02 | prefiro fugir daqui

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— Só pode ser brincadeira! — falei, olhando para a casa da frente.

— Pois é. — disse ele, colocando as mãos dentro do bolso do próprio moletom.

Nós encaramos por alguns segundos. Novamente aquele clima constrangedor, assim como quando estávamos voltando para casa. Porém, nossa troca de olhos foi interrompida por seu celular que começou a tocar e vibrar feito louco.

— Ah, é só o lixo. — ele comentou antes de aceitar a ligação. — Fala, Alan.

Enquanto conversava com o outro garoto pelo celular, aproveitei para já ir abrindo a porta da minha casa. Me virei e esperei em silêncio até sua ligação terminar. Quando ele desligou, soltou um suspiro.

— Foi mal, tenho que ir para casa. — ele fez uma careta de desgosto.— Ele e a Maethe já estão chegando.

— Tudo bem, nós vemos por aí. — se chegarmos a nos ver novamente.

Ele assentiu e acenou para mim, atravessando a rua depois.

Entrei em casa e logo soltei um suspiro, percebendo só agora que estava cansada. Corri escada acima e entrei no banho. Lá fiquei pensando sobre as piadas sem graça do Alan e do seu jeito de "essa coca é fanta" adorável, mas principalmente, pensei no Rafael. Ele é do jeitinho que achei que ele era. Bom, só fiquei meio decepcionada porque eu não pude ouvir sua risada, mas até que entendo seu lado, perder um vídeo pronto não é nada legal.

Sei disso porque já tive um canal. Sim, Emily Grace já teve um canal no YouTube. Infelizmente, ele não deu certo por causa da escola, estava sem tempo para me dedicar a isso.

Pela manhã, eu senti que fazia parte do elenco de The Walking Dead. Eu estava, literalmente, me sentindo um zumbi. Meus cabelos negros estavam um caos e eu nem parecia aquela garota sorridente de ontem.

Minha mãe havia saído para o trabalho e não havia muito para se fazer ali. Até que me lembrei de Freaks and Geeks. Fazia tempo que eu não via, e era uma das séries favoritas. Achando que seria uma boa ideia, corri até o computador, mas antes mesmo de ligá-lo, ouvi alguém batendo na porta freneticamente. Me perguntei se minha mãe havia esquecido as chaves.

Caminhei até a porta para ver quem era. Ao abrir, pude ver o Alan e a Maethe, a mesma ria baixinho e tentava abafar a risada com a mão, já o Alan tinha um cara meio... preocupada?

— Aleluia, você está em casa! — Alan levou a mão ao coração de forma dramática.

— Hã...? O quê aconteceu? — estava um pouco perdida. — E como diabos sabe onde moro?

— O Cellbit que nos contou. — falou Maethe. — Ah, e eu sou a Maethe.

— Sou Emily. — disse, e sorri. Mesmo que eu já soubesse muito bem quem ela era, eu não quis estragar o momento.

Ela retribuiu o sorriso, enquanto Alan revirava os olhos de forma impaciente.

— Ótimo, a amizade é linda e o caralho à quatro, mas será que você pode nos ajudar agora? — pediu desesperadamente.

Assenti, temendo o que iria ser.

— É o seguinte... — começou Maethe. — Enquanto estamos ficando por um tempo aqui, no Rio grande do Sul, estamos ficando na casa do Rafa. Mas acho que seria uma pena se ele saísse logo após a gente e nos deixasse trancados do lado de fora.

— Aquele babaca, e depois ainda me chama de lixo. — dessa vez foi Alan. — Enfim, nós dois vamos virar mendigos se você não nos emprestar seu celular!

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