10. LAR

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Hard Place - H.E.R

Any

Josh estava realmente se esforçando em nossos treinos — agora diários — de patinação. Realizar giros já era algo extremamente fácil para ele naquele ponto e estávamos trabalhando em saltos mais avançados, o que foi um sucesso. Beauchamp tomou coragem para conquistar a confiança que o levou para o gelo no início. E eu, como uma boa amiga, estava orgulhosa.

— Perfeito! — comemorei, ao observar o último salto do dia. — Sua evolução é gigante, Josh.

— Obrigado. Devo confessar que isso não seria possível sem você — agradeceu, sorrindo ladino. Seu comentário me fez soltar uma risada. — Acho que já é tarde, não? Podemos ir para a minha casa.

Sentia que ele podia ler meus pensamentos às vezes.

— Seria ótimo — respondi. — Até porque, Noah convidou Sina para passar a noite no apartamento, e eu não estou a fim de ouví-los durante a noite inteira. Se é que me entende.

Ele gargalhou e, caralho. Seu sorriso era extremamente lindo e eu havia me esquecido desse detalhe.

Nós fomos até o carro e o caminho foi acompanhado por um silêncio confortável, até eu ligar o rádio. Como eu estava dirigindo e não conseguia me concentrar sem uma playlist de músicas, Hard Place, de H.E.R., ecoava pelos auto-falantes do automóvel.

''And if I had to choose
My heart or you
I'm gonna lose, yeah''

(E se eu tivesse que escolher
Meu coração ou você
Eu iria perder)

Sem aviso prévio, Josh encostou sua mão esquerda em minha coxa, e passou a acareciar o tecido da calça. Eu retribuí, afinal, não me sentia incomodada com o toque.

— Any — ele chamou. — Posso te fazer uma pergunta?

— Pode sim. Acabamos de chegar — proferi, estacionando o carro na frente da residência.

— Podemos ficar aqui no carro — se apressou. — Se não se importar, claro. — Apesar de ser um pedido inusitado, aceitei, conquanto. Sem delongas, Josh deu início a sua pergunta: — O que você faria se estivesse apaixonada por alguém que não deveria? Tipo, algo que na sua percepção, não daria certo.

Engasguei com minha saliva ao ouví-lo. Porque o garoto gostaria de um conselho amoroso, especialmente vindo de mim?

— Ah, Josh... — limpei minha garganta. — Acho que depende da situação. Se realmente tem certeza de que não irá dar certo, tenta se afastar. Mas não custa nada tentar e você deveria se permitir a amar alguém novamente. Pode valer a pena.

Não conseguia distinguir à quem Beauchamp estava se referindo. Estava ele já se envolvendo com outra pessoa? Era eu, já considerada apenas uma amiga?

— O problema é que... eu já tive um relacionamento com essa pessoa. E eu estou disposto a dedicar meu amor à ela novamente.

Ou ele estava falando sobre nós?

O toque em minhas coxas estava cada vez mais intenso. Pela primeira vez, sentia que Josh estava realmente me encarando. Ele parecia se esforçar para olhar diretamente no fundo dos meus olhos, e eu estava quase paralisada.

— Estou passando por isso também — comentei, roçando meus dedos em sua camiseta.

Eu sabia. E ele também.

— Eu sei. Queria que tudo voltasse a ser como antes — Josh disse. Meu silêncio foi mais efetivo do que palavras.

Inesperadamente, ele ergueu uma de suas mãos e procurou pelo meu rosto, o acariciando.

— Sinto sua falta — disse, se aproximando cada vez mais. — Sei que está aqui. Mas não é a mesma coisa.

— Podemos fingir que é. Ou pelo menos, tentar.

Sem nos importarmos com tal coisa, nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. As mãos de Josh dedilhavam cuidadosamente cada parte da minha face e eu o analizava com os olhos.

— Você sempre foi extremamente linda — disse ele, enquanto traçava minha boca com a ponta dos dedos.

Ele contornava cada parte do meu rosto. Passou pelas bochechas, meu nariz reto, e por fim, meus olhos.

Não tínhamos tempo a perder. Eu o agarrei sem piedade e, como mágica, nossos lábios estavam colados.

Nossas línguas se movimentavam em sincronia, e seus olhos voltados para baixo brilhavam ao refletirem sob a luz do sol. Eu mordia meus lábios já úmidos involuntariamente.

Nos atraíamos como imãs, implorando por mais. Estávamos sedentos pelo toque e todo o prazer reprimido dos dias anteriores, foi descontado no beijo. Nossa linguagem do amor, no fim de tudo, sempre seria o contato físico. Em pequenas pausas, era possível ouvir a respiração ofegante e nervosa de ambos. Josh me apoiou em seus braços e sorriu, me dando mais um selinho por fim.

— Obrigado por isso. — Suas bochechas ruborizadas faziam-me segurar a risada. Ele sempre corava em momentos mais íntimos.

— Josh — o chamei. — Agora sou eu que tenho que te fazer uma pergunta.

— Pode falar.

— Bem, você disse aquilo sobre querer dedicar seu amor e... achei que seria interessante dividirmos não só o amor, mas o lar. Nossa casa antiga está parada. Se você quiser, podemos morar lá novamente.

Ele sorriu, pensativo, e respondeu:

— Tenho certeza que posso pensar sobre isso. Mas, sim, eu gostaria muito de voltar para lá. — Ele deu uma pausa e logo depois, continuou: — Sabe, Any... esse beijo me lembrou aquele primeiro que demos, anos atrás, na frente da nossa casa.

— Falando nisso... o ambiente e a paisagem estão exatamentes iguais ao dia do nosso primeiro beijo — eu disse, admirando a luz solar alaranjada descendo ao horizonte. — Queria que você pudesse ver o pôr do sol.

Imaginei que Beauchamp fosse concordar. Porém, falou:

— Preferiria ver você.

Ice Castles | BeauanyWhere stories live. Discover now