XII

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XII

Quem é Morgana afinal?

- Vá, guie-os, mostre a eles que podem se tornar um com a natureza. - disse um anjo alado, gigante, com olhos completamente brancos e uma aura reluzente em volta de todo o seu corpo.

A pequena criança escutava atentamente as ordens de seu criador. Parecia não entender nenhuma palavra, mas não precisava. O anjo estava decretando a sua função na terra, o seu destino.

Morgana observava a cena e sentia pena da pobre criança, que engatinhava com toda a inocência do mundo na frente do ser divino que lhe dava ordens. Enquanto isso, atrás dela, seus pais estavam deitados sobre poças de sangue já secas.

Escuridão.

Agora a garota já era uma adolescente e parecia estar em um lugar rico, nobre, em um castelo. Caminhava pelos longos corredores decorados ao lado de um arquimago, vestido com seus extensos trajes escuros.

- Se voltar a usar esse tipo de magia irei bani-la do conselho! Está me ouvindo? - deu um tapa no rosto da jovem. - Preste atenção, novata! - gritou. - Não estou brincando, você é uma aberração! Controle-se, ou o rei encomendará sua cabeça em uma estaca.

Raiva.

A adolescente agora era uma mulher, vivida, famosa no reino e arquimaga fundamental da corte. Era a mão esquerda da princesa. Passou dias e horas ao lado de sua alteza, chegou a construir uma amizade.

Antes de tomar as decisões mais duras, a arquimaga era consultada, sua opinião era fundamental. Além de ser uma excelente conhecedora das artes mágicas, era uma exímia estrategista.

O resto do conselho dos magos entretanto não tinham o mesmo carinho. Sempre que puderam, relataram queixas para fragilizar seu status dentro da corte. Era acusada de bruxaria, magia negra, artes demoníacas, heresia e até mesmo as mais absurdas acusações. Todas em vão. O status de Morgana não mudava, até certo dia...

- Tem os dias contados, bruxa! - o arquimago cuspiu no rosto da jovem, que imediatamente repeliu com um feitiço que a tornava intocável. - Com a nova aliança do reino, o conselho imperial a queimará viva!

- Entendo que a limitação humana para as artes mágicas seja frustrante para o conselho, mas o racismo perante a mim por minha descendência angelical é algo que a princesa jamais toleraria. - rebateu Morgana, segura de suas palavras, uma característica que sempre incomodou seus opositores.

- Você não é nenhum anjo, está mais para um demônio! - rebateu o ancião antes de sair.

Naquela mesma noite, a princesa ordenou que sua então melhor amiga fosse queimada na cruz por atos de bruxaria, heresia e uso de magias ilegais. Para o azar da realeza, Morgana resistiu ao fogo estando na cruz, o que fez com que seu status de monstro fosse aumentado.

Não para por aí. Ainda em chamas, gritando de dor, a então acusada de bruxaria se rebelou contra aquela que lhe havia chamado de melhor amiga. Naquela noite Morgana enterrou um reino e a partir de então passou a ser acompanhada por corvos.

Assim seguiu por muito tempo, até que eventualmente seu propósito se tornava irrelevante quando a Floresta Azul já havia alcançado seu tamanho ideal. Desta forma, Morgana viveu e renasceu por eras, enterrando diversas civilizações debaixo de paisagens maravilhosas, transformando grandes castelos em florestas extensas.

Mortes e renascimentos passaram por sua memória em um flash, até que de repente se viu despertando na Floresta Azul ao lado de Nez e Kiara e então saiu do transe.

Estava mais uma vez ao lado de Nez, mas agora em Kaladin e o sorriso do garoto havia desaparecido há muito tempo.

MorganaWhere stories live. Discover now