Convergência

81 8 468
                                    

Dor. É só o que sinto desde aquele dia, desde o dia em que Tara foi estuprada, e agora, desde o dia em que Sam acabou morto pelo seu próprio disparo, de acordo com a conclusão da polícia.

Contamos sobre as motivações do garoto, mas sem provas, não deu em nada para Jerry, de novo. Mais um inocente foi prejudicado por ações dos verdadeiros culpados.

O velório de Samuel foi rápido, porém muito triste. Boa parte das pessoas da escola se mobilizaram, e como sempre acontece, seu armário está com uma foto pendurada e lotado de rosas até o chão. Tenho evitado passar por esse corredor, pois toda vez que vejo seu rosto eu choro.

– Todos em posição? – a voz de Rachel ressoa no meu ouvido, me trazendo de volta para o presente. Ajeito o fone para responder e aguardo até que as três confirmem.

– Estou.

– Certo, quero que saibam que a partir de agora, não tem volta – a Cobradora diz. – Se algum de vocês não fizer o seu papel, todo o plano vai por água abaixo. Isso vai me irritar, e vou ser obrigada a cobrar outros favores de outras pessoas, se é que me entendem.

– Nenhum de nós vai amarelar – afirmo. – Vamos fazer isso pela Tara, e pelo Sam.

– Ótimo – Rachel faz uma pausa. – Então, comecem!

Pela chamada, ouvimos a respiração de Sarah, que bate na porta do diretor desesperada e começa toda a cena. Os outros também fazem seus papéis. Ajeito o fio do fone atrás da minha orelha mais uma vez e cubro com cabelo, depois, suspiro.

Ando depressa até o zelador, que está higienizando uma parte do piso. Ele não é muito de conversar com alunos, mas sei exatamente como fazê-lo mudar de ideia, pois ensaiei bastante e pensei em várias coisas para distraí-lo. Vou falar sobre seu trabalho na escola.

– Senhor Allen? – lanço as mãos atrás das costas e abro o meu melhor sorriso.

O homem emburrado para de esfregar o chão, limpa a testa e me encara.

– O que você quer? – pergunta. – Alguém vomitou?

– Não, eu só queria dizer que desde que mudamos de zelador, a escola tem ficado tão mais limpa! Como o senhor faz pra cuidar de tudo aqui?

Aquela expressão ranzinza se desfaz e algo estranho acontece com seu rosto: as extremidades dos lábios se elevam, e os olhos ficam mais vivos, as bochechas se movimentam, é um sorriso, nunca tinha visto isso ocorrer com o zelador.

– Só um pouco do bom e velho trabalho duro – ele larga o esfregão de vez e se aproxima. – Você tinha que ver como esse lugar estava imundo quando comecei nesse novo emprego, tive que fazer uma inspeção por toda a escola, encontrei teias de aranha no teto, o porão estava coberto de poeira e o chão parecia ser feito de gordura. Eu não quero me gabar, mas, como você mesma disse, agora tudo fica mais limpo – mais uma vez o Sr. Allen sorri.

O porão, é uma ótima oportunidade de tirá-lo daqui.

– Falando no porão, gostaria de ver como está, lembro que uma vez entrei lá e acho que vi um rato. Agora deve estar tudo bem limpinho – comento. Escuto toda a movimentação acontecendo no fone.

– Não sei como conseguiu, mas você não pode entrar lá – seu sorriso começa a desaparecer. – Sabe disso, alunos são proibidos.

– O diretor saiu da sala – Sarah informa, no meu ouvido. – Vou trancar a sala e ligar pra Tara.

Nessa hora, as batidas do meu peito aceleram, nem acredito que isso está mesmo acontecendo. Tenho que me esforçar para segurar o zelador, haja o que houver. Então, penso em todo o treinamento que fiz em casa para conseguir ser mais ardilosa.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora