Capítulo 01

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Sarah Lee


A bolinha de papel que me acerta pela quarta vez só nessa aula não é mais irritante que as risadinhas e os murmúrios que se estendem pelas últimas semanas.

Existe um problema bem comum em colégios para crianças ricas e mimadas, é que elas têm tempo demais para fofocar e inventar boatos uns sobre os outros.

Eu passei uns bons anos passando despercebida, mas o ensino médio parece colocar uma lupa sobre a cabeça de cada um de nós, e detalhes íntimos ou curiosidades obscuras começam a pipocar ao nosso redor.

Não é como se eu realmente me importasse em ter meu nome circulando entre os herdeiros da alta sociedade de Curitiba. Esse é o tipo de coisa que eu não poderia evitar mesmo que quisesse. Não há anonimato quando seu sobrenome estampa a fachada dos hotéis mais bem avaliados do país.

No entanto, uma coisa é não ser anônima e outra bem diferente é ter o holofote enfiado na sua cara. Poucos são aqueles que não se importam com esse destaque, como no mês passado, quando os corredores ferviam de alunos desesperados para descobrir quem era a professora que havia caído nas graças de Theo Bittencourt. Eu espero, do fundo do meu coração, que nenhuma mulher adulta tenha sido trouxa o bastante para ir para a cama com aquele imbecil.

Mas hoje quase desejo que alguém tivesse sido idiota o bastante para tal feito. E nesse caso, se eu tivesse que chutar um nome, eu diria que a professora de Inglês, Amanda, parece o tipo exato que cometeria uma cagada desse tamanho. Seria bom porque por mais um mês eles poderiam destilar o veneno de suas pequenas presas de leite e eu seria invisível por mais um tempo. Só o suficiente até todos entrarem no mundo real, o mundo dos adultos, e verem que eu estou certa em agir como ajo.

— Ei, Lee. — A voz aguda e anasalada de Sabrina ecoa algumas carteiras atrás de mim. — Eu ouvi falar que eles vão pedir pra você devolver todas as estrelinhas douradas do seu caderninho. Sabe como é, né? Elas são para os alunos que recebem dez por mérito próprio.

Outra onda de risadas. Outra bolinha de papel.

Não sei quem inventou essa palhaçada, mas definitivamente sabia o que estava fazendo quando decidiu pisar no meu calo.

Porque ter minha inteligência questionada dói.

Mas respiro fundo, afinal de contas, é como qualquer assunto que nasce no fundão de cada sala de aula, tudo o que preciso fazer é não alimentar os trolls.

Parece fácil e acredito que para os 639 alunos restantes até seja. Exceto é claro se um dos trolls for Theo.

Com sua pose arrogante, cabelo bagunçado e perfume forte, ele é capaz de inflamar qualquer um. Por isso, meu sangue ferve e gela simultaneamente quando estou guardando meu material e vejo pela visão periférica seu Air Jordan balançando no ar, chutando leve e despretensiosamente minha mesa enquanto ele está sentado sobre a mesa ao meu lado. Theo antecipa meus movimentos e eleva as pernas bloqueando minha passagem.

— O que foi agora? — pergunto sem demonstrar nenhuma emoção.

— O que foi, o quê? — ele se faz de desentendido.

Reviro os olhos e ameaço passar por cima de suas pernas. Mas ele fica de pé bloqueando minha passagem. É ridiculamente alto e forte para qualquer um da nossa idade. Fica ali segurando as alças da mochila com um sorriso abusado.

— Fala logo o que você quer, Theo. Tenho mais o que fazer.

— Tipo comprar umas notas a tempo de garantir a viagem de formatura pra Disney?

Eu não sou sua princesaWhere stories live. Discover now