Capitulo 14 - Fases

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"-Caralho, esta merda dói. - reclamo

-Tens a certeza que queres fazer isto? - Hangman questiona - Ainda só foi um número, vais a tempo de desistir. - ri

-Vai te fuder. - insulto-o e ele cai levemente para trás na cadeira, rindo ainda mais da minha cara e irritação devido à dor. Alguns dos meus amigos caem no riso também.

Mesmo com a anestesia eu podia sentir as agulhas picarem a minha pele uma e outra vez enquanto decalcavam os números.
Sempre tive vontade de fazer uma tatuagem, mas cada vez que eu pensava mais a sério na ideia eu tinha certeza que podia ouvir a minha mãe dizer na minha cabeça "Louise, estás a marcar o teu corpo, filha! E se isso prejudica o teu trabalho?"

A verdade é que eu precisava dar um passo em frente, eu crescera e precisava dar os meus próprios passinhos sem ter os meus pais a dizer-me o que fazer. E para marcar essa fase, nada melhor que cometer uma loucura assim. O facto de já ter bebido algumas cervejas nessa noite, ajudou a decisão a ser tomada, mas no fundo, já era algo que eu queria ter feito há algum tempo.

Hangman estava sentado no sofá ao lado da marquesa onde eu estava a ser tatuada, à espera que a sessão terminasse, rindo do meu sofrimento e conversando com os demais.
É curioso como toda a situação do ano passado nos uniu mais que nunca. Passamos de quase rivais para ótimos amigos e eu não trocaria isso por nada neste mundo, afinal, hoje é das amizades mais especiais que tenho. Embora ainda existam alguns ressentimentos por coisas que ambos dissemos um ao outro no passado.
Phoenix encontrava-se sentada ao lado dele, ela havia se recusado a fazer algo assim ao primeiro, mas depois de muita conversa ela cedeu a fazer. Esta agora ajeitava a camisola por cima do curativo em cima da tatuagem de chama que havia feito na costela.

Estendo-lhe a mão do braço contrário ao que está a ser tatuado e ela olha-me estranho, sem entender o que pretendo.

-Dá-me a mão. - ela faz uma expressão engraçada - Não digas nada e faz só o que eu te digo. - rio em meio à dor

Ela dá-me a mão e eu a aperto consuante a dor que sinto.
Ao final de alguns bons minutos o tatuador anuncia que está pronta e eu levanto-me e corro para o espelho para ver como ficou.

64° N 150° O

Não havia nada que fizesse mais sentido para mim do que tatuar algo que mudou a minha vida por completo. Todos concordamos que a marinha mudou drasticamente as nossas vidas e que fazia sentido, cada um de nós, tatuar algo referente ao nosso trabalho.
Por isso tatuei as coordenadas do lugar que deu origem ao meu nome na zona por cima do cotovelo.
Era um lugar discreto, que facilmente era disfarçado por estar de baixo da farda e daria uma bela homenagem àquilo que nos é mais importante.

Saímos do estúdio às altas gargalhadas pelo o que as parvoíces da juventude nos coagiu a fazer. Ainda à porta do estúdio sinto que o braço de Hangman coloca-se em volta do meu pescoço e faz o meu rosto aproximar-se bastante do dele. E assim que ele olhou pra mim no fundo dos olhos e eu olhei de volta, ambos parámos devido à intensidade daquele clima. Deixando os demais para a frente, sem que estes se apercebessem que parámos. Ele sorriu e eu percebi para onde talvez aquilo iria seguir.

-Porque é que tens de desafiar tanto os limites? - questiono desviando o olhar, mas por pouco, logo volto ao seu olhar

-Porque ficar a baixo deles é fácil. - ele segura no meu pescoço com uma mão e eu consigo sentir o seu respirar na minha pele, assim como a sua boca não está muito longe da minha - E as coisas fáceis, Lu, não valem a pena. "

--//--

O vento soprava a uma temperatura agradável naquela noite.
Sorria para as estrelas que brilhavam no céu, pensando nas constelações bonitas em que estavam organizadas. Cada vez que as olhava só podia pensar no meu pai.
Pensara várias vezes em desistir desde que ele se foi. Sempre que isso me ocorria eu olhava para o céu e sentia que, acontecesse o que acontecesse, ele estava sempre comigo, de olho em mim e orgulhoso de quem sou. Era isso que me movia.

-Posso me juntar? - uma voz atrás de mim pergunta

-Sabes que pra ti à sempre lugar. - sorrio levemente para Rooster e convido-o a sentar-se ao meu lado numa rocha onde as ondas do mar arrebentavam ao embater nesta.

Ficámos os dois um tempo em silêncio, apenas a contemplar a beleza daquela noite quente de céu totalmente limpo e cintilante. O som das ondas juntava-se ao som dos nossos suspiros, de fundo podíamos ouvir vozes e festejos vindos do bar da Penny. Até ele quebrar o silêncio confortável.

-Tu e o Hangman já tiveram alguma coisa?

-Desculpa? - questiono indignada, mas acabo por me rir - Já te disse que não precisas ter ciúmes. - brinco

-Não é isso. - abana a cabeça e dá-me uma cotovelada, rindo também

-Então tiraste isso de onde? - questiono

-No dia em que tiveste o acidente, ele parecia... - hesita - Preocupado. Bem, todos nós estávamos, mas ele parecia diferente. Quase nem parecia vindo dele.

Olho para Bradley, ele balança a garrafa de cerveja e eu abro um pequeno sorriso.

-Okay... O que é que eu não sei? - pergunta-me, embatendo com as mãos nas coxas

-Existem muitas coisinhas que não sabes sobre mim, Bradley Bradshaw. - sorrio

-Mas espero neste preciso momento que me contes. - o seu tom é irónico e faz-me rir

-Isto fica só entre nós. - digo - Promessa de dedinho? - ergo o dedo mindinho

-Ah não... - ele sorri ao se lembrar que era assim que eu o fazia prometer as coisas em criança - Promessa de dedinho. - enlaça o mindinho no meu

-É uma história um bocadinho comprida. - digo deitando-me com a cabeça nas suas pernas

-Ainda bem que eu tenho tempo. - ele coloca o braço por cima do meu corpo de modo a ficar mais confortável

Suspiro e preparo-me para começar a história.

-Tudo começou no primeiro ano...

TopGun - A Ascensão De AlaskaWhere stories live. Discover now