Capítulo 2: o cadáver desaparecido

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O clima perto do hospital noticiado não era dos melhores. Após o plantão, tanto emissoras de TV com menor alcance como curiosos começaram a fazer tumulto nas proximidades dele.

— Senhora Carina, o que a direção do Hospital Geral de Palmas tem a dizer sobre o incidente? — questionou um jornalista com quase o dobro da altura da diretora.

— O enfermeiro está sendo mantido em observação por uma equipe de médicos.

— Senhora Carina Matos, por favor, você pode virar um pouco o rosto para baixo? — orientou o jornalista.

Desconcertada, a diretora do hospital olhou para os lados e em seguida posicionou o queixo para baixo conforme a orientação.

— Assim está ótimo. Prossiga, por favor.

— Então, como eu ia dizendo, o enfermeiro foi estabilizado. Nós já entramos em contato com os familiares de primeiro grau para prestarmos suporte nessa situação tão delicada.

— E você, como diretora, acredita que novos incidentes como esse podem voltar a ocorrer?

— Infelizmente, sim. Nós ainda não pudemos detectar uma justificativa clínica para o comportamento violento do paciente que causou todo esse transtorno. Estamos considerando qualquer possibilidade válida, inclusive a existência de um vírus que esteja sendo propagado dentro do hospital.

— Nossa! O que você está alegando é muito sério. Seríssimo!

— Eu estou sendo mais que sincera nesse momento. Assim como vocês, não tenho nenhuma informação sobre o que está acontecendo lá dentro. Mas juntamente com o corpo administrativo do hospital, entrei em contato com unidades médicas das redondezas para que elas nos auxiliem na alocação dos nossos pacientes em leitos mais seguros.

— Remoção? Você não acha que está sendo um pouco paranoica?

Muitos pacientes estão internados nesse momento e em críticas condições para uma remoção forçada.

— E é por isso que eu não devo ficar aqui perdendo meu tempo com você.

Carina deu as costas para o jornalista e seguiu para a entrada do hospital. A todo instante chegavam ambulâncias e enfermeiros convocados com urgência para garantir o transporte e acompanhamento de todos que estavam internados ali. Depois de conduzir a remoção de um grupo de pacientes a serem alocados do outro lado da cidade, Carina entrou na sua sala e trancou as portas. Não queria mais dar entrevistas. Não estava disposta a continuar ignorando questionamentos de curiosos, para os quais ela não tinha respostas. Seus nervos estavam à flor da pele. Era a primeira vez que algo dessa natureza acontecia sob sua direção.

Do lado de fora, uma equipe de policiais circundou o local de entrada com fitas amarelas e delimitou um perímetro de segurança. Vários guardas de trânsito também foram convocados para auxiliar no controle do fluxo de carros, que começou a se tornar problemático com tantas pessoas pelas ruas.

Já dentro do hospital, mais especificamente no subterrâneo, o paciente agressor foi sedado e colocado em uma solitária disponível na sala 12B.

A infraestrutura médica era incrível, bem melhor que a disponível para os pacientes do SUS que precisavam dos serviços do hospital. Quatro centros cirúrgicos, duas salas para realização de exames complexos, como tomografia e ressonância magnética, uma ala de enfermaria masculina e outra feminina. Isso sem mencionar as incontáveis salas particulares, com natureza ainda desconhecida.

Todas as salas esbanjavam claridade. Pessoas que não tinham costume de frequentar o subterrâneo relatavam um passageiro incômodo nos olhos após uma primeira visita. Fechaduras e travas de segurança em pleno funcionamento estavam presentes nas portas individuais das salas e também nas saídas majoritárias que davam acesso ao andar superior do hospital. O local não era vigiado por câmeras, mas uma equipe especial de militares foi trazida para proteger o perímetro de eventuais curiosos querendo vazar informações sigilosas.

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