Capitulo 20 - Perder

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"Era final de tarde e eu e a Phoenix decidimos ficar até tarde no local de estacionamento dos aviões para ver o pôr do sol enquanto conversavamos.
Estávamos ambas deitadas no chão, apenas a conversar sobre assuntos aleatórios e quase sem nexo.
O sol já se começava a esconder por detrás das montanhas quando ela tocou naquele assunto.

-O que é que se passou para tu e o Rooster serem assim um com o outro?

-Nat, eu já te contei a história...

-Eu não quero a história. Isso já se sabe. Quero saber o real motivo, porque é que essa discussão destruiu tanto a vossa amizade?

Deixo de olhar para ela e paro para olhar para o céu. Penso na resposta que lhe hei de dar, talvez porque nem eu sei ao certo o que dizer.

-Acho que ele estava à espera que eu o defendesse, não que ficasse do lado do Maverick. - olho para Phoenix - Se calhar devia-o ter feito. Talvez dessa maneira eu não o teria perdido.

-'Laska, tu ainda não o perdeste. - diz virando-se de barriga para baixo, apoiando-se nos antebraços para se erguer levemente para me olhar - Será que não reparas que ele ainda se importa contigo?

-Ele? Importar-se comigo? - sorrio sarcasticamente - Conta outra.

-Todas as missões, todos os treinos, eu sinto o nervosismo nele quando algo acontece contigo, quando alguém mexe contigo.

-É? - ergo-me, apoiando-me nos cotovelos - Onde é que ele estava quando eu precisei dele? Onde é que ele estava quando o Hangman estava constantemente a dizer-me que eu era uma fracassada e que nunca seria como o meu pai? É lógico que ele não estava lá para me defender! Até ele concordava com isso!

-Ele nunca fez questão que tu visses pois não? - ela sorri

-Estás a falar de quê?

-Lembras-te de quando tu e eu estávamos na casa de banho e tu desataste a chorar com as coisas que o Hangman te tinha dito? - aceno com a cabeça positivamente - Não achaste que o facto de no dia a seguir o Hangman aparecer com parte da cara roxa foi por ele ter caído, pois não?

Volto a deitar a cabeça e a olhar para o céu, incrédula.

-Não pode ser... - sussurro

-Ele viu como tinhas ficado e... - suspira - Quando saí da casa de banho já ele tinha acertado as contas, se é que me entendes.

Fico a pensar no que ela me acabou de me contar e não consigo acreditar. Parte de mim quer acreditar que talvez as coisas não sejam como eu estou acostumada a ver, mas a outra parte de mim ainda não crê que as coisas sejam assim tão simples e que eu seja a culpada de estar a ver tudo diferente.

-Tu ainda te importas muito com ele, não é?

-O problema foi eu nunca o ter deixado de fazer, Phoenix. - olho pra ela de volta e sorrio

-//-

Por momentos parecia que todo o nervosismo da missão tinha desaparecido e até mesmo a ideia da própria missão parecia ter sido posta de lado pelo o meu cérebro. Como assim o Maverick tinha lhe contado? O que é que lhe tinha contado? Até que parte da história?

-Ele... - viro-me, ficando de cara para ele - Ele o quê?

-Ele contou-me tudo. - aproxima-se mais de mim - De tu teres ido a casa dele. Do porquê de o teres defendido. Do... - hesita - Do que a minha mãe te pediu.

O mundo parece parar.
O chão estremece sob os meus pés e eu tento segurar-me em pé.
Ele não podia saber daquilo. Faria com que ele me odiasse por ter sido covarde, por ter recorrido ao Maverick e ele lhe ter feito aquilo e, pior de tudo, odiaria a mãe dele por me ter coagido àquilo tudo. Que era o que eu menos queria.

-Como? Porquê...? - continuo confusa

-Ele viu como nós estávamos um com o outro e não aguentou esconder. Eu precisava entender que tu não tinhas culpa. Não há motivo para estar assim contigo. Ele está certo. - engole em seco

-Brad... Isso era suposto tu nunca saberes... - abano a cabeça - Ela só queria te proteger e eu... - começo a ficar atrapalhada com as palavras enquanto tento explicar e conter o choro

-Ei, ei, ei! - ele abraça-me e afaga a minha cabeça, de seguida afasta-se para me olhar - Está tudo bem.

-Eu só queria te proteger, mas não conseguia te fazer aquilo. Eu não... Eu não era capaz de te impedir de realizar o teu sonho. Queria-te proteger e acabei por fazer merda. Como sempre. - encosto a cabeça ao peito dele

Ele nem palavras tem.
Não o julgo, é demasiado para assimilar e nem quero imaginar como terá sido para ele receber a notícia de que a própria mãe impediu que ele entrasse na academia e seguisse o sonho dele.
As mãos dele tremem pelo o meu corpo, consigo sentir que está tão nervoso como eu com toda esta conversa.

-Desculpa... - sussurro e é a única coisa que consigo dizer de cabeça enterrada no seu peito que sobe e desce rapidamente.

-Não, por favor, não digas isso. Não peças desculpas. Caralho, Liz... - ele levanta a minha cabeça com as mãos - Tu és a melhor coisa que já me aconteceu. Tu foste tão corajosa... Quer dizer, tu és. Mas... - corrige-se- Como é que conseguiste? Era demasiado para ti.

-Corajosa? Não... Eu não o chamaria assim. - sorrio levemente por entre o nervosismo - Queres saber a verdade?

-Claro. - responde-me ainda com a testa na minha

-Eu amava-te demasiado para conseguir fazer te uma coisa daquelas, Brad. A verdade é essa.

O silêncio parece durar séculos depois daquelas palavras saírem da minha boca.
Foi no calor do momento, mas não havia mais pura verdade que aquilo.
Tudo o que fiz referente àquela situação, foi a pensar nele e em quanto eu o amava tanto que não me sentia capaz de pensar na ideia de o magoar de tal maneira tirando os papéis dele da academia com as minhas próprias mãos.
Posso ter errado em ter pedido ao Maverick para que tomasse essa decisão por mim, comprometi a relação deles por isto. Errei, admito. Mas nada pesa mais que a dor que possivelmente lhe provoquei ao longo dos anos com aquilo que fiz.

-Sabes o que é o pior de tudo? - sussurro para que prossiga - Naquele dia eu não achei só que eu tivesse perdido a minha melhor amiga. Eu achei que tivesse perdido para sempre a pessoa mais importante da minha vida.

O calor do nascer do sol começava a aparecer para acalorar mais o momento, tornando os braços deles ainda mais aconchegantes e familiares do que antes já eram.
Eu abro os olhos que até então estavam fechados e ele olha-me de volta com aquele mesmo olhar que me fazia derreter quando adolescente.

-Estúpido, tu nunca me perdeste. - respondo sorrindo

TopGun - A Ascensão De AlaskaWhere stories live. Discover now