10| Você não é um monstro

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― A sua dupla acabou de entrar, sortuda. ― Ela declarou alegre, e me virei para encontrar quem quer fosse.

Meu estômago afundou tão fundo que, por um momento, acreditei estar em queda livre. Em queda livre direto para o inferno, devo admitir, porquê o diabo havia acabado de entrar na sala, mais irresistível do que nunca. A mancha horrorosa de batom tinha sumido da sua bochecha esquerda, e a camisa branca junto com o blazer preto haviam sido trocados por um moletom vermelho vinho. Os cabelos negros estavam húmidos e pareciam cheirosos demais para não serem apreciados da forma correta...

E qual seria a forma correta?

A vozinha irritante voltou a soar e senti minhas bochechas esquentarem no mesmo instante. Eu era uma vergonha total... tinha dado um fora no garoto uma semana atrás, e agora estava babando nele que nem uma idiota. E céus, eu devia ter sido alguém realmente muito ruim em outra vida, pois apenas isso podia explicar o fato de estar sempre acabando presa a ele de uma forma ou de outra.

― Vamos, Sr. Stone, se apresse! ― Maura o chamou de repente, me fazendo dar um pulinho sem sair do lugar. ― Estará fazendo dupla com a Srta. Scott nesta aula.

Se havia alguma dúvida sobre Dean Stone me odiar pelo o que fiz semana passada, essa foi apagada do planeta terra quando seu olhar encontrou o meu pela segunda vez em duas horas. A mágoa tinha sido escondida no fundo mais escuro da sua alma, e tudo o que havia restado era um grande vazio de nada. Percebi minha barreira se estilhaçando aos meus pés conforme o garoto se aproximava como um lobo prestes a destroçar sua presa. Minha respiração se tornou irregular, minhas mãos ficaram húmidas e a culpa sufocante me inundou por seu aspecto cansado e comportamento sombrio. Quando parou a minha frente, apenas dois passos de distância, busquei em seus olhos por qualquer emoção que pudesse me fazer se sentir menos cruel, mas não encontrei nada. Dean só tinha escuridão no lugar que mais me chamavam a atenção.

― O que vai acontecer com você? ― As palavras que queimavam minha garganta desde o fim do almoço finalmente saltitaram para fora, hesitantes. Dean pareceu ser pego de surpresa pela forma como suas sobrancelhas se arquearam brevemente, mas a indiferença logo tratou de mascarar suas emoções.

― Isso realmente importa? ― disse em um sussurro rouco.

― Acha que eu perguntaria se a resposta fosse "não"?

― Eu não acho nada, Scott. Apenas sei... ― as mãos se esconderam nos bolsos do moletom, e seu olhar percorreu o espaço a nossa volta.

Seguindo seu movimento fui capaz de notar a atenção que nós, ou melhor, ele estava recebendo da turma, e os olhares não eram nenhum pouco amigáveis. No entanto, Dean não parecia afetado pela atenção negativa que recebia. Pelo contrário, com uma calmaria invejável, seu olhar se arrastou por cada rosto retorcido e lhes ofereceu um sorriso desdenhoso para cada um deles.

― Eu não acho que saiba, Dean... ― murmurei, fazendo com que ele parasse o que estava fazendo para me olhar. ― Se acabar sendo expulso por algo que nem mesmo pretendia fazer, nunca vou te...

― Por algo que eu não pretendia fazer? ― me cortou, com curiosidade indisfarçável.

― Quebrar o braço dele nunca passou de verdade pela sua cabeça...

― E porque não? ― seus olhos brilharam em desafio, me dando bolhas no estômago.

― Não era você. ― Repeti a mesma coisa de horas atrás, recebendo um sorriso sarcástico em resposta.

― Ainda insistindo nisso?

― Pode pensar o que quiser, mas sei que conheço pelo menos uns 50% do Dean Stone. Não me apaixonei por um cara desalmado... ― Respondi calmamente, encarando seus olhos fixamente. ― Tive cinco anos para conhecer um lado bom em você, por mais que esse lado quase nunca fosse usado comigo. E por mais idiota que isso soe, por mais contraditório que pareça ser, não consigo ligar você a uma pessoa ruim o suficiente para machucar alguém por prazer.

Sempre | Melhores momentosWhere stories live. Discover now