— Eu só quero te ajudar. Sei que não teve culpa. Coisas assim acontecem, né? Afinal, somos homens! - Ele exibe um sorriso forçado e torto.
— Eu, eu, eu não fiz nada. – Justifico. — Você tem de acreditar em mim.
— Venha cá, garoto. – Estende-me a mão. Apoiando-me em sua pele fria, levanto do carpete marrom, empoeirado. — Se não fez nada, esse sangue é de quem? – Questionou, limpando a palma em sua camiseta fazendo caretas.
— Não sei. Não consigo me lembrar... – Sinto uma pontada no peito.
— Então se não lembra, não aconteceu? – Gargalhou, me constrangendo. — Fiz um chá. Aceita? – Seguiu para cozinha sem respingos do humor a pouco demonstrado.
Fico imóvel no centro da sala. Um cheiro de mofo invade meu nariz. Fecho os olhos e consigo ver meu coração batendo, repulsivo e suculento, acalmando-se gradualmente...
"Não, por favor!" Um grito agudo ecoa, e desperto. A campainha toca novamente.
— Quem deve ser? – O velho sai da cozinha com uma xícara na mão. Segue até a porta, malicioso.
— Não, não atende! – Aproximo-me, cauteloso. - Pode ser eles... por favor?
— Deixe-me dar uma olhada. – Ele se aproxima do olho mágico.
Antes que eu pudesse reagir, um líquido quente é jogado na minha cara, fervente. Grito de dor e acabo esbarrando nos móveis a procura de abrigo.
— Bill, entre! Ele está aqui, como eu disse. É só nosso agora.
— Todo mundo achando que ele fugiu pela parte de trás do prédio.
— Não! – Tento me recompor, apertando os olhos com os punhos cerrados. — Me deixem em paz!
— Você julga que merece paz? – Bill se aproxima e soca-me no estômago.
Sinto a bile subir a garganta e começo a tossir:
— Eu não fiz nada...
— Vou fazer esse nada com você também, o que acha? – O meu anfitrião começa a desafivelar o cinto.
— O que...? – Cerro o cenho enquanto as lágrimas brotam em meu rosto, fazendo-o arder novamente.
— Vai chorar agora igual uma garotinha? – O tal do Bill me gruda pela camisa, jogando-me contra a mesinha de centro de madeira. Causando-me uma terrível pontada nas costas, imobilizado. Tentando recuperar o ar.
— Vira ele. – O velho se aproxima, sério. E o outro, retira um canivete do bolso. Me cercando com um dos braços, e virando-me ao chão. Coloca o canivete em minha pele.
— Se você gritar, eu te mato. – Ele corta a minha bochecha enquanto me impede de contestar com o braço em volta do pescoço.
— É melhor colocar algo em sua boca, apenas para garantir. – Escuto o outro se afastar.
E aproveitando a deixa entre os agressores, procuro algo para me defender, vendo uma parte de um vaso de cerâmica que estava em cima da mesa, agora embaixo do sofá. Começo a estender minha mão atrás do controle da TV na outra extremidade.
— O que vai fazer? Assistir pela última vez? – Ri, afastando o controle de minha mão, enquanto enfio a outra com o caco em sua costela. Ele urra e afrouxa o braço em meu pescoço, me dando passagem para empurrá-lo e correr a primeira porta a esquerda.
— Ray! Pega ele! Ele me acertou! – Gritou. Entro logo no cômodo e tranco a porta atrás de mim, preso em um quarto escuro.
— Abra essa droga, Charlie! – Esmurra a porta.
ESTÀS LLEGINT
GAROTINHA
Relat curtA culpa é a sombra que lhe arrasta para o abismo da perdição, aprisionando sua alma no eterno tormento do inferno. Este é um conto sobre o loop infernal de uma das espécies mais nojentas da humanidade. Deleite-se de seu desespero saboroso e putrefa...
Garotinha
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