Crime

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Miguel

Por volta de onze horas da noite eu resolvo parar em um posto de combustível na Via Dutra, na altura de Barra Mansa, para tomar um café e abastecer. Estaciono meu carro em frente a bomba de gasolina e peço ao frentista para completar o tanque enquanto eu vou na loja de conveniência comprar algo para comer. Faço o pedido e tomo meu café expresso ali mesmo no balcão, para aplacar um pouco da minha dor de cabeça. Enquanto isso eu verifico o meu e-mail a procura do arquivo que o Uriel prometeu me enviar. Vasculhei a caixa de spam e encontrei um e-mail sem emissor e sem assunto. Abri o arquivo e no corpo do e-mail tinha a seguinte mensagem:

Rua Afonso Gusmão Nº 10.929 - Jardim Belvedere - Volta Redonda.

Esse é o endereço do lugar onde o Ramiro/Eros guarda a sete chaves todos os dossiês que revelam os podres dos seus clientes, HDs com milhares de horas de gravações dos abusos que eles e os seus clientes cometeram, e documentos comprometedores sobre fraudes, estelionato, tráfico humano e exploração sexual infantil. Como eu não consegui acessar esses documentos em tão pouco tempo, cabe a você denunciar essas informações ao delegado, junto com o vídeo do abuso. Grave esse endereço, e não se esqueça de apagar esse e-mail quando terminar de ler.

Repeti para mim mesmo o endereço que estava no e-mail umas cinco vezes para poder decorá-lo, e em seguida apaguei o arquivo. Sem rastros e tudo no sigilo. Saio da loja de conveniência com os pães de queijo que eu comprei para comer durante a viagem e outro café expresso, e vou para o carro. Preciso ir a delegacia entregar essas provas e desmascarar o miserável do Ramiro, mas a minha preocupação com a segurança da Isadora está me consumindo. Porque ela tinha que ser tão teimosa?! Custava fazer o que eu estava implorando?! Puta que pariu, que ódio! O frentista já terminou de abastecer o carro, e está me aguardando para fazer o pagamento. Entro no carro para pegar o cartão de crédito no porta luvas e pagar o combustível, e deixo meu lanche no banco do carona. Nesse momento eu ouço alguém anunciar um assalto. Olho para trás e vejo três motos com dois homens em cada uma delas. Todos eles estão de capacete, e os caronas estão armados. Não tenho para onde fugir. Meu sangue congela nas veias, e eu respiro fundo várias vezes tentando manter a calma. Eles estão assaltando os dois carros que estão parados atrás de mim e os frentistas do posto. Um deles vem em minha direção e grita:

*Perdeu, perdeu, playboy ! Desce do carro !

-Tá tranquilo ! Perdi !

*Levanta as mãos e sai do carro, porra !

Levantei as mãos e ele abriu a porta do carro para que eu pudesse descer. A pistola dele estava o tempo todo apontada para a minha cabeça. Eu olhava para chão. Nessas horas a

melhor coisa é não olhar na cara do assaltante:

*Tira o relógio e a aliança ! Anda, anda... Carteira, celular...

-A carteira está no carro...

*Cadê a porra do celular, playboy?

-Está aqui comigo... No bolso de trás.

*Então me dá tudo o que você tem aí ! Vamos logo que eu tô com pressa !

Entreguei o celular, tirei do pulso o relógio Tommy Hilfiger que a Isadora me deu, a minha aliança de compromisso, e entreguei ao assaltante. Ele não satisfeito ainda puxou o cordão de ouro do meu pescoço e o arrancou, levando junto a aliança de compromisso da Isadora que fica pendurada nele como um pingente. Isso me deixou puto e a raiva me cegou. O cara era alto, porém era mais magro do que eu, o que me dava certa vantagem numa possível briga. Os comparsas dele estavam distraídos roubando os outros clientes do posto. Eu só tinha uma chance. Se tudo desse certo eu conseguiria desarmá-lo e dar um tiro nele. Ele me empurrou para que eu saísse de sua frente e ele pudesse entrar no carro. Em um momento de distração que ele abaixou a arma eu tentei desarmá-lo, mas fracassei. Entramos em luta corporal, e na primeira oportunidade ele apertou o gatilho. A arma disparou e a bala atingiu meu antebraço esquerdo, perfurando-o. E essa mesma bala atingiu também a minha coxa esquerda. Foi tudo muito rápido, mas quando eu senti a queimação que o tiro causou em mim, eu me afastei do assaltante. Nessa hora ele apontou a arma diretamente para minha cabeça, me fazendo ver a face da morte naquele momento. Toda minha vida passou diante dos meus olhos, juntamente com tudo aquilo que eu iria deixar para trás se morresse. O miserável apertou o gatilho e a arma falhou. Não satisfeito, ele apertou o gatilho outra vez e a arma não disparou, falhando novamente. Eu estava parado feito uma estátua na frente dele, com o braço e a perna sangrando, e em estado de choque. Então para ele não sair no prejuízo, o assaltante deu uma coronhada na minha cabeça. Eu cambaleei por um instante, e o filho da puta, para me finalizar, deu mais duas coronhadas na minha cabeça. Senti uma dor excruciante e desabei no chão.

CORAÇÃO DE PORCELANA Where stories live. Discover now