15. INSEGURANÇAS

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Monster - Shawn Mendes ft. Justin Bieber
"Mas e se eu tropeçar?
E se eu cair?
Então, eu serei o monstro?"

Josh

Pela intensidade do sol no meu rosto, era notável que estava beirando o meio dia. Acordado, mas com os olhos ainda fechados, percebi que Any permanecia deitada ao meu lado. Quando finalmente os abri, resmunguei quando não recebi nada além do escuro. Confesso que inconscientemente ainda acordava todas as manhãs esperando que meus olhos funcionassem magicamente.

Nunca aconteceu.

O sentimento ruim, porém, se afastou quando meus pensamentos se direcionaram à noite passada. Lentamente, relembrava a noite longa que compartilhei com Any e um sorriso se formou em meus lábios.

— Bom dia — a voz doce e rouca enunciou, fazendo-me tomar um pequeno susto. Achei que a garota ainda estava dormindo. — Está sorrindo logo cedo?

— Pensei em você — respondi. Com uma risada, Any beijou meus lábios.

Havíamos combinado de passar o dia treinando para a final das Mundiais, já que a data da apresentação final estava cada vez mais perto. Em poucos dias, estaria viajando para Nova York e patinando para milhares de pessoas, em busca do título mais importante na carreira de um patinador.

Era arriscado me apresentar sem ter treinado por algum profissional. Em uma final como esta, os atletas estão muito bem preparados e treinados por pessoas renomadas, como Heyoon. Entretanto, eu iria correr o risco. O máximo que pode acontecer é que eu fique em último lugar.

E ficar em último lugar em uma final mundial era algo gigantesco e com certeza não era ruim.

Então, após nosso café da manha, seguimos para o ginásio de San Francisco determinados à ter um longo dia de treinos. Ao chegarmos ao local e finalmente vestir meus patins, me aqueci deslizando pelo gelo sólido e relembrando as dimensões do próprio.

— A arena tem o dobro desse tamanho — Any comentou, levemente preocupada. — Precisamos pensar sobre isso, já que ocupação de espaço é uma das coisas que os jurados levam em consideração.

Sorri ao perceber que Any estava inteiramente dedicada ao mundo da patinação.

— Você soou como uma profissional agora — revelei. — Nem parece uma futura advogada.

— Já posso ser considerada uma treinadora, né? — ela indagou com humor, fazendo nós dois darmos risada. — Vou colocar a música. Prepare-se e finja que já estamos em Nova York.

Com 10 segundos de pausa, Chandelier saiu das caixas de som do ginásio. A apresentação se iniciava com movimentos lentos, porém elaborados, e ao decorrer da música, os passos iam acelerando. Era uma performance de alto nível e digna de uma final.

O triplo era um dos movimentos mais difíceis a ser realizado, e tomava seu lugar bem no meio da música. Consistia em três saltos seguidos no ar e, se realizado com perfeição, garantia pontos decisivos.

Quando a hora do salto chegou, finquei meus patins na superfície sólida. Um salto.

Dois.

Respirei fundo ao iniciar o terceiro.

Entretanto, um dos meus pés enfraqueceu-se. Ao aterrisar, perdi completamente o equilíbrio e mesmo tentando me apoiar com as mãos, caí no chão.

Não era a primeira vez que um movimento dava errado e eu ia de encontro com o gelo. Porém, aquela falha parecia mais grave. Sentia meu pé latejar.

— Josh! — Any exclamou, percebendo minha expressão de incômodo. — Está tudo bem?

Mordendo meus lábios, a respondi em poucas palavras:

— Está doendo.

Suas mãos, então, massageavam o machucado. A dor aumentava a cada toque.

— Vem, senta aqui. — Delicadamente, Any me puxou pelos braços e sentou-me em um dos bancos do ginásio. Um saco de gelo apareceu no pé já sem patins em poucos segundos. — Isso deve aliviar.

Com os olhos fechados e rosto tensionado, deitei minha mão sobre a minha cabeça com decepção.

— Não acredito que isso aconteceu — fui sincero. — Faltam poucos dias para a final e eu acabei de estragar tudo.

— Ah, Josh, não é a primeira vez que isso acontece — a mulher disse em um suspiro.

— Exatamente! — reclamei. — Como será no dia da final, então? Irei cair no chão e não vou conseguir continuar. As pessoas vão perceber tudo.

Senti Any se levantar e por algum motivo, minha intuição dizia que ela me encarava.

— Isso acontece com todos os atletas, Joshua. Você tem que parar de se culpar por tudo — em tom firme, ela enunciou. — Na final, você vai dar seu melhor para ter uma ótima performance. E se não der certo, tudo bem. Coisas assim acontecem, não tem como evitar.

Pela primeira vez, fui capaz de conter minhas lágrimas. Se eu quisesse aquele título, teria que me esforçar e aceitar a realidade.

— É verdade — concordei. — Desculpa.

— E para de pedir desculpas toda a hora! Você não fez nada — ela riu, entrelaçando seus braços em meu pescoço e logo depois o beijando.

— 'Tá bom, desculp- — Me calei quando Any deu um tapinha em meus ombros. — Quer dizer, não-desculpa.

— Assim é melhor — Gabrielly disse.

Coloquei a garota em minha frente e a beijei. Após isso, nos mantemos abraçados por mais um tempo.

— Acho que já estou pronto p'ra outro tombo — falei.

— Tem certeza? — questionou ela.

— Absoluta. — E então, me levantei, — Vamos começar de novo!

Sendo assim, passamos 6 horas (que pareceram minutos) no ginásio. Minha companheira e quase-treinadora se tornou cada vez mais consciente sobre as regras da patinação e estava executando um ótimo papel. Mesmo com mais algumas falhas, no fim do treino, o solo já estava praticamente perfeito.

Finalmente, me sentia confiante e pronto. E a principal causa disso era, com certeza, Any Gabrielly.

Ice Castles | BeauanyWhere stories live. Discover now