Capítulo 001

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»»——⍟—«« Passado »»—⍟——««

Há 9 anos, em 1886.

Fragrâncias. Isso é o que sinto todas as manhãs, tardes e noites. Não importa o horário. Não importa de qual evento de estar aqui. Tudo que sinto perto delas é tranquilidade, lembranças e esperanças. Não há defeitos nelas, exceto uma; ela me machuca ao invés de me reconfortar. Ela apenas me faz sangrar.  

Sempre me pergunto do por que de ela ser tão bela, mas também pode ser tão violenta. Um dia perguntei para o meu pai, e ele disse que nem todas as flores teve as chances de serem inofensivas, assim como os seres vivos, mas que, pelo menos teve a chance de serem esbeltas. 

Às vezes sempre me pergunto se sou uma delas, se sou as que não teve a chance de ser inofensivas. Mas meu pai sempre me diz que não sou assim, que eu sou ao contrário de todas elas, que eu sou diferente de todas as flores existentes. E no final sempre me dá uma bronca por eu estar pensando assim de mim mesma, que uma criança não deveria ter esses tipos de pensamentos tão negativos. Perdoe-me pai, perdoe-me por não saber evitar isso. Perdoe-me, por favor. Por favor, por favor, por favor-

- Mabel.

Sinto uma mão pousar sobre a minha cabeça, fazendo-me parar de encarar as rosas e saltar por conta do susto de que me fizera. Ergo a minha cabeça para cima para poder encarar os seus grandes olhos acastanhados.

- Ah, Mabel. - diz soltando um riso fraco. - Não acredito que está a vagar pelos pensamentos enquanto lhe ensino a como tirar os espinhos.

De repente começo a entrar em desespero, com medo de ele descobrir que estava sendo pessimista novamente.

- E-eu... Me desculpe, pai, eu não queria... eu juro- 

- Está tudo bem. - papai puxou-me em seus braços beijando os meus cabelos negros, e depois encarou as rosas em sua frente. - Está tudo bem, eu a entendo que é difícil esquecer das coisas horrendas, dos machucados. - apertou mais o abraço. - Mas olhe só: quando uma flor é bela, mas é infestada de espinhos, não quer dizer que não possa libertar-se de suas armas; ela pode ser inofensiva algum dia. Como estas rosas, que agora nós iremos libertá-las.

Soltou-me e pegou uma faca vermelha afiada.

- Observe. - diz tirando os espinhos na haste de uma rosa com a faca. - Tire os espinhos com cuidado, assim não irá machucá-la e nem a si mesma. Lembre-se de fazer isso apenas nas partes que terminarão abaixo da linha de água no vaso. 

Observei-o trabalhando com suas flores enquanto o sol radiava em seu cabelos dourados.

- Aqui, tome. - colocou a faca em minhas mãos enluvadas. - Agora é sua vez.

Apanhei a faca e a pequena rosa com as mãos tremulas, e comecei a tirar o primeiro espinho.

- Isso mesmo, filha, você está indo muito bem. - disse pousando sua mão em minha cabeça e bagunçando um pouco de meus cabelos. 

Sorrio tirando as outras pontiagudas com mais confiança.

- Senhor Barker.

Escuto o Sr. Bryant e vejo papai se levantar em frente à jardinagem de rosas vermelhas.

- Sim?

- O Sr. Suarman acabou de chegar.

- Ah, ótimo. Diz a ele que já estou indo, por favor. - disse tirando as luvas e colocando-as em cima de uma mesa próxima a nós.

- Sim, senhor.

Vejo o Sr. Bryant sair às pressas. Sorrio achando graça de como ele anda meio que desengonçado.

- Aqui está, Mabel. - papai entrega-me as rosas já sem espinhos até a metade do caule e tira a faca em uma das minhas mãos. - Entregue para a senhorita Éris e peça a ela que as coloque em um jarro próximo a janela de meu escritório.

Assinto com a cabeça em concordância e ele me encara sorrindo.

- Provavelmente o Darius veio juntamente com seu pai, então você pode brincar com ele depois de entregar as flores.

Assinto novamente. 

- Já estou indo, divirta-se. - diz já de saída e começo a correr, passando em vários corredores e cômodos até chegar na cozinha.

Procuro pela Éris pela cozinha enorme com detalhes brancos, pretos e dourados, que possui alguns móveis feitos de madeiras e utensílios pendurados em alguns suportes presos em uma parede.

Vejo ao redor todo procurando por ela, mas, ao invés de achá-la, acabei encontrando Airon Bredeen sentado em cima de um banquinho de madeira encostado ao lado da porta da dispensa.

Ele está a me encarar. Muito. Muito, muito mesmo. Ele nem se quer pisca!

Às vezes ele sempre faz isso, sempre fica observando as coisas atentamente, não se importando que isso seja um pouco estranho.

Começo o encarar assim como ele por vários segundos, minutos ou talvez horas. Os meus olhos começaram a arder, e mal estou conseguindo encará-lo por mais tempo. Mas olhe só, ele ainda não desistiu de me olhar!

Como é que ele consegue fazer isso por tanto tempo? 

- Olá, Mabel. - vejo Éris se aproximando de nós, e ela olha para mim e para Airon e sorri. - Vejo que encontrou Airon, ele está sentado aí há algumas horas. - soltou uma risada. - Ele não pode falar muito agora, hoje ele amanheceu com a garganta inflamada. Espero que ele tenha tomado o remédio que eu lhe dei.

Éris olhou para o garoto com as sobrancelhas levantadas, como se estivesse perguntando-lhe silenciosamente. Ele nem sequer respondeu ou a olhou, apenas começou a encarar o próximo alvo. O chão.

A mulher com cabelos grisalhos e olhos extremamente azuis olhou para as flores em minhas mãos.

- Estas rosas são de seu pai?

Assinto com a cabeça e entrego elas para ela.

 - E-ele pediu para colocá-las em seu escritório, próximos à janela. - sussurro, desejando que ela tenha conseguido em me ouvir.

- Oh, certo. Irei fazer isto. - diz cheirando as rosas. - O Darius está na sala principal esperando por você.

Assinto.

- Vamos, Airon. Venha tomar o seu remédio que te mandei tomar desde cedo.

Airon se levanta e vai até Éris com a cabeça baixa. E antes que ele passe pela porta, ele me olha com seus olhos de diamantes. Seu olhar é tão frio e distante, que chega me deu pequenos arrepios.

Após de eles saírem pela porta, me sinto fraca, como se aquele garoto tivesse sugado as minhas energias. 

Bufo com tédio.

Ele é tãooo estranho.

Blood DaisyWhere stories live. Discover now