Capítulo Único

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Neil tinha absoluta certeza de que estava ficando louco. Por não crer em nada, era cético em relação ao plano espiritual. Não sabia nem a diferença entre orar e rezar, nunca tinha lido um parágrafo da bíblia, nem ido a qualquer centro religioso, e o único nome que conhecia melhor era do famoso Jesus. Apesar disso, ele era um expert em Supernatural. Já havia assistido todas as quinze temporadas da série paranormal e sabia que, para se proteger de um fantasma, nada seria melhor que um círculo de sal.

— Sério? — o loiro deu um sorriso zombeteiro. Neil sentiu todos os pêlos de seu corpo se arrepiarem ao escutar aquela voz, enquanto finalizava o círculo e se sentava no meio dele, segurando o pote de sal como se fosse sua única salvação. O fantasma, ou espírito, seja lá o que ele fosse – como antes afirmado, Neil realmente não saberia dizer se havia uma diferença – sentou em sua cama, de braços cruzados, o observando atentamente.

Neil franziu a testa. Não era esperado que o fantasma tentasse entrar no círculo? Tentasse matá-lo ou algo do tipo? Deveria agradecer por ele não tentar reproduzir a série fielmente?

— Acabou? Só um círculo de sal? Esperava mais de você — o fantasma encarou suas unhas, entediado. — Não vai recitar nada? Ou fazer um ritual? — encarou o garoto, como se realmente esperasse algo maior. — Talvez eu devesse ter ido assombrar outra pessoa.

— Assombrar?! — Neil engasgou, seus olhos se arregalando mais que o possível. — Você é por acaso é um poltergeist?

Era só o que faltava mesmo. Neil nunca se considerou muito sortudo, mas poxa, logo um poltergeist? Seu azar estava mais acentuado que o normal. Aquilo era tão injusto. Ele já tinha que lidar com muitas coisas, afinal fazia parte da população mais triste e mentalmente instável do mundo: os estudantes universitários!

— Poltergeist? — o outro parecia pensar sobre aquilo. Ele apoiou suas mãos na cama, enquanto fazia um biquinho. — Não, não. Creio que deva ter algum tipo de hierarquia sobre isso. Olha para mim, sou bem novinho nesse trabalho — apontou para suas roupas e Neil o avaliou. Ele não estava vestido com nenhum colete, suspensório ou chapéu, pelo contrário, suas roupas eram bem atuais. Com seu moletom, sua calça jeans e seu all star ele parecia bem normal e isso era ainda mais assustador. — Além disso, me desculpe, mas acha mesmo que eu, depois de morto, me ocuparia em atazanar outras pessoas? Fala sério, a vida já é complicada e difícil o bastante. Nem com a morte posso ter um descanso decente?

— Então por que você está aqui? — Neil sentia a quebra de expectativa. Era como estar em um filme ruim. Claro, ele estava mais do que feliz com o desenrolar daquela situação, ele não queria mesmo ser morto em tão tenra idade, mas toda aquela conversa era estranha demais. Muito tosca para ser real. Então, a segunda hipótese chegou a sua mente. Ele estava dormindo, claro. Era só um sonho... muito real, mas só um sonho, ou pesadelo, para ser sincero. Seu medo não se dissipou com esse pensamento, mas não era isso que acontecia nos sonhos? A tensão nunca ia embora. — É só um sonho, é claro — externalizou.

O fantasma arqueou a sobrancelha, parecendo se divertir muito com aquilo tudo.

— Posso não saber muitas coisas, mas posso te dar a certeza de que isso não é um sonho. Essa situação é tão desconfortável para mim, assim como é para você.

— Como assim?

— Olha, eu não queria estar aqui, tudo bem? Não sei o motivo, mas eu simplesmente não consigo ir embora dessa casa desde que eu magicamente apareci aqui, bem na hora que você chegou.

— Como você sabe que não pode ir?

O loiro botou a mão sob o coração e inspirou fundo, como se fosse fazer uma grande revelação.

Querido FantasminhaOnde histórias criam vida. Descubra agora