Garota nota 10

Capítulo 17

— Certo, você já sabe que meu pai tem uma nova namorada, não é?

— Sim, soube no dia em que jantamos. — A lembrança me trouxe uma sensação estranha. — Você não gosta dela?

— Bem... não. Quer dizer, não é que eu não goste dela. Ela é legal, gentil e... bem, ela é uma pessoa boa. — As mãos de Wayne não pararam quietas enquanto ele falava. — É só que... bom, isso vai parecer egoísta e talvez seja, mas... eu não gosto do fato de que meu pai está com outra pessoa que não seja minha mãe, entende? Isso meio que acaba com as esperanças de que eles possam se acertar e voltar e... — A voz de Wayne falhou porque agora ele estava chorando. As primeiras lágrimas caíram sem esforço algum. Ele mal piscou e o rosto estava vermelho e encharcado. Meu coração doeu e toquei seu rosto, em uma tentativa falha de enxuga-lo. — Isso é tão... eu... — Wayne estava falando bem alto agora, tentando fazer com que as palavras saíssem. Eu entendia. Era como se tivesse que fazer bastante força para ser ouvido.

— Ei, ei. — Passei o braço por seus ombros, o trazendo para perto. — Wayne, ei, calma. Respira fundo. — Pedi enquanto ele tremia em meus braços e abraçava minha cintura.

Não era muito confortável e senti um incomodo nas costas, mas eu ficaria ali por mais tempo. Quanto tempo precisasse.

— Desculpa. — Ele fungou e quase comecei a chorar junto.

— Tá tudo bem. — Meus dedos subiram para o seu cabelo lentamente. Wayne tinha fios loiros e macios. Fazia tempo desde que eu os senti em meus dedos, mas, ainda que passassem anos, eu não esqueceria a sensação. — Olha, eu entendo que você esteja mal porque suas expectativas foram frustradas, mas se olhar por um outro lado, seu pai está feliz agora. Ele passou por um tempo difícil desde a separação. Vocês dois passaram, então talvez seja a hora de um novo começo. Fique feliz por ela ser uma pessoa boa.

— Mas ainda tem os filhos dela, Abby. — Ele falou aquilo como se sentisse raiva.

— Ela tem quantos?

— Três.

— Você não gosta de nenhum deles?

— Bem, na verdade eu só tenho problema com o Joseph. Eu odeio aquele cara. — Wayne olhou para mim de um jeito tão intenso enquanto dizia aquelas palavras, que não nem parecia o Wayne.

Eu fiquei confusa e tive que tomar um tempo para entender o que ele disse.

— Espera um segundo. — Pedi, repassando mentalmente as palavras que Wayne havia dito, o dia em que ele e Joseph se estranharam no corredor, o olhar que Wayne havia acabado de me dar...

Parecia que esperava que eu ficasse surpresa e, além disso, queria que eu ficasse. Talvez quisesse mais que surpresa, mas não consegui captar a mensagem.

— Joseph será meio que da minha família. — Ele falou como se estivesse prevendo o que eu diria. Mas não foi exatamente o que passou pela minha cabeça. — Tem noção do quanto isso é insuportável?

— É... um tanto... bem, inesperado. — Tentei me ajeitar para aliviar a dor nas costas que senti. — Eu não sabia que o  Russel... Não sei, é uma coincidência muito aleatória. 

— Coincidência, Abby? — Wayne me olhou de um jeito esquisito.

— O quê?

— Você sabe que não é coincidência. — Disse ele, meio emburrado. — Ele fez tudo de propósito.

— Olha, Wayne, você parece meio obcecado com o Russel. — Eu tentei ser cautelosa no tom, não queria parecer arrogante. — Quer dizer, por quê ele faria isso?

— Fala sério, Abby! — Agora ele parecia irritado comigo. — Você é mesmo ingênua assim ou é só um teatrinho? 

— Ei, o que está insinuando agora? — Me afastei dele, fechando a cara. 

— Não é possível, Abby. Você não pega nada no ar? 

Wayne estava sendo arrogante e fiquei furiosa. 

Ora, como ele ousa falar comigo desse jeito? 

— Se é para ficar falando desse jeito, fale sozinho. — Levantei e sai pisando duro.