Capítulo 20 - Novos horizontes.

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Duas horas depois que ele saiu, Céu ainda se encontrava deitada em sua cama, em posição fetal em seu quarto escuro. Já passava do meio da tarde e ela não conseguia fazer mais nada além de chorar. Se achava tão  inteligente, tão auto suficiente e acabou caindo naquela situação deprimente.
O que quer fosse o relacionamento deles, nunca colocaram rótulos, a única condição era que não houvesse mentiras. Não obstante, tudo era absolutamente uma mentira, desde o primeiro encontro, o primeiro beijo, tudo. Longe de ser um cara legal com quem ela estava compartilhando momentos, ele não passava de um playboy mimado que estava jogando com ela. E ela caiu feito um patinho! De que havia adiantado todos aqueles anos se virando sozinha, se protegendo do mundo, se ela não foi capaz de identificar um lobo em pele de cordeiro.
Para piorar ele foi embora e levou só o celular, a casa estava repleta de pertences dele, roupas, itens de higiene pessoal, aquilo poderia ser uma desculpa para ele voltar. Por um momento ela teve que rir de si mesma, aquelas nem mesmo eram as roupas verdadeiras dele. Nunca um CEO de uma empresa como a Global iria usar roupas como aquelas, que apesar de bonitas eram extremamente simples. Pelo que lembrava, em seu guarda roupas só entravam ternos de marcas caras e famosas e sapatos italianos.
Tudo que havia ficado seria deixado para trás, inclusive ela. Tentava entender em como se transformou de uma mulher humilde e lutadora, em caçadora de fortunas oportunista, segundo as palavras do odioso pai dele. Tudo isso do dia para a noite, era muita coisa para processar. Maria do Céu, você já foi mais esperta. O pior de tudo era reconhecer  que pela primeira vez na vida  ela havia se apaixonado. Justo daquela vez, justo por aquele homem. Deu o seu amor a um coração que não tinha, e o pior de tudo é que ele a havia avisado. Também não podia se culpar, pois ele soube mexer as cordas, como ela não iria se apaixonar pelo homem que ele fingia ser, ou pelo que ela havia inventado dele.
Decidiu que precisava se recompor, não adiantava ficar chorando igual uma histérica no escuro. Levantou-se, escolheu uma roupa e foi tomar um banho, na expectativa que a água levasse embora um pouco de todo aquele drama. Sempre foi uma mulher forte, e voltaria a ser. Não seria um boy lixo qualquer que a faria perder o prumo. Depois do banho ela estava um pouco mais relaxada e foi tentar comer alguma coisa.
Um tempo depois bateram à porta, e ela temeu saber de quem se tratava. Decidiu não abrir, mas as batidas continuaram.
- Maria do Céu, abre por favor, eu sei que você está aí dentro.
Ela seguiu em silêncio, na expectativa que ele fosse embora.
– Céu abre logo, a gente precisa conversar, daqui a pouco os vizinhos vão ficar curiosos.
Ela se aproximou da porta e falou, ainda sem abrir.
- Eu falei muito sério quando disse que chamaria a polícia. Isso dará aos vizinhos um show ainda maior. Um dia você sai em uma ambulância, e no outro em uma viatura de polícia. O seu pai com certeza vai amar.
– Por favor, abra. A gente precisa conversar.
Ela soube que ele não desistiria tão fácil, a única forma de fazê-lo ir embora, seria se o convencesse que teria uma oportunidade de falar um outro dia. Procurou se acalmar para respondê-lo.
– João, vai embora, é tudo muito recente. Eu preciso de um tempo para pensar. Quando eu conseguir colocar as ideias em ordem eu procuro você.
Houve um momento de silêncio no outro lado. Como se ele ponderasse se devia ou não acreditar no que ela dizia.
– Tudo bem, mas você promete que vai me ligar? Eu venho a qualquer hora e qualquer dia. E promete que vai se cuidar?
Que ironia ele tentando parecer todo preocupado.
– Tá legal, eu só preciso de uns dias.- Mentiu ela.
– E promete que não vai demorar muito?
– Não força a barra João!
– Tudo bem, tudo bem. Só me chama assim que puder. E se precisar de qualquer coisa  me liga.
Ele disse isso e foi embora, a deixando outra vez sozinha, exatamente como fora quase a sua vida inteira. Por hora ele lhe daria um tempo, mas não acreditava que ele teria muita paciência para esperar.
Aquilo tudo era muito estressante. O que faria agora? Todo o dinheiro que tinha era ele que havia dado, até o seu salário era ele quem estava pagando, mesmo sendo em virtude do acidente, aquilo era humilhante demais. Depender dele dessa forma. A empresa de limpeza não a aceitaria de volta em tão pouco tempo, depois do grave acidente que teve, com medo que tivesse ficado sequelas. E mesmo que a aceitasse, a empresa dele ainda era o local do contrato. Estava em um beco sem saída financeiro.
Quem sabe poderia se mudar, trocar de ares, não havia nada que a prendesse ali mesmo. Poderia deixar a casa bem fechada e pedir ao Jão para ficar de olho. Teria que ir para um lugar afastado, onde ninguém a conhecesse, assim poderia recomeçar, e deixar tudo aquilo para trás. Seria uma aventura e tanto, até mesmo uma grande loucura, mas ela não via outras opções. Se ficasse, ele a procuraria por algum tempo, tentando se fazer de bom moço, e isso seria muito inconveniente. Depois  a vida de ambos seguiria, mas ela teria que voltar ao emprego antigo, e aquela situação  era para ela inimaginável, não podia nem sequer pensar em voltar a conviver com ele. Não podia inclusive pensar em habitar o mesmo planeta que aquele homem.
Resolveu ir se deitar, depois do dia cansativo e tentou conciliar o sono. Era difícil, aquele quarto lhe trazia muitas lembranças, o lugar todo na verdade. Onde ela andava dentro de casa havia uma lembrança dele. Ele deitado no sofá com a perna machucada ou a ajudando a fazer a comida para os dois. Quando ria das piadas idiotas delas, será mesmo Deus que tudo aquilo havia sido mentira e fingimento? Como uma pessoa podia ser tão falsa assim. E como ela podia ser tão azarada? Fingir que se importa com uma pessoa, para aplacar a conciencia e conseguir um pouco de sexo. Ela precisava tirar aquele amor do peito, antes que fosse destruída por ele e pelas lembranças do que foram os melhores dias da sua vida. Lembrou de algo que disse a ele no dia em que foram a cachoeira, que a vida era um abacaxi. Agora podia constatar com ainda mais propriedade que aquela era a maior verdade do universo. Sua vida que nunca foi fácil, havia ficado um pouco mais complicada.
Em meio ao caos em sua mente, ela finalmente pegou no sono, apenas para sonhar com ele. Podia sentir  os braços dele ao redor dela em uma deliciosa conchicha, como tinham se acostumado a dormir. O calor do corpo dele junto ao dela, a respiração pesada em seu pescoço. Talvez sua mente tenha ficado confusa por causa do cheiro dele, que ainda estava em sua cama, cobertas e em seus travesseiros. Céu acordou no dia seguinte, ainda cansada, não parecia que havia dormido tanto, devia ser em virtude de seus sonhos. Era até uma sorte que não tivesse amigos próximos, pois estava prevendo que ela seria uma pessoa extremamente deprimente de se conviver nos próximos dias. Levantou-se para planejar quais seriam os próximos passos que a ajudariam a sumir no mundo.  Não teria muito tempo para se organizar, deveria primeiro decidir para onde iria.

A vizinha do CEOWhere stories live. Discover now