15. Viro amiga de um demônio amonita e finalmente faço Leo Valdez calar a boca

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— Você não está morta. — Reforçou ele, cruzando as pernas. — Graças a mim, aliás. Como te falei, sou a divindade dos sacrifícios juvenis. O que fez naquele penhasco me chamou muito a atenção, Melissa.

[Eu consegui chamar a atenção de um demônio cristão barra deus amonita até fazer ele salvar minha vida, e Poseidon sequer havia me mandado um “oi”, mesmo eu sendo neta dele. Avô do ano.]

— Bom, hã, certo. Obrigada por me salvar, e tal. — Aquela conversa estava esquisita, eu precisava entender o que estava rolando. — Se não estou morta, que lugar é esse?

— Algo entre a morte e a vida. — Fez um gesto de dispersão com um dos cascos. — Não vou entrar em detalhes, é muito complexo. Imagine que está sonhando, é mais simples.

— Tudo bem. — Concordei. — Próxima pergunta. — Pigarreei. — Você disse que era um deus amonita, de Canaã…

— Certo. — Afirmou, me incentivando a continuar.

— Então por que você ainda existe? Digo, eu sei que muitas divindades devem se enfraquecer ao longo dos anos, porque as pessoas vão parar de cultuá-las… — Lembrei de onde tinha ouvido o nome dele. Na TV, anos atrás… Num programa cristão… — Você era o demônio que pedia sacrifícios de bebês no fogo, não era?

— Eu nunca pedi sacrifício nenhum, Melissa. — Disse, a voz ficando perigosamente mais séria. — É verdade, muitos bebês foram sacrificados em meu nome, mas nunca foi algo que eu pedi. Os humanos sempre conseguem fazer confusão com o que nós deuses queremos, não fui o primeiro e com certeza não serei o último a passar por isso. E, bem, cristãos nunca foram um exemplo de espalhar o que um deus quer, sejamos honestos, eles me colocam como uma figura do mal, mas são os primeiros a matarem um igual só por não terem a mesma fé, por exemplo.

— Você está certo. — Concordei com ele com veemência. — Mas eu ainda não entendo como sua essência ainda existe, já que…

Ele me interrompeu dando um riso debochado. 

— Veja bem, é verdade que nós divindades vamos perdendo nosso poder conforme as pessoas param de acreditar em nós, mas, por acaso os deuses gregos deixaram de existir só porque as pessoas que os cultuam pararam de ser a maioria? — Ele não me deixou responder. — A resposta é não, apesar de seu tempo “de ouro” já ter passado, eles continuam por aí, certo? Principalmente porque seu polo de poder ainda segue firme e forte. Então, me diga, pequena filhote de grego, você por acaso já ouviu falar de outro período da história mais sangrento que o atual? 

Abri a boca para responder mas ele continuou: 

— A resposta também é não. Nunca em nenhum outro período da história já houve tanta morte, tanta guerra e tanto egoísmo. E, como consequência, nunca morreram tantas crianças por ignorância e crueldade de outras pessoas. Todos os dias inúmeros sacrifícios de seres mais do que inocentes chegam até mim, sejam de jovens e crianças mortos em campos de batalhas, por causa de negligência, assassinato, fome, até mesmo suicídio e… Acho que não preciso continuar, preciso? 

Ele me deu tempo para responder dessa vez, mas não consegui pensar em nada para falar. 

— Sem resposta, hum? Tudo bem, não esperava que tivesse uma.

Engoli em seco e ele prosseguiu: 

— Mas estamos perdendo tempo, você precisa voltar para seus companheiros e vocês devem seguir sua missão. — Ele pausou para dar um pigarro. — O sacrifício que você fez foi o suficiente para me chamar a atenção. Você estava disposta a dar sua vida pela vida de uma criança e, eu, como ato de bondade, a poupei. 

Diário de Uma Semideusa em Crise [ᚠ] Conheça suas origensWhere stories live. Discover now