Cap. 13 - O Animal que me tornei

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— Bem que eu queria. Não tem outra pessoa pra você assombrar não?

Bem que eu queria. Se eu pudesse escolher, ficaria no pé da "bruxa maldita", mas infelizmente estou preso a você...

Wallace observava de longe Benício conversando sozinho. Naquele dia, receberia a visita do advogado e sem dúvidas, informaria a Henri que o primo estava completamente maluco das ideias. Já tinha fuçado a vida dele o suficiente para saber que tinha coisa errada acontecendo e, inclusive, se lembrou de um dos seus últimos passatempo favoritos: Ouvir as gravações da coleção de pesadelos de Benício. A princípio, abriu os áudios por mera curiosidade, mas as histórias eram tão horripilantes e boas que começou a ouvir todos. Lembrou que nos últimos "episódios", pois já considerava aquilo um podcast diário, Benício tinha dado nome ao seu "inimigo íntimo" e sentiu uma enorme tentação de ir até ele e perguntar se ele conversava com Diego Del Toro. Não tiveram muito contato desde que chegaram, mas aquele era um de seus clientes mais importantes, porque não aproveitar a oportunidade?

— Benício... - Wallace mal começou a falar e logo foi interrompido.

— Você acredita em fantasmas, monstros, demônios, ou coisas do tipo? - Benício parecia muito mais estranho pessoalmente.

— Sempre que a gente mudava de casa, minha mãe jogava sal grosso pra espantar os espíritos...

— Boa! Me traz um quilo de sal da cozinha e te pago com seis pacotes com dez maços de cigarros.

Os olhos de Wallace brilharam. Na cadeia cigarro era sinônimo de dinheiro. Agora, como ele pegaria o sal é que eram outros quinhentos.


Henri Speltri

Quem olhasse Henri de relance diria claramente que ele era um advogado, camisa bem passada, costume bem cortado e de alguma grife famosa, sapatos caros e cabelos impecáveis. Definitivamente ele estava estranho, concluiu sua secretária, Margareth, que o acompanhava há pelo menos três anos. Parecia que ele havia sido possuído por algum espírito e que pelos deuses, isto continuasse.

Até ele mesmo estava se achando estranho. Sentia uma urgência em ser mais cuidadoso com as coisas, parecia que lhe faltava uma peça, um gap na memória.

Naquela tarde se encontraria com seus notórios clientes Wallace e Benício. Já faziam dez dias que eles estavam no centro de detenção e também, dez dias que Henri praticamente não dormia. Sua mente revisitava os detalhes contidos nas provas do crime, já tinha feito mentalmente os passos do primo, e também de Wallace, incontáveis vezes. Uma seguindo a lógica dos investigadores e outra, seguindo a lógica dos clientes.

A de Wallace batia perfeitamente com o que ele havia dito, já a de Benício parecia surreal. Certamente inocentaria o Hórus muito antes do primo.

Sentou-se de frente para Wallace na abafada sala reservada para os advogados conversarem com seus clientes dentro do complexo penitenciário, o parlatório, e surpreendeu-se em como o rapaz estava adaptado. Explicou a ele como estavam os trâmites e Wallace lhe deu ideias valiosas para achar o cara que lascou com sua vida, deixando que ele fosse incriminado por algo que não fez. Antes de finalizarem o assunto, Wallace tocou no ponto que Henri também queria chegar:

— Doutor Speltri, seu primo não tá legal não. A mona tá zuadassa. - Disse arregalando os olhos.

Henri respirou fundo.

— Fica de olho nele pra mim. - entregou ao rapaz, além de cigarros, dinheiro. — Eu vou te tirar daqui em aproximadamente vinte dias. Aguente firme até lá. Depois disto, vamos processar o estado. Vou te deixar rico. Mas cuida do meu primo.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now