corpo, mas tua boca ainda estava na minha. eu acordei.

procurei por você e nada. as paredes riam, até o cadarço me fez cair; ao chegar no banheiro para lavar o rosto, senti seu gosto. olhei no espelho, chorei.

eu nunca vou esquecer isso, e talvez nunca te mostre esse texto, ou mostre, mas talvez demore tanto tempo que você vai esquecer de mim ou eu vou deixar de ser trouxa e esquecer você, mas por enquanto, eu vou estar na praça, te esperando; que lá esteja frio, como o gosto da sua boca. no sonho.

estranho, imperfeito e clássicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora