1 - Quarto branco

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Abri os olhos lentamente, as pupilas desacostumadas com a luz, as memórias, um borrão. O lugar em que estava era inteiramente branco. Me mexi um pouco e senti uma dor lancinante na panturrilha. Sentei-me devagar, para observá-la. Haviam retirado a bala, limpado o ferimento e feito um curativo. Tentei levantar, mas uma dor aguda percorreu minha perna. Estava zonza e enjoada. Peguei um copo de água pousado à cabeceira da minha cama e o tomei de uma só vez, mesmo sabendo que provavelmente estaria "batizado". Instantaneamente me senti melhor.

As lembranças, que anteriormente não formavam nada concreto, agora começavam a se encaixar para fazerem sentido. Havia terminado a Døren há pouco tempo e de algum modo eles ficaram sabendo. Não queria destruí-la, então escondi a chave. Me acharam, tentei fugir, mas apenas consegui uma bala alojada na perna e uma dor de cabeça nauseante.

Tentei novamente e dessa vez consegui levantar. Estava em um quarto todo branco, com várias camas iguais a minha, todas com uma mesa de cabeceira. Havia também um armário com a porta translúcida, pela qual se podia ver diversos remédios e ataduras, e uma mesa grande com alguns objetos espalhados.

Me arrastei pelo quarto, apoiando o mínimo de peso possível na perna direita. Cada passo era uma agonia. Caminhei até a porta, usando as camas no caminho como apoio. Parei perto da mesa e peguei uma tesoura. Sabia que aquela ideia era ridícula, não havia a menor chance de eu conseguir sair dali naquele estado, mas decidi tentar de qualquer forma, era melhor do que ficar ali parada.

Estava a pouco mais de um metro da porta quando ela se abriu. Por ela passaram dois homens altos e fortes, seguidos por um baixinho que usava jaleco branco e trazia uma maleta em uma das mãos.

Os guardas me encaram por alguns segundos, então um deles se aproximou para me agarrar. Ergui a mão e enfiei a tesoura no braço dele com o máximo de força que consegui. Ele soltou alguns palavrões, mas me segurou ainda assim. Pisei com toda a força que eu tinha na perna boa em seu pé, em seguida dei uma cotovelada em seu estômago, ele me soltou xingando ainda mais, o corpo meio dobrado de dor. Dei-lhe um soco no meio do nariz, fazendo com que sangrasse. O outro guarda veio então em minha direção, assim que me alcançou ele deu um chute com muita força em meu ferimento, o que fez com que ele voltasse a sangrar copiosamente, lançando uma onda de dor por todo o meu corpo. Ele aproveitou o momento para me segurar, comecei a me debater em seus braços, tentando me soltar, mas ele era muito mais forte do que eu, que já estava um pouco desnorteada por conta da dor. Alguém se aproximou por trás e senti algo espetando minha nuca. Perdi a consciência em alguns segundos, caindo em uma escuridão profunda.

Entre Dimensões: Uma descobertaWhere stories live. Discover now