I

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O homem permaneceu sentado na mesma posição por longos minutos, Livie incomodada com o silêncio, cantarolou:

- Estou esperando...

Eric deu um suspiro frustrado e indagou com uma voz baixa, como se estivesse se controlando:

- Você não vai desistir, não é?

- Nunca desisto.

O homem balançou a cabeça em negativa e quando levantou a cabeça Olívia preferiu que ele não tivesse o feito, ele estava chorando. Ela odiava quando as pessoas choravam, nunca sabia o que fazer. Não sabia lidar com a própria dor, imagine com a dos outros.

- Pois bem, Sra. Irritante, agora você vai ouvir. - falou suspirando e encostando-se no sofá, encarando o teto. - Eu sou médico generalista, "clínico geral" pra você, - falou fazendo aspas com os dedos, como se debochasse da leiguice da mulher - e estava de plantão quando deram entrada no hospital. Um acidente grave havia acontecido, uma mulher morrera na hora. Quando fui atender ao homem simplesmente descobri que o homem se tratava do meu irmão mais velho, que estava ali, na minha frente, a beira da morte e suplicando-me para cuidar de sua filha.

A mulher sentiu um aperto estranho no coração, uma vontade maluca de cuidar do homem a sua frente que parecia ser forte, mas estava perdendo a compostura diante da situação.

- Agora ponha-se no meu lugar, - prosseguiu - eu nunca, nunca mesmo, desejei ter uma vida assim. Meu irmão quem sempre sonhou em casar, ter filhos e de repente eu perco um dos caras que eu mais amo na vida e com ele a minha cunhada que era mais como uma irmã. E para ficar completo meu irmão me fez prometer que cuidaria da coisa mais preciosa da vida dele, eu não acho que posso, Olívia. Eu, eu...

O homem desabou e jogou-se nos braços da mulher num choro interminável. Livie a princípio ficou imóvel, chocada demais para reagir. Depois caiu em si e começou a tentar acalmar Eric que chorava desconsolado em seus braços.

- Shh, vai ficar tudo bem. - sussurrou - Vai passar, você vai ver. Tenta manter a calma, pela Cat.

Após longos minutos que mais pareceram horas, Eric recuperou a compostura e falou numa voz contida:

- Me desculpa, eu mal te conheço e faço essa cena na sua frente. É que eu passei o dia tentando ser forte, tentando ser a rocha que o meu irmão seria. Tentei não desmoronar na frente dos meus pais e da Cat mas você me pareceu tão receptiva. Me desculpa, de novo. Isso não vai mais acontecer.

- Tudo bem, mesmo. Ninguém é tão forte assim quanto deseja, você já aguentou tanto. - Livie falou compreensiva - Desculpa a pergunta indiscreta mas onde e de que horas vai ser o funeral? Eu falei sério quando disse que era amiga da Su. - deu um sorriso sincero ao lembrar-se da vizinha. Iria realmente sentir falta dela.

- Espera aqui. - Eric começou a procurar por um papel, anotou o endereço e entregou a ela - Vai começar por volta das 14h.

- Tá, obrigada. - fez-se um silêncio constrangedor - Então eu vou indo, boa noite.

Saiu em disparada para a porta sem se importar em receber alguma resposta. Estava estranha. Aquele abraço trouxe uma sensação bem familiar: ela sentiu-se em casa.

***

Olívia não conseguiu dormir, passou a noite em claro pensando no abraço. Uma sensação estranha se apossou dela desde o momento em que eles se largaram, sentiu uma falta que só uma pessoa poderia suprir. Ele. Após passar horas matutando resolveu uma coisa: não ia se deixar levar pelo que aconteceu, ele estava frágil e precisando de apoio. Foi isso, só isso. Tentou convencer a si mesma. Além do mais, foi um grosso no momento em que se conheceram e a primeira impressão é a que fica.

Eu Vou Cuidar de Você (COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora