Querida Ellen

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“Querida Ellen,
      Faz muito tempo desde a última vez que escrevi para você, e acredite, aconteceu MUITA coisa durante todo esse tempo. Vou resumir pra você: bem, como você sabe, casei com Ryle, mas ele não foi o marido que pensei que seria. No começo, parecia ser meu herói, mas depois, se tornou meu maior pesadelo. Ele me machucou e quase me assediou, e no mesmo dia descobri que estava grávida dele. Emerson, minha maior alegria de todos os dias - bem, esses últimos não estão sendo tão felizes assim, mas ela é o motivo a qual acordo todos os dias - ela é pequena, mas foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida. Reencontrei Atlas e… bem, como ele mesmo disse “Pode parar de nadar agora, Lily. Finalmente chegamos à costa”.
Estávamos indo muito bem, eu e Ryle tínhamos a guarda compartilhada de Emmy, morava junto com Atlas e Emmy, estávamos todos felizes, mas bem como eu disse, “estávamos”, no passado. Agora, não estamos com Atlas, ou melhor dizendo, ele não está mais aqui, nem de corpo, nem de alma.
Meu mundo caiu aos pedaços. Ao ver, ouvir, tudo aquilo, algo em mim foi junto com ele. Depois daquele dia, a exatamente seis meses, não me sinto viva.  Desde que ele se foi, tento procurar forças e motivos para preencher o vazio em que estou, o vazio presente em meu corpo e minha alma. O medo é uma emoção que me assombra, já não sinto segurança para assumir a responsabilidade pela minha própria vida.
Não consigo me olhar no espelho, cada vez que vejo a mim mesma lá, me trás um sentimento de culpa e impotência, como se tudo o que estivesse acontecido fosse culpa minha. Sei que não foi minha culpa, mas a briga também aconteceu porque eu estava na vida dos dois, e uma parte não aceita. As vezes eu penso comigo mesma, “será que se eu não existisse, tudo isso teria sido evitado?”.
Desde que tudo aconteceu, venho fazendo acompanhamento de vários especialistas, e algo que foi diagnosticado foi que desenvolvi dependência emocional em Atlas.
E mais uma vez, meu mundo parou nessa hora.
Sempre amei Atlas. Como você sabe, nunca o deixei de amar, mas não pensei que eu chegaria a esse ponto.
Fiz muitas sessões de terapia, com muito acompanhamento, e também muito esforço de minha parte.
Mas isso não foi suficiente.
O começo foi bem difícil, a dificuldade de aceitar tudo o que aconteceu, de ter que seguir em frente, e esse diagnóstico.
Parecia que estava conseguindo, devagar, mas parecia estar. Mas só parecia.
Nos últimos meses, é como se uma tempestade tivesse assombrado minha vida, tudo se tornou cinza, sem cor, sem vontade de viver, sem ele aqui comigo.
Me sinto insuficiente pela minha filha, me sinto culpada pelo o que aconteceu com Atlas, me sinto sozinha por não ter ele aqui.
Sei que esse é o último caminho a qual deveria escolher, mas não vejo outra opção para acabar com esse vazio dentro de mim.
Pensei muito antes de fazer isso, e antes de escrever essa carta também, poderia ter escrevido para Allysa, Marshall, minha mãe, até mesmo Ryle, mas achei que a pessoa certa fosse você que, apesar não saber quem sou, nem nunca ter recebido minhas cartas - sei que por culpa minha por nunca ter enviado-, sempre esteve disposta a ouvir sobre meus dias, sejam eles bons ou ruins, meus desabafos, meus momentos,
Agradeço por tudo, por cada pessoa em minha vida, em especial minha filha, a melhor coisa que já aconteceu em minha vida, Atlas, por ser meu maior amor, até hoje. E para o Ryle, vai se f***.
Bem, espero que tenha muito sucesso em seu programa, mesmo com uma pessoa a menos para assistir.
Lily.”

Literalmente é assim que acabaWhere stories live. Discover now