― Se eu ficar aqui por mais alguns segundos, juro que vou botar aquele jantar que não comi para fora. ― Balbuciei enquanto tentava me esquivar de algumas pessoas pelo caminho.

― Deixe de drama, Anna Lis. ― Mari arremessou de volta. Seus olhos sondaram o ambiente como os de uma águia, procurando por algo furiosamente.

― O que foi?

― O desgraçado do Philips sumiu na multidão. ― Respondeu com raiva e revirei os olhos achando uma graça como esse ódio entre eles funcionava. Não suportavam a simples menção do nome um do outro, contudo, os dois sempre estavam cientes da presença ou ausência dos mesmos.

Eu, por exemplo, melhor amiga dele e nem mesmo havia me ligado que o mesmo não estava mais andando a nossa frente como se fosse o rei da festa. E meu nervosismo não me deixou se importar menos. Tudo o que importava naquele instante era descobrir quem foi o gênio que substituiu toda a iluminação normal por luzes coloridas irritantes para cacete. Já podia sentir as dores criando forma em meu crânio e permanecendo.

― E por que se importa com isso? ― Questionei como quem não quer nada, mas bem atenta em sua resposta. Estava cansada de ficar no escuro...

― Você veio ficar com os amigos dele, não veio? ― rosnou. ― O idiota devia tê-la levado com ele.

Ela tinha um ponto, mas eu não estava deixando-a sozinha nesse lugar, vulnerável e propícia a fazer besteira.

Um segundo mais tarde chegamos ao que imaginei ser a sala de estar. Era um espaço grande com copos e garrafas de cerveja espalhadas por qualquer lugar plano. E então havia mais pessoas, divididas em três grupos: aqueles que se acomodaram nas extremidades do cômodo, conversando com um conhecido ou alguém que acabou de descobrir o nome. No sofá estavam aqueles que vieram para transar em público, mas confortavelmente. Eca. No centro estava o amontoado de corpos suados, porém, felizes, enquanto se moviam no ritmo da música. Alguns se divertiam sozinhos, outros estavam em grupos ou par, e por um segundo me imaginei fazendo o mesmo. Eu não sabia nem dançar dois passinhos para a direita, dois passinhos para a esquerda, mas aquela era a única parte da festa inofensiva, saudável e aparentemente emocionante. No entanto, o pensamento logo foi descartado quando notei um cara se aproximando indelicadamente de uma garota dançando sozinha, que ficou tensa no mesmo segundo e tentou se soltar do seu aperto inutilmente. O idiota continuou a segura-la perto, mantendo seu quadril colado no traseiro da garota claramente desconfortável. Senti o sangue ferver em minhas veias, e pronta para mandá-lo para o inferno, dei um passo na direção dos dois, mas minha melhor amiga foi mais rápida e passou por mim como um furacão ambulante. Pelo caminho, a loira tomou um copo de cerveja da mão de alguém e despejou tudo na cabeça do verme asqueroso. A desconhecida pulou para longe do aperto dele antes que pudesse se molhar junto, e deu uma joelhada incrível em suas bolas. Porra, eu quero ser igual as duas quando crescer. No momento em que o idiota saiu do seu estupor, ele se dirigiu as duas com puro ódio. Parecia um animal doente, gritando e gritando. Não dava para entender nada do que rosnava, contudo, mesmo a distância não parecia nada agradável. Nenhuma das meninas recuou, no entanto. Tudo o que fizeram foi cruzar os braços na altura dos seios e arrebitar mais o nariz. Mari disse algo arrogante o suficiente para fazê-lo perder a cabeça completamente e avançar na direção dela. Faça algo agora, a vozinha dentro do meu cérebro ordenou desesperada. Mas quando fiz menção de me mover outra vez, uma mão possessiva sobre minha cintura me fez congelar.

Droga, quantos idiotas assediadores tem nessa maldita festa?

― Aonde pensa que vai com tanta pressa? ― as palavras roucas soaram próximo ao meu ouvido e soltei o ar preso em meus pulmões, aliviada. Mesmo que não devesse. ― Não precisa se meter nisso, boneca. Os outros estão com elas agora. ― Sua respiração bateu contra meu pescoço, suave e quente, e me forcei a permanecer imóvel. Não, eu não estava atraída por ele, longe disso. Mas aquela região específica sempre foi extremamente sensível a qualquer tipo de atenção, e tudo o que eu menos precisava era de Paul Caradoc achando que tinha algum efeito sobre mim.

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