É véspera de natal em Recife e foi nessa atmosfera que a família Cavalcanti resolveu se reunir para comemorar o natal, no hotel Castellu's, onde a famosa Chef, Maki Yoshida, especialista em preparo de baiacú, estava atuando no momento.
Já estavam os sete na mesa quando ela chegou para cumprimentá-los.
- Feliz véspera de Natal a todos - disse com simpatia. - Hoje é um dia muito especial e desejo dar uma experiência gastronômica memorável a vocês. Preparei um Menu a pedido de Anna, que depositou sua confiança, e uma quantia generosa em minha conta, para a satisfação de todos - acrescentou em tom de brincadeira
- É uma honra te ter com a gente e estou confiante que este Natal será inesquecível - disse Anna, com seu carisma habitual.
Anna era a mais nova da mesa. Com 28 anos, e posição de herdeira, não tinha muitos problemas na vida, estava assegurada da riqueza de suas mães, Nayara e Yanna. E sua fortuna prosperou ainda mais quando conheceu Luahn, seu marido. Anna o amava muito e era capaz de tudo por sua felicidade.
- Não como essas coisas - falou Silas, beirando a irritação. - Não entendo a apreciação a essa modernidade, inimiga dos bons costumes. Comida crua? Tenha santa paciência!
- Sushi não tem nada a ver com modernidade, Silas. Só é uma comida de uma cultura diferente da sua, e você devia ter mais respeito às origens da Chef Yoshida! - Disse Natália, contrariada com o marido.
Tio de Anna, e um homem ortodoxo, Silas era rígido, e nunca sorria sem um motivo amargo por trás. Era uma pessoa difícil e tentar conquistar sua feição não era tarefa fácil. Foi um milagre ter se apaixonado por Natália, a única pessoa no mundo que parecia tolerar sua arrogância.
- Se intolerância enchesse barriga você seria obeso, Silas - Nayara debochou, arrancando uma risada de Gabriel, seu sobrinho.
- Nayara, pare com isso! - Repreendeu Yanna. - As pessoas não tem culpa de ter a mente tão limitada... - piscou para a mulher, que soltou uma gargalhada gostosa.
- Deixem o tio Silas em paz, mães! É natal, pelo amor de Deus! - Anna falou irritada. - Pedi para que preparasse algo com carne vermelha para ele.
- Obrigada, Anninha - agradeceu Natália.
Nayara e Yanna eram espontâneas naturalmente, uma por ansiedade, outra por senso de aventura. Decidiram engravidar juntas e buscaram um doador de esperma bonitão, até que Anna veio ao mundo.
- Vou experimentar tudo, principalmente o baiacú. Gostaria de ver o preparo ao vivo, posso? É uma oportunidade única - Yanna perguntou com entusiasmo.
- Eu peço para chamá-la.
- Eu não vou comer baiacu, e você também não deveria Yanna - Nayara falou.
Se seguiu uma pequena discussão entre as duas, até Nayara desistir de tentar convencê-la.
- A única coisa que irei rejeitar é a sobremesa, estou de dieta - declarou Gabrie.
Gabriel, assim como Anna, era filho único. Mantinha uma ótima relação com a mãe, e uma péssima relação com o pai. Seu corpo magro denunciava sua má alimentação e seu rosto tinha uma marcação pouco saudável.
- Você não pode estar falando sério em comer baiacu, Gabriel. - Nayara se manifestou, genuinamente chateada.
- Se acalme, tia. Não vai acontecer nada.
- Quando você morrer não reclame!
- Nayara, agora já chega! - ralhou Natália.
- Ainda bem que das duas, uma sobreviveu a degeneração dos invertidos, gêmeas idênticas, mas nem tanto assim - disse Silas, com um sorriso áspero.
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O Natal dos Cavalcanti
Mystery / ThrillerDeveria ter sido só mais um natal entre a família Cavalcanti, mas ninguém poderia imaginar os eventos que marcariam aquela chuvosa manhã de natal.