VIII

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             " As ruínas de Kaladin são um mistério até os dias de hoje. O mistério paira na razão pela qual o reino foi abandonado a ponto de se tornar um com a natureza.

Alguns historiadores acreditam que uma crise durante um período de guerras assolou a civilização dali, obrigando-os a buscar novos lares. Entretanto, não há registros de que tal período tenha sido nocivo para o reino de Kaladin, muito pelo contrário.

É evidente que a natureza teve grande influência, seja através de uma catástrofe ou uma pandemia, mas o ponto é que o motivo não foi a mão do homem.

Durante todos os meus anos de historiador e geólogo, nunca vi algo parecido, sem dúvidas isto é um fenômeno. Na minha opinião, se trata de algo incompreensível, que ao mesmo tempo que decidiu expurgar a vida humana dali, optou por manter o lugar intacto e abrigar um novo tipo de vida, marcado pelo seu pigmento tão único, um azul escuro, forte, daqueles que remetem a tristeza.

É uma pena que um lugar destes tenha terminado desta forma, servindo de abrigo para os corvos que comem as carcaças daqueles que não puderam fugir a tempo. "

Relatos de um viajante, por Jeri Roston

VIII

- É lógico que vou sentir saudade, - disse Morgana - Mas se a sua natureza diz que deve explorar o mundo, ficarei feliz ao vê-lo partir em sua jornada.

Nez e Kiara se entreolharam, surpresos pela resposta.

- Obrigado por tudo, Morgana. - disse o jovem explorador, com lágrimas nos olhos. - Desde o primeiro dia que nos encontramos você foi como uma mãe para mim, e a forma em que você me acolheu durante todos estes anos é algo que não sei como agradecer.

- A Floresta é quem te agradece. - respondeu Morgana enquanto, com delicadeza, limpava as lágrimas do rosto do garoto. - Graças a você e Kiara o meu lar, o nosso lar, expandiu mais do que nunca.

De fato, o azul se tornou uma cor predominante no continente, deixando de ser uma floresta tímida para ser uma região enorme, difícil de ser ignorada.

- Nunca me esquecerei de vocês e da Floresta Azul.

- Sempre estaremos ao seu lado. - Morgana então finalmente deu um abraço de despedida.

Em seguida, as mãos do espírito da Floresta começaram a brilhar em diferentes tons de azul e roxo, e dela surgiram uma rosa, parte azul e parte vermelha, que logo seria um broche único na armadura do jovem.

Nez trajava um peitoral de aço feito a partir da obsidiana encontrada debaixo da floresta. O próprio garoto havia descoberto a existência daquele mineral durante uma de suas aventuras de exploração, e Morgana, com ajuda de Kiara, modelaram o traje perfeito para o menino.

- Vamos, te acompanharei até o exterior. - disse Kiara, referindo-se a parte mais nova da Floresta, onde o azul encontrava o verde das planícies de Kaladin, o reino mais próximo.

Os dois caminharam por horas como costumavam fazer depois dos treinos, que já àquela altura era apenas uma atividade que tinham como hobby.

- Lembre-se, a cidade não é amigável como a Floresta. Os humanos não vão te tratar bem tão facilmente. Fique atento. - Kiara se preocupava pelo seu aluno e praticamente irmão. Aquele momento era mais difícil para ela do que para Morgana. Era duro voltar a se separar de um irmão, mas desta vez pelo menos pôde se despedir.

- Pode ficar tranquila, não vou te decepcionar. Diferente de você, não sou tão medroso. - provocou o jovem, como de costume e os dois riram, mas não tanto quanto de costume.

- Felizmente, para você, devo concordar.

Nos últimos anos, Kiara fez questão de levá-lo a diferentes lugares onde pudesse ter contato direto com a sociedade. Dessa forma conseguiueducá-lo e ensiná-lo tudo o que precisava saber para estar seguro.

Em uma dessas viagens, acabaram se deparando com grupos de assaltantes, que graças a Nez, puderam ser combatidos. Não houve mortes, pois Kiara não matava, por medo. Entretanto, seu aluno lhe mostrou que era possível combater usando uma espada sem causar mal a ninguém, apenas por proteção. A guerreira dos longos cabelos de cachos azulados seria eternamente grata por isso.

Já prestes a chegar ao final do caminho, uma ave passou dando um rasante perto da cabeça dos dois.

- O que foi isso? - Kiara estranhou aquele comportamento.

- Olhe, fumaça! - Nez apontou, chocado, ciente do que estava acontecendo.

Ambos sacaram suas espadas, por reflexo, e Kiara temendo pelo pior, arrancou em disparada na direção do incêndio.

- Morgana! - a guerreira clamava pela amiga, mas sem esperar nenhuma resposta. Na verdade aquilo era um grito de guerra, guerra que pela primeira vez Kiara estava disposta a lutar.

MorganaWhere stories live. Discover now