026. Rachel Gorky

Začít od začátku
                                    

Seguro nas mãos o papel amarelado, velho e esfarrapado, este em que me foi entregue há 10 anos atrás.

Releio as regras novamente.

1- Não saia do carro, apenas espere.
2- Se alguém se aproximar, esconda-se.
3- NUNCA conte para as pessoas sobre o que viu ou ouviu.
4- Não seja curioso, apenas tenha medo.
5- Se você encontrar alguém, nunca faça contato visual.

Não olhe nos olhos.

Essas são as regras.

Sinto o carro passar por cima do cascalho, olho para frente. Estamos em uma floresta completamente escura, apenas os faróis do carro de Damon iluminam a escuridão.

── Estamos chegando.── Desvio o olhar para Damon.

Lá estava ele com suas roupas de todas as madrugada.

Camisa preta lisa, calça e botas pretas e a maldita bolsa grande.

── Não se esqueça.── refere-se às regras.

── Limpe suas mãos primeiro, elas estão ensanguentadas.── Anthony se inclina para mim e puxa a bolsa que estava ao meu lado.

Ele não olhou nos meus olhos, eles nunca o fazem isso nesses momentos. Anthony sabia que eu sempre ficava aprovada e não havia nada que ele pudesse fazer, nenhum dos dois poderia.

Ivan nos condenou a isso, condenou Damon a isso.

Damon pega uma garrafa de água que estava nas mãos de Anthony, ele estica as mãos para fora do carro, consigo ver algumas pequenas gotas de sangue preto avermelhado em seus dedos, que logo desaparecem quando ele os molha com água.

Damon devolve a garrafa para Anthony e abre a porta do carro, ele se vira e pega sua bolsa.

Com a cabeça baixa, ele olha para minhas mãos, evitando olhar para mim.

── Eu te amo, não se esqueça disso.

Sinto meu estômago revirar e logo meus olhos se enchem de lágrimas, mas as seguro.

Não irei derramá-las.

── Apresse-se, ou as meninas sentirão falta de Rachel── comenta Anthony.

Damon se vira e bate a porta do carro. Anthony pula para banco do motorista e desliga os faróis do carro.

Não consigo mais ver Damon claramente, apenas suas sombras a caminho da parte mais escura.

As reuniões da seita são sempre em lugares diferentes.

── Descanse, ficarei de olho.── murmuro para Anthony.

Anthony veio semana passada com Damon e eu fiquei em casa, sei que ele está cansado. Todos os dias Damon tem crises e apenas Anthony pode ajudá-lo.

Ele nunca me deixa ajudar, tem medo de me machucar.

── Qualquer movimento ou barulho estranho, me acorde.── Anthony abaixa o banco e se deita.

Me inclino para frente e pulo para o banco ao lado dele, descanso minha cabeça no banco e espero.

Espero o ritual começar.

Olho para o relógio do carro, três e meia. Claro, daqui a vinte minutos, gritos e vozes altas começarão.

Damon sempre volta completamente diferente, enfurecido, pupilas dilatadas, mãos sujas de sangue e botas sujas de terra.

Ao chegar em casa, ele desce com Anthony para o porão e no dia seguinte Anthony acorda pálido e fraco.

Damon sempre acorda cedo e vai cuidar dele, não é como se ele tivesse escolha.

Nenhum de nós temos.

Saio dos meus pensamentos com um grito alto e agudo, fechando a janela ao meu lado para abafar ainda mais os sons. Logo depois, sons de palmas e um coro.

O mesmo refrão em alguma língua que não conheço. Ouço o barulho dos pássaros ecoando quando eles se assustam com o barulho.

Viro minha cabeça na direção por onde Damon caminhou, vejo um pequeno ponto brilhando bem no fundo.

── Eles acenderam a fogueira. ── sussurro para Anthony.

── Se quiser, tampe os ouvidos, ficarei atento.── Volto-me para Anthony  aquele que mantinha os olhos fechados.── Não precisa ouvir.

Mesmo que eu cubra meus ouvidos, vou ouvir.

── Está tudo bem.

Encosto a cabeça no vidro e olho novamente para o fogo ao longe, vejo figuras passando.

Logo começam os gritos e o cheiro de sangue invade meu olfato. Talvez esteja coisa da minha cabeça, mas sempre sinto cheiro forte de sangue quando estou perto da seita.

Anthony diz que não sentir o cheiro.

Sinto os pelos do meu corpo se arrepiarem. São gritos de mulheres, homens, animais, tudo misturado.

Me pergunto como Damon consegue lidar com isso, tudo isso. Talvez o verdadeiro Damon não consiga lidar com isso, mas a coisa que vive nele sim, a parte podre e morta consiga.

Balanço minhas pernas para frente e para trás, meu coração começa a bater forte.

Por favor, não agora.

Mordo meu lábio e olho para Anthony, ele parece pacificamente calmo, já eu nunca consigo lidar com isso. Não consigo lidar com o fato de que meu irmão está sempre em perigo e não posso fazer nada.

Fecho os olhos e começo a contar, tentando controlar minha respiração.

Sinto a mão gelada de Anthony envolver a minha.

── Está quase acabando.── fala tão baixo que quase não consigo ouvir.

Olho de novo para o relógio do carro, quatro horas.

Mais cinco minutos.

De repente, a porta ao lado de Anthony é escancarada. Não tenho tempo para raciocinar, Anthony se levanta imediatamente com a arma engatinhada na mão.

── Saia.── Damon aparece.
Ele joga a bolsa para trás, por cima do banco de Anthony

Anthony não diz nada, apenas pula no banco atrás de mim.

── Ainda faltam cinco minutos, ainda não acabou.── falo baixinho.

Damon fedia a sangue, suas mãos estavam sujas, seu rosto estava suado e suas pupilas estavam dilatadas.

Ele não me responde, apenas liga o carro e dá ré. Ouço o som de um tiro e depois o barulho de carros e motos.

Damon estica o pescoço e olha para Anthony.

── Eu te aviso se eles estiverem nos seguindo.── Anthony vira seu corpo para o lado.

Sinto o carro balançando para os lados, não estamos indo por onde viemos.

Damon acelera o carro, olho pela janela e nos vejo indo embora na floresta, logo estamos no asfalto. Viro-me e não vejo nenhum carro ou moto nos seguindo.

Meu corpo é jogado para frente quando Damon para o carro.

── Estou com fome.

── Por favor, espere até chegar em casa.── a voz de Anthony tremer.

Damon aperta os dedos no volante e volta a dirigir, me espremo no banco do carro.

É sempre assim, a fome insaciável e o terror.

── Preciso voltar para casa de Evangeline.── encosto-me novamente no banco.

Damon confirma com a cabeça e segue a estrada.

As lembranças da noite em que espiei a seita vêm à minha mente, concentro-me na estrada tentando esquecer esse tormento, por mais que eu tente, as imagens nunca irão desaparecer, nem minhas cicatrizes.

NOITE DE HALLOWEEN (+18)Kde žijí příběhy. Začni objevovat