Raul fez uma careta engraçada e perguntou:

— E isso é quando?

— No início do quarto mês.

— Ele cresce assim, tão devagar?!

Ri, acariciando sua nuca.

— São nove meses de gestação, amor. O que você queria?

— Eu sei, mas é que... Eu achei que ele crescesse mais rápido.

— Mas, no quarto mês, o nosso bebê já vai tá fazendo muita coisa. Ele já vai tá, por exemplo, virando a cabeça. Além do mais, as unhas dele vão estar crescendo e os cabelinhos também.

Raul me encarou por alguns segundos a mais, como se nem tivesse escutado minhas palavras anteriores. Então, sem aviso prévio, ele me beijou mais uma vez, antes de se abaixar na minha frente e beijar minha barriga.

— Mal posso esperar para você crescer, filhinho.

Admirada com aquele gesto, puxei Raul pelos ombros, fazendo-o ficar de pé novamente, e o abracei.

É verdade que estar grávida não era novidade para mim. Conheço essa estrada penosa, mas que deixa uma certa dose de saudade, como a palma da minha mão. Porém, era definitivamente a primeira vez que um novo bebê meu era recebido com tanto carinho.

— Vou ligar pra minha avó.

Raul desfez o nosso abraço de repente e saiu praticamente correndo do banheiro. Então, de onde eu estava, pude vê-lo se jogando sobre a cama para alcançar o celular que estava do outro lado, sobre o criado-mudo.

Não pude evitar rir daquela cena. Raul só tinha tamanho — um metro e oitenta e tantos de pura empolgação.

— Alô! Vó?... Adivinha. Eu vou ser pai!... Aham! Acabamos de descobrir... Obrigado!... Hã?... Tá. Tá aqui!

Raul se levantou da cama — pois ele estava deitado nela de barriga para baixo, feito uma criança — e veio apressadamente para o banheiro, colocando a ligação no viva-voz.

— Minha vó quer falar com você — disse Raul, que parecia até sem fôlego de tanta empolgação.

— Oi, Dona Madá! Como a senhora está?

"Tô bem, querida! E você? Acabei de ouvir a notícia. Parabéns! O Raulzinho só tá faltando voar, né?"

Olhei para o Raul e começamos a rir juntos. Então acariciei seu rosto e respondi:

— Cê viu? Fez igual criança aqui. Saiu correndo e pulou por cima da cama pra ligar pra senhora.

Dona Madalena gargalhou do outro lado da linha e nós também, do lado de cá.

— Ô, vó! — Raul colocou uma mão sobre a minha barriga e, no mesmo instante, eu soube que ele estava prestes a soltar uma pérola: — Já dá até pra perceber uma diferença na barriga da Lori.

— Não, amor. Isso daí são gordurinhas — comentei, sem conseguir esconder o sorriso.

— São não. Sua barriga já está aparecendo já. Olha aqui!

— Ouviu essa, Dona Madá?

"Tô só observando", ela riu do outro lado da linha.

— Do jeito que as coisas estão indo, semana que vem, nasce — brinquei e olhei para Raul, que estava totalmente dedicado ao exercício de provar que minha barriga estava crescendo.

"Esse Raul! Você estava tão preocupado, né, querido? Mas olha aí! Deus resolveu tudo."

Um silêncio se seguiu. Raul estava imerso em seus pensamentos, acariciando minha barriga.

— Amor.

— Hum?

— Sua avó tá falando com você.

— Comigo? Ah! Oi, vó. Desculpa, eu...

Dona Madá riu outra vez. Nós duas conhecíamos bem aquela peça única e especial chamada Raul Amorim.

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Eu coloquei meus brincos e passei um gloss nos lábios quando, de repente, Raul entrou no banheiro com o celular nas mãos.

— Eu tava pensando que — ele disse se aproximando de mim —, talvez, a gente devesse comprar o berço naquela loja, onde você comprou a cama do Kevin.

— Você já está pensando no berço? — perguntei, risonha, enquanto dava os últimos retoques na minha maquiagem.

Atrás de mim, pelo reflexo do espelho, eu era capaz de ver um Raul com os cabelos desgrenhados e um semblante concentrado.

Não havia nem 1 hora que havíamos descoberto sobre a gravidez e ele já havia feito, pelo menos, 20 pesquisas diferentes. Era tão fofo! Mas, apesar de querer ficar com ele, curtindo a sua animação, eu tinha que sair.

Mesmo sendo a manhã de um sábado, pouco antes das sete horas, eu tinha um compromisso urgente, uma reunião com um novo possível conveniado. Cecília estava fora, visitando a família do marido dela em Londres, pois eles haviam passado por uma perda recente. De maneira que tinha que ser eu a dirigir 50 km até uma cidade vizinha, a fim de tentar fechar um contrato.

— Amor, eu estou indo, tá? — falei ao sair do banheiro e apanhar minha bolsa sobre a cama.

— Vamos contar aos meninos à noite? — ele perguntou, me acompanhando até a garagem.

— Sim, eu devo chegar lá pelas duas da tarde, mas a gente conta à noite. Não esqueça de levar o Ícaro e o Kevin no futebol e lembre o Bê de tomar o remédio, tá?

Entrei no carro e abaixei o vidro. Raul, então, se apoiou na janela e me deu um selinho, dizendo logo em seguida:

— Não se esqueça de almoçar.

Sorri e disse:

— Não vou me esquecer. E pode ficar tranquilo, porque o nosso bebê está seguro aqui, comigo.

Coloquei uma mão sobre a minha barriga e olhei para Raul, que me beijou outra vez antes que eu saísse.

Era em momentos como esse que a nossa diferença de idade ficava ainda mais evidente. Ele tão vislumbrado com o novo e eu, calejada pelo tempo.

Apesar de tudo, era bom estar carregando um pedacinho de nós dois.

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora