7.A carta da Itália e o bilhete dourado

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"As pessoas deveriam sair de casa e olhar para si mesmas."Janela Indiscreta, Alfred Hitchcock

Cecília

- Então essa casa...

- É do presidente do clube de filmes da Agata Duarte. Fazer isso na escola parecia muito bobo e infantil para eles. Mas também não é como se você fosse encontrar galões de cerveja e garrafas de álcool no geral por aí. – Eduardo cruza os braços para trás, se parecendo mais com um homem dos anos vinte. – Pelo menos é o que eu deveria supervisionar.

Assinto com a cabeça. É uma casa bem bonita, de dois andares e toda decorada para entrar no tema da coisa. Meus olhos se detêm num objeto relativamente grande e com um formato engraçado pendurado improvisadamente na parede da sala de estar. O que eu imagino ser a cabeça decapitada da estátua do diretor.

Sorrio.

- É claro.

Dou um passo para trás quando um Jason todo ensanguentado surge a minha frente. Disfarço meu susto com um pigarro.

- Está muito bacana. – Comento por cima de todo o barulho mas quando me dou conta, Eduardo não está mais atrás de mim.

Bufo pesarosamente. Penso em como mal cheguei e meus saltos já estão me incomodando. Grace Kelly não se orgulharia nem um pouco de mim.

Passo a analisar a fantasia de todos que aparecem a minha frente. Um Harry Potter. Uma Supergirl acompanhada de um Stormotrooper. Alguém que eu imagino estar tentando imitar uma versão tamanho real do Sansão da Mônica – na teoria não deveria ser tão bizarramente assustador quanto estava sendo na prática.

- Como posso ter te perdido de vista em menos de cinco minutos?! – Eduardo surge atrás de mim.- Eu não sei. Me diga você.

- Vem, vamos comer alguma coisa. – Sua mão automaticamente vai de encontro a minha.

**

Beberico meu refrigerante enquanto observo a cena que está se desenrolando a minha frente há um tempo. Eduardo me encara num olhar suplicante enquanto três de seus alunos o encurralam numa conversa afobada.

Quando consegue se livrar deles e vem até mim, seu semblante é acusatório.

- Eu estava pedindo ajuda ali! – Diz, perplexo.

- Estava muito confortável aqui, obrigada.

Eduardo percorre o cômodo com os olhos. Balança a cabeça.

- Mas eu mereço um pouco de paz.

Coloca seu chapéu enorme na cabeça outra vez.

- Siga-me.

Me desencosto da parede em que estava e sigo seus passos até o outro lado da casa, onde a música está mais alta. Paro ao seu lado.

Alguém está trocando de música e a "pista" se esvazia consideravelmente.

- Você...quer dançar? – Eduardo pergunta.

Não parece haver momento mais oportuno que esse e concordo de leve com a cabeça. Porém meu coração inevitavelmente bate mais forte quando aperto sua mão e o deixo me guiar até o lugar improvisado onde algumas outras pessoas dançam.

Um Papai Smurf comicamente muito magro e uma garota igualmente pintada de azul mas com uma peruca platinada estilo chanel abrem espaço para que passemos. Mas frente a frente, Eduardo e a garota fantasiada de uma das crianças do mesmo filme que Wonka se encaram como se na verdade fossem grandes inimigos. Ela o mede de cima a baixo.

Dizendo que Te Amo [✓]Where stories live. Discover now